sexta-feira, 3 de julho de 2009

Amália Rodrigues, Senhora Amália Rodrigues.


Não costumo fazer posts sobre música.
Não costumo fazer posts sobre grupos musicais.
Não costumo fazer posts sobre cantores.

E é exactamente por isso que hoje vou continuar a não fazer posts sobre música ou sobre cantores. Hoje queria falar-vos de muito mais que um tipo de música, que uma cantora ou que qualquer grupo musical: o Fado e a sua maior intérprete, Amália Rodrigues. Ou melhor, a Senhora Amália Rodrigues.

Se me perguntassem há um ano atrás se gostava de Amália Rodrigues a resposta mais provável seria um rápido "NÃO!".

Afinal de contas qual é o adolescente que gosta de Fado? E da Amália?

Hoje continuo o mesmo adolescente, com os mesmos defeitos e virtudes, mas com um ano de Faculdade e logo na tão bela Universidade de Coimbra. A pouco e pouco fui entrando na tradição académica, fui procurando saber mais e mais... até que cheguei às Serenatas e ao Fado de Coimbra. Daí até ao Fado de Lisboa foi um pequeno clique (no youtube, principalmente...). E daí até Amália ainda mais rápido foi.

Fiquei espantado quando ouvi as músicas dela, quando vi os comentários aos vídeos, quando comecei a sentir o mesmo arrepio que sinto ao ouvir a Balada da Despedida... Aquelas músicas são muito mais do que música.

Muitas vezes procurei entender o que era o Fado. Amália Rodrigues dá-nos a resposta a tudo isto. Se não gostarem do ritmo, se não gostarem da voz (duvido...), se não gostarem de nada daquilo... Oiçam na mesma, quanto mais não seja como fonte de cultura. Prestem atenção à letra.

E agora, "SILÊNCIO, que se vai cantar o Fado!"...



Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Disse-te que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
Disse-te que não sabia
Mas vou-te dizer agora

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na Mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Se queres ser o meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Nao me fales só de amor
Fala-me também do fado
E o fado é o meu castigo
Só nasceu pr'a me perder
O fado é tudo o que digo
Mais o que eu não sei dizer

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na Mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado


Esta música foi, para mim, mais do que uma música. A própria letra deu-me resposta para o que eu procurava. Deu-me a definição do Fado. E deu-ma pela voz da enorme Amália Rodrigues.

Têm ainda outras músicas diferentes de Amália Rodrigues, mas igualmente bonitas e marcantes, como Uma Casa Portuguesa, Lisboa Não Sejas Francesa, Mariquinhas, Nem Às Paredes Confesso...

Mas preferida preferida tenho uma: esta. E, se clicaram nesta última que aconselhei, agora sim: pare tudo. Faça-se silêncio. Por aqui me despeço. Porque se está a cantar o Fado.

21 comentários:

Kikas disse...

Para quem não gosta de fado, para se enteirar sempre há músicas agora com algumas "nuances" de fado, como a nova música do Boss AC com a Mariza.

Mesmo assim, prefiro fados com mais alegria, o que é difícil, já que a tristeza é uma das características do fado.

Eis um que gosto muito e que é dedicado a todos os estudantes:

http://www.youtube.com/watch?v=jwcVr1MWxx8

Anónimo disse...

concordo plenamente. referes, e bem que, devemos ouvir fado nem que seja para nos cultivarmos um pouco e conhecermos algo que tanto nos caracteriza como nação. porque a partir daí é impossível não sentir o arrepio característico e é ouvir, ouvir e continuar a ouvir.
amália é o topo. inigualável. mas mariza reacendeu a chama do fado e é também uma enorme amostra do fado português.

Maldini disse...

"e é também uma enorme amostra do fado português."

Que outro fado existe que não o nosso?

Asus disse...

Num estilo diferente, também acho piada a Deolinda.

Penso que reacendeu aquela coisa do Fado Toninho...

Mas o post está bom. Amália é inigualável...

Asus disse...

Sim, Maldini... mas também se vais dar atenção a essas pequenas incorrecções...

Percebe-se que foi gralha...

Maldini disse...

Já sabia que ias entender o meu comentário como crítica. Não o quis fazer. Apenas foi minha intenção pegar nas tuas palavras para exaltar a importância do Fado na alma de cada português.

Sinceramente não faço ideia se existe Fado noutro país ou não...

Anónimo disse...

isto é ridiculo

Magnífico disse...

Por acaso, só para veres o quão magnífico sou, já gostava de fado antes de ter entrado na Universidade.x) Lembro-me perfeitamente dos programas culturais de Verão que me permitiram conhecer melhor Coimbra quando ainda era uma criança na minha altura do ensino primário. Lembro-me de ir ouvir os "morcegos" cantar fados, na Sé Velha, por baixo do Arco da Almedina, nas escadas do Quebra-Costas e em algumas casas de fados. E digo-vos, são algumas das melhores recordações de infância. Por acaso não faço ideia se ainda existe algum desses programas culturais que acontecem por toda a cidade no Verão.
Mas, pronto, heteronomias à parte, tenho de, ainda assim, salientar a grande diferença que existente entre o fado de Coimbra e o fado de Lisboa. São duas escolas completamente diferentes e eu, apesar de suspeito, prefiro o de Coimbra. Talvez pela característica que a Kikas referiu, a simbologia da tristeza que é representado no fado. O fado de Coimbra, tem muito mais a ver com a saudade incutida no espirito de estudante, pouco mais há para além disso; é a saudade de já ter partido de Coimbra ou mesmo a saudade que já temos apesar de ainda de cá não termos partido, e claro as serenatas às belas das donzelas. Por isso, o fado de Coimbra está virado bastante para a melancolia, nostalgia e contemplação. No entanto, não deixo de o considerar completamente magnífico. O fado de Lisboa, quiçá por estar tão habituado durante anos ao de Coimbra, por norma, não me agrada ao ouvido. Tem temas demasiado banais, há musicas que têm demasiada alegria. O fado não é alegre. Não foi feito para ser alegre. Mas, como em tudo, é apenas a minha opinião. Virão os defensores do fado de Lisboa dizer que o fado nasceu em Lisboa e virão os defensores do fado de Coimbra dizer que o fado nasceu em Coimbra. Ambos dirão que o outro fado não é o verdadeiro fado. Por isso disse, são duas escolas diferentes de fado. Nenhum de nós terá estado vivo tempo suficiente para saber quando e onde nasceu o fado e, sinceramente, não interessa. Interessa o quão intrínseco ele é à nossa própria existência como portugueses. E, sim, Maldini, o fado, como estilo musical próprio, é unico no mundo.

Asus disse...

Nada disso Maldini. Nem sequer foi um comentário feito por mim. Não sou o anónimo que disse isso.

Mas tudo bem, interpretei-o de forma errada. Agora entendi.

Magnífico: não concordo nada contigo. Gosto bem mais do fado de lisboa, talvez por ser de cá.

Explica-me uma coisa, porque deves saber mais disto que eu. No Fado de Lisboa, ao contrário do de Coimbra, pode-se aplaudir?

Foi algo que sempre me fez impressao. só to pergunto porque apesar de ser de lisboa nunca fui sequer a uma casa de fados. espero a tua resposta, Mcnífico!

Magnífico disse...

Não sou grande conhecedor de "regras de etiqueta" do fado de Lisboa, mas suponho que se pode. Aliás, penso que se nota perfeitamente isso. Grandes fadistas, como Amália, Mariza, o grande Carlos do Carmo são fadistas que quase urgem por ser aplaudidos. Se fizeres comigo, como analisei há pouco acerca da carga emotiva em volta de cada um dos fados. Enquanto que o de Lisboa tem uma carga mais positiva, tendo alguns, para não dizer bastantes, tons de exaltação urge por ser aplaudido. O de Coimbra, pelo contrário, é suposto não ser aplaudido. Os fadistas encontram-se a partilhar a sua dor connosco. Qual seria a lógica de aplaudirmos a sua dor? Não aplaudimos, porque partilhamos dela. Não sei se por acaso já estiveste em alguma das serenatas que decorrem na Latada e na Queima, mas é pena o facto de haver pessoas que pensam que deve ser aplaudido e o fazem, sorte nossa a de que são, no próprio momento, assassinados por umas quantas dezenas de olhares fulminantes. Mas, o mais normal, é que há medida que se vai internacionalizando o fado de Coimbra, este passe a ser aplaudido, porque passa a ser como todos, uma forma de espectáculo, a apresentação de algo a um público que lhe é desconhecido. Provavelmente, e espero bem, para salvação da minha sanidade mental, Coimbra seja o ´o primeiro e, nessa altura, último bastião dessa tradição de não se aplaudir o fado, o de Coimbra.

Kikas disse...

Maldini, Fado é só em Portugal. Aliás, não sei se já foi entregue a candidatura mas 2009 era o ano em que estava previsto apresentar a candidatura para o Fado ser considerado Património da Humanidade.

Ah e quanto às "regras de etiqueta" do Fado, lembro-me de quando tinha os meus 8 anos me ter posto a dançar ao som de Fado durante uma actuação, com mais não sei quantos catraios. Que "raspanete"!

Maldini disse...

Asus desculpa. Realmente nem olhei para o nome aquando do teu 1º post. Pensei que tivesse sido o Anónimo na minha convicção de que ele iria reagir da mesma forma pela qual te expressaste.

E sim, penso, também, que o fado de Lisboa é passível de aplauso ao contrário do de Coimbra. Lembro-me de estar numa festa com os meus pais onde iniciei a minha experiência no Fado de Coimbra. Inevitavelmente no fim da 1ª música comecei a bater palmas assim como metade da sala (maioritariamente constituída por malta jovem ou dos arredores de Coimbra). Aí levei um estaladão do meu pai que me disse que o Fado de Coimbra não deve ser aplaudido. E se quisermos manifestar o nosso apreço devemos roncar (opa perdoem-me mas não sei qual é o termo técnico disto; as tecnologias e meios de que disponho não me permitem partilhar o som convosco).

Assim concluo, depois desta linda visão que é o Maldini a roncar.

Mau disse...

Como é que é isso, Maldini? Devemos roncar?

Explica lá, que nunca tinha ouvido falar em tal coisa... Que tal um post sobre os ronco-aplausos?;)

Asus disse...

Obrigado a todos pelas explicações de todos!

Ainda assim, magnífico, acho que deveria haver alguma forma de "aplaudir" tristeza e saudade coimbrã. Não consigo ver aquela música que aqui foi postada (não sei se será a balada da despedida), em que todos os estudantes choram numa serenara, sem que me dê vontade de aplaudir. É triste? Sim, é...

Mas desde quando a saudade e a tristeza que lhe está associada é uma coisa má?

A saudade devia ser aplaudida, se não com palmas de outra forma...

Maldini disse...

Asus lê a minha supra-citação (ahaha)

tenho andado a acompanhar o programa "assim se fala em bom português" :D

Magnífico disse...

Mau a puxar pelos colegas na postagem!

Maldini a tentar melhorar o seu português!

AHAHAH

Brincadeiras à parte, Asus, não é por uma coisa ser triste que é mau. Não está isso implícito. E, penso eu, o próprio silêncio é uma forma de demonstrar o respeito, quiçá das maiores que existe neste mundo e no outro.
Para te dar um exemplo, de algo que li há uns tempos e que considerei bastante louvável foi "When a man bleeds freely for the sake of other people, it is only proper to pretend that you never saw it",é o exemplo de algo que não é mau, que bastante louvável e que, a melhor forma de apreço é mostrar que nunca se viu. Mas, pronto, já são divagações.

A Arte evolui com os tempos. Se, algum dia surgir uma forma melhor de demonstrar o respeito pelo fado de Coimbra, nesse dia, elá será certamente usada por qualquer estudante da sua Academia.

Maldini disse...

Opa o som é tipo quando te engasgas. E não, não é o som do grunhir de um porco a tentar respirar. É aquele politicamente prezável. Que se faz por norma três vezes quando a meio de um discurso sentimos expectoração ou algo que nos impede de falar com o nosso habitual timbre.

Mau-r-à-dona disse...

Alguém que me verifique a veracidade das informações do Maldini, por favor xD

Maldini disse...

Também agradecia que alguém verificasse, porque se assim não se confirmar vou cair para o lado por ter vivido toda a minha vida enganado.

Porém tenho quase a certeza que é verdade, pois nesta serenata vi/ouvi alguns estudantes a incitar essa prática.

Anónimo disse...

sim, é verdade! como que um tossir mas logicamente não exagerado

Magnífico disse...

Fogo! Já estava a imaginar o Maldini a fazer de Chewbacca depois de uma musiquinha :(

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