quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Cruela DEVIL


Para quem gosta da Disney isto não deixa de ser interessante. Os vídeos acabam por se tornar longos mas são divertidos de ver. Estes vídeos são de uma conferência de Josué Yrion na qual se empenha em demonstrar o quão demoníacos podem ser os desenhos animados de Walt Disney.

E se no vídeo há coisas ridículas, também não deixam de ser estranhas as coincidências com nomes e símbolos demoníacos presentes nos desenhos. Mas não só este vídeo nos reporta para estas questões. Há muitas outras teorias da conspiração, como esta.

E agora digam-me sinceramente: se tudo isto não fosse completamente marado e se nós não tivéssemos crescido a ver estes filmes... não faria algum sentido?











terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Jimmy "The Rev" Sullivan

Boa noite Selvagens.

Aqueles que me conhecem melhor sabem que sou um grande Fã de Avenged Sevenfold, a minha banda favorita. Hoje, quando estava a visitar o seu site deparei-me com uma notícia bastante triste, tanto para os Fãs dos Sevenfold como para o mundo da Música. É com bastante tristeza que anuncio aqui no VaiPaSelva que Jimmy Sullivan, mais conhecido como "The Reverend", o baterista da banda, faleceu no dia de ontem com 28 anos e devido a causas naturais. Era considerado um dos melhores bateristas do mundo e também admirado pelas suas capacidades vocais. Gostava de deixar o meu apoio não só à família como também à banda, pois eles perderam um irmão.

Forever in our Hearts Jimmy,

R.I.P

sábado, 26 de dezembro de 2009

VaiPaSelva news


Esta semana veio o Moutinho pedir-me para deixar a Selva. Entendia que a sua imagem se estava a desgastar demasiado e que, portanto, não queria continuar a escrever sentindo que as pessoas já não reagiam com o entusiasmo inicial. Tudo isto porque, segundo ele, a série que está a fazer não está a ter a adesão que esperava.

Foi então que lhe expliquei que achava isso natural porque, por um lado, a série ainda vai muito no início. Por outro, há uma semana entre cada post o que torna tudo muito mais difícil se queremos que a história tenha um seguimento.

É por isso que a série será interrompida de forma a que, quando retomada, possa ser postada com um menor período de tempo entre os episódios.

Foi o noticiário selvagem de hoje ;)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Merry Christmas


Este post está feito desde Segunda-Feira. Sei que corro o risco de que o vídeo que vos proponho passe a ser bastante conhecido entretanto, mas sabia que provavelmente não poderia escrever dia 24 e 25. Por isso vos aconselho este vídeo [basta clicar na imagem para ver] que está, realmente, bastante bom...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

E esta hein?



Um miúdo de 12 anos a ensinar Cristiano Ronaldo!
The sun is yellow
And the sky is blue.
I know these are old
But the feelings are still true.

I wasn't mad.
Anyway I'm becoming.
Madness can still be bad,
But madness is still true.

I had old desires,
They're turning into new ones.
I don't want any new empires,
I'm no dog chasing old fake bones.
However, desires are still true.

I'm not alone,
I do belong to a crew.
I do have a home,
Still, I have a place for you.

Just losing my light
Is a path's halfway
For falling without
Any might.

The sun has gone
And the sky became grey.
Help me God,
All I'll do is pray.

Found a new World,
One that I hadn't seen.
Already not thinking
About the one I could have been.

Still lost it,
Homeless to be.
Can't even enjoy the old World,
So, please, return to me.

Save me from this darkness.
My sanity ray,
Save me from this mess.
So, please, just light my way.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Agora sim, um post sobre o Natal

Estamos aqui no primeiro "Natal VaiPaSelva" e eu não podia deixar de falar um bocado sobre esta altura do ano - tendo um bocadinho de esperança de que vocês partilhem também um pouco do que sentem nesta altura.

Ora lembro-me bem dos tempos em que os meus primos mais velhos me fechavam no quarto do fundo com os mais novos, esperando a chegada do Pai Natal. Depois, aparecia alguém a abrir a porta para dizer a frase tão esperada: "Já está! O Pai Natal já deixou os presentes!". E saímos todos a correr com uma sapatilha calçada e outra junto ao nosso caixote cheio de presentes. Quando chegávamos perto das caixas era normal atirarmo-nos de joelhos pelo chão de madeira encerado e... lá se iam mais umas calças! Mas chegávamos às prendas, finalmente!

Lembro-me também do dia em que um desses meus primos mais velhos nos diz que já tinha visto as nossas prendas ainda antes da hora de abrir os presentes. O Natal passou-se e depois perguntei à minha mãe se de facto o Pai Natal existia ou não. Lembro-me do ódio com que fiquei a esse meu primo e que demorou uns tempos a passar...

E desde esse Natal que metade do encanto se foi perdendo... Sobrou o prazer de estar em família, de ver os meus priminhos mais novos a correr para as prendas da mesma forma que eu o fiz um dia. E aqui nascem uma nostalgia e inveja saudáveis...

Mas o Natal não era feito apenas do Pai Natal. Era muito mais que isso. Era dos momentos com os meus primos à frente da lareira a ver os papéis dos brigadeiros roubados antes do tempo previsto com enorme prazer. Era da felicidade de ver toda uma enorme família ali, reunida numa enorme mesa dentro de uma enorme casa cheia de uma enorme vida. Era da minha vontade de me meter entre os adultos a ouvir as conversas deles.

Hoje em dia o Natal é do orgulho de já um dia ter partilhado coisas com algumas pessoas que foram exemplos para mim e que, infelizmente, partiram. É um dia que, juntamente com essa alegria de antigamente, me enche de tristeza por ver os lugares da mesa sem as pessoas que ainda lá deveriam estar. É um dia em que a alegria e a tristeza se juntam, em que fico a pensar no papel que tenho neste mundo. A pensar nos que já partiram e nos que vieram depois disso. É o momento em que, mais do que nunca, tenho a oportunidade de presenciar esse ciclo da vida [e da morte]. Perderam-se pessoas e a família cresceu. Apesar da alegria por todos os que nasceram, não consigo que esta época me faça esquecer a saudade dos que já partiram.

E com toda a saudade, com toda a alegria e tristeza misturadas num único sentimento que não consigo definir ao certo... vos desejo um Feliz Natal.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Astronautas do Futebol


Boas. Caros selvagens e seguidores do VaiPaSelva, hoje venho falar-vos de "Astronautas do Futebol", mais especificamente de um que todas as semanas, num programa televisivo, me irrita constantemente graças aos seus comentários e à sua análise futebolística. Estou-vos a falar do Dr. Eduardo Barroso (Sporting) que participa no programa "Prolongamento" da TVI24, juntamente com o Dr. Seara (Benfica) e o Dr. Pôncio (Porto). O Dr. Eduardo Barroso, além de ser extremamente teimoso, analisa o futebol de uma maneira muito peculiar, tão peculiar que chega a ser hilariante. Para mim, e certamente para as pessoas que seguem o programa, este senhor é um autêntico anti-Benfiquista e, para mim, o que é demais chega! Uma das suas teorias, e a que mais me irrita é a de ele afirmar com todo o seu saber que o David Luiz é dos piores centrais Liga Portuguesa! Para mim, não apenas por ser Benfiquisata, o David Luiz é fantástico e tem potencial para chegar muito mais longe, embora o Dr. Eduardo Barroso afirme o contrário.

Outras que me irritam bastante:


- o Dr. Eduardo Barroso critica que o Benfica marca a maior parte dos golos de bola parada;


- no jogo Sporting-Benfica, ele reclama o amarelo mostrado ao Polga quando o este entre a pés juntos ao Aimar e este salta para escapar à entrada de Polga. Segundo Eduardo Barroso, como o Polga não toca, não é falta.






Todas as semanas vejo e oiço este senhor dizer que os jogadores do Benfica são uns acabados, que os árbitros favorecem sempre o Benfica, que o futebol praticado pelo Benfica é miserável e sempre, sempre, sempre, que o David Luiz é a maior nódoa da liga! Além de afirmar que tanto o Carvalhal como o Paulo Bento são treinadores bastante superiores a Jorge Jesus.


Não me alongo mais porque tinha matéria para escrever aqui um testamento caros amigos. Apelo a quem vê o programa que deixe a sua opinião, Ah, e quem nunca viu veja só uma vez, porque basta ver uma vez para ver o Dr. Eduardo Barroso "brilhar"


P.S.- reparem também na (tremenda) paciência do Dr. Fernando Seara que passa o programa a ser bombardeado com as teorias do outro mundo do Dr. Eduardo Barroso.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Para meditar


Anónimo Anónimo disse...

SABADO A LUZ VAI GELAR, AI VAI VAI :D

15 de Dezembro de 2009 13:40

Anónimo Anónimo disse...

Força Porto ! Segundo PENTA na minha vida!!

15 de Dezembro de 2009 17:40

Blogger Kikas disse...

É isso aí anónimo!! xD

Quanto ao vídeo, é uma alternativa ao uso normal do preservativo, e olhem que eles até são engenhosos. Tentem fazer uma bola assim tão bem feitinha...

17 de Dezembro de 2009 20:00


Anónimo PMinistro disse...

muitos parabens a todos os benfiquistas. eu gosto muito de vos ouvir a ladrar durante a semana e chegar ao fim de semana e ladrar eu. continuem com as vossas "goleadas"(2-2). ahahah mau e argolinhas, tinha q gozar um bocado xD

13 de Dezembro de 2009 00:36

Sepaktakraw

Vi este video e resolvi partilhar convosco imediatamente.

Tantas vezes jogámos o famoso desporto futvólei, que vim agora a saber que tem o nome de Sepaktakraw, mas nunca imaginei que houvesse gente capaz destas proezas!!

Vejam só esta qualidade

sábado, 19 de dezembro de 2009

Vivó Sporting!


Hoje entro no carro, ligo o rádio e na Antena 1 ouço o comentador eufórico:
- Os jogadores do Sporting festejam efusivamente, Sá Pinto também visivelmente satisfeito!

"Que raio...", pensei eu, "Ia jurar que tinha sido o Barcelona a ganhar o Mundial de Clubes, mas pelos vistos com tanto festejo deve ter sido o Sporting...". E no rádio o comentador continuava:

- Fica Rui Patrício no campo a dar o seu equipamento aos adeptos!

"Fogo... ainda falavam de crise! Os gajos foram campeões do mundo ou coisa que o valha e eu ainda gozava com eles!"

- E agora vamos ter a oportunidade de entrevistar Saleiro, o autor do golo da vitória sobre a... Naval, que permitiu ao Sporting ascender ao 4º lugar provisoriamente, visto que Marítimo e Nacional têm menos um jogo!

"Ah, ok...". E desliguei o rádio, porque não conseguia continuar a conduzir enquanto dava gargalhadas com os festejos dos lagartos...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Natal

Grandes reflexões da minha pessoa sobre o Natal ficam para outro dia. Hoje deixo-vos apenas a frase do grande filósofo e poeta contemporâneo, Boss AC:
"Acho que para viver o verdadeiro espírito natalício devia haver uma lei que fechasse todas as lojas no mês de Dezembro!"
Ora tomem lá ;)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O beijo




(Muda de narrador)


Morfina. Morfina era a sua droga. Apoderava-se da Raquel de uma forma incrível. E isso via-se bem nos seus olhos. Tão forte e tão poderosa que também conseguia absorver o Pedro. Parecia que a droga fazia os mesmos efeitos em ambos: Primeiro, vinha a sensação de relaxamento, depois de euforia. Ria-se com o Pedro, falava com ele. Tudo a fazia feliz. O Pedro, principalmente, porque estava sempre com ela. Nos bons e maus momentos. E da euforia passava para depressão respiratória, constrição muscular e acabava com o Pedro a vomitar a sua própria angústia. E dormia.


Pedro tratava-a admiravelmente bem. Administrava-lhe o sedativo com todo o amor. Limpava-lhe a boca, dava-lhe comida e até rejeitava que as auxiliares limpassem o seu vómito. Era ele que o fazia.

“Juntos vamos conseguir, querida.”
“Eu confio em si, Doutor!”

Pedro nunca fora muito bom aluno à dificílima cadeira de Introdução à medicina. E ,portanto, nunca soubera lidar bem com a relação médico-doente. Misturava sempre sentimentos e nunca mostrava frieza e distância perante o doente. Neste caso, apaixonara-se mesmo por Raquel e isso perturbava-o.

“Como é que me apaixonei por uma pessoa que tem poucas probabilidades de sobreviver? Como isso me aconteceu?” pensava.
“Eu tenho que lhe contar, não consigo guardar isto para mim. Acho que vai ser uma força adicional. E, juntos, vamos conseguir.”

Passou-se uma semana e outra semana, e a Raquel foi estabilizando. Pedro, pensava que chegara a hora indicada para lhe contar. Achava que aquele momento iria-se tornar no ponto chave para a sua verdadeira recuperação.

“Bom dia, Raquel!”
“Bom dia, Dr. Pedro. Hoje Madrugou!”
“Ontem a Raquel adormeceu mais cedo e, como já não tinha mais doentes, decidi ir para casa.”
“E o que o traz por cá tão cedo? Na verdade, ainda não são 7 da manhã”

Pedro, embaraçado, replica:
“Isso pergunto-lhe eu, o que a traz por cá?”

Rita ri-se embevecidamente. O sentido de humor do Pedro deixava-a incrivelmente feliz.

“Sabe, vi um Doutor loiro e de olhos azuis entrar para este serviço. E, enquanto ele vestia a sua bata, decidi meter-me numa destas camas para ver se ele me dava alguma atenção!”
“Até parece que não lha dou!”


“Dá, mas…” E Pedro dá-lhe um beijo. Simples e meigo, prolongando-se por longos momentos.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

E já que estamos numa de preservativos...

...vejam como os usam em África... e depois admiram-se da elevada natalidade!




Agora um pouco mais a sério... é um vídeo fantástico!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Diz não ao preservativo!

Eu sei... o título fez aumentar as vossas expectativas. Mas desta vez têm mesmo de se contentar só com um vídeo ;)
[Os trabalhos e os testes apertam, sobra pouco tempo para escrever ;) ]

«O Benfica perdeu...


... e estou furioso, com vontade de bater em alguém.

Então, como bom membro de Claque, virei-me para a minha mulher e disse:
"Mulher, vai buscar a marreta. Eu preciso dela... e tu também."»

Um bocadinho de humor negro na noite dos vermelhos... sabe sempre bem. Quanto mais não seja para não ter de usar a marreta no meu irmão ou em quem estiver à mão ;D

sábado, 12 de dezembro de 2009

The Curious Case of...

Filipe Pinto. Não conheces? Não sabes quem seja? Pois então fixa bem este nome.

Já tinha ouvido falar num "rapaz que cantava muito bem" nos Ídolos. Já tinha ouvido a história de que ele tinha ido à primeira audição e tinha pedido para não passar. Que não queria passar, só queria ouvir a opinião dos júris, que era arrogante... ontem à noite estive a ouvi-lo com atenção no youtube.

E foi aí que o percebi. Ele não queria passar porque aquele concurso não lhe diz nada, porque quer cantar o que lhe apetecer e ali tem de ser Pop... no fundo, o que ele não quer é ser associado ao típico rapaz "habilidosozito" que vai concorrer a um programa de televisão.

Ontem ouvi-o com atenção, dizia eu... e podem crer que este rapaz não está no sítio certo. Provavelmente até nem ganha o concurso.

Mas façam este exercício: ponham de lado o preconceito de ele estar num programa deste e oiçam-no com atenção. É que ele não só tem uma voz fabulosa como ainda reinventa as músicas que canta. Deixo-vos alguns vídeos. Uns melhores outros piores... e depois digam-me se não tenho razão:








sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sétimo Piso



Acordo. Acordo e vou para o trabalho. São 4h da tarde, e o trabalho é a única coisa que me deixa vivo. Não tenho amigos, nem família. A única coisa que me deixa feliz é poder satisfazer os desejos das pessoas para quem eu trabalho. E isso deixa-me muito feliz, por um lado. Por outro deixa-me triste, pois estou constantemente a perde-las. A minha mãe morreu acabara eu de fazer 4 anos. E ela tem-se tornado o meu exemplo de vida.

Na altura, todos me diziam que a “mamã” tinha ido para um país muito bonito, onde não havia guerra nem sofrimento. Apenas persistia o amor, a paz e a felicidade. Fiquei sempre com estas palavras no meu subconsciente. E tem sido este quem, possivelmente, me tem conduzido pela vida fora. Porque, na verdade, eu não estou aqui. Nem ali.

(…)
“Não consigo mais, não aguento.”
“Tens que ser mais forte, Raquel. Não podes logo desistir!”, dizia eu.
“Mas eu já sofro há mais de 6 meses!! Sinceramente, só me apetece desaparecer! Mesmo.”
(…)
Esta conversação tem-me afectado. Conheço a Raquel há cerca de 4 meses e já não consigo ver esta minha amiga sofrer. Deixa-me transtornado. Tenho pensado e pensado. Matutei tanto que
ontem acordei a suar, após um macabro pesadelo.
Tomo o meu pequeno-almoço, e deixo a pequena tigela no lava-loiça. Ando tão preocupado que já deixei um amontoado de loiça no lavatório. Se as taças fossem andares, eu diria que tinha um prédio de 7 andares no meu lava-loiça. Isto corrói-me!
Pego nas chaves de casa e vou trabalhar.
“Então Pedro, estás bom?”
“Sim, claro”, ripostava eu a uma colega minha. E, cabisbaixo, entrava no elevador, carregando no
7ºpiso.
Não tenho namorada, nem filhos. E poucos colegas se preocupam comigo. Apenas a Rita. Ela é simpática e bonita. Mas, não sei porquê, eu nunca a faria feliz. Acho que não pertenço a este mundo.
“Então, Dr. Pedro, como tem passado? Não o vejo com boa cara. Acordou agora?”
“Sim, dona Albertina. A noite passada foi extremamente cansativa.”
“Pois, imagino que sim!”, disse, esboçando um ligeiro sorriso.
“Não se ponha com mexericos, dona Albertina. Estou-lhe a ser muito sincero.”
“É que o menino, deixe-me dizer, tem estado muito tempo com a menina Raquel. O Dr. Dionísio já o avisou muitas vezes!”
Fiz de conta que não ouvi e segui em frente. Passei o primeiro corredor e o segundo. Terceiro e nada. De repente, e ao pé da casa de banho, vi a Raquel. Sentada, triste e aborrecida. De repente, levanta-se, agarra-se no peixe de mármore que se encontrava mesmo à sua beira, vomita, mais uma vez, e Pedro esboça um murmúrio:
“Esta droga não ajuda nada!”

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Dancem comigo!

Noutro dia, estava eu a ver o 5 Para a Meia-Noite (que já voltou, sim;) ) e eis que alguém manda uma boca sobre o Nuno Markl a dançar no gelo. Riram muito quando se falou nisso... e eu fiquei curioso e procurei no Youtube.

Logo percebi porque estavam eles a rir-se tanto daquilo. Não queria deixar de partilhar convosco:
[A partir dos 2 minutos e 10 segundos é uma chachada... mas até eu conseguia dançar como o Markl!]

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Boas pessoal!

Eu supostamente não sou o selvagem das quartas feiras. Mas, posto hoje para vos informar que as teorias de Moutinho vão sofrer uma pausa, tendo em vista a realizaçao de uma mini serie.

Esta história vai apresentar cerca de 3 a 4 episódios, lançados, igualmente, todas as sextas feiras. O peculiar desta história é o facto, de vocês, visitantes da selva, a poderem modificar/continuar.

A história tem uma linha já pré-definida. Contudo, foi concebida para poder ou não sofrer
alterações, isto consoante as vossas ideias. Será uma Série não do Moutinho, mas sim de toda a Selva.

Eu tenho um tema e, como já vos disse, pode ser alterado. Para além de ajudarem na construção da história, o vosso objectivo passa, de igual forma, pela descoberta do tema inicialmente proposto pelo Moutinho.

Sexta vai ser lançado o primeiro episódio e com ele surgirão todos os palpites e provocações da vossa parte. Espero que gostem e sejam perspicazes:)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Mau, o meteorologista


Hoje acordei com esta novidade:
Na Região Centro esperam-se hoje umas tréguas por parte de São Pedro sendo previstas algumas abertas e uma diminuição de luminosidade durante a tarde. Veremos se se confirma...

Ora de imediato pensei:
"Estes gajos da meteorologia estão-me a dizer que se esperam abertas e depois acrescentam "veremos se se confirma". Isto dá a ideia de que percebem tanto disto como eu..."

Por isso aqui estou eu para fazer a minha previsão meteorológica para amanhã - sendo que esta é mais difícil do que a que foi vaticinada pelos grandes Senhores da Meteorologia hoje visto que, para esperar uma aberta no tempo bastava... abrir a janela e olhar para o céu, para perceber que o tempo até nem estava nada mau!

Mas eu gosto de arriscar, por isso prevejo não para o próprio dia - como aqueles magníficos - mas sim para o dia seguinte! - uma inovação, esta de se fazer previsões não para o presente mas sim para o futuro.

Ora aqui vai, então, a minha certíssima e confiável previsão meteorológica para amanhã:

Para amanhã esperam-se algumas abertas sendo, no entanto, possível que haja um aumento de humidade o que poderia levar a que houvesse uma ocorrência de precipitação através de chuvas fortes - ou fracas. O vento poderá soprar forte ou nem por isso, dependendo da hora do dia e, sobretudo, do local onde se encontre. As temperaturas mínimas possíveis são de 10º e as máximas de 18º. No entanto, o que podemos, através dos estudos efectuados, garantir é que não haverá, com toda a certeza, temperaturas abaixo de - 73º nem acima dos 73º por todo o território Nacional. Por fim, prevê-se uma diminuição de luminosidade durante a tarde. Por incrível que possa parecer, estamos em condições de afirmar que, no território Nacional, esta diminuição de luminosidade vai ocorrer ao longo da tarde até atingir o seu pico quando se atingir um fenómeno bastante estranho e difícil de prever a que chamamos... noite.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tirem-me deste filme!

Uma vez que já não escrevo no blog há algum tempo, tenho uma enorme vontade de partilhar convosco um episódio muito peculiar que marcou de forma profunda a minha chegada ao ensino superior. Como devem prever, um finalista de secundário nada mais anseia do que o ingresso no ensino superior. Isto porque a universidade se trata de um local que nos pode proporcionar alguns dos melhores momentos da nossa vida. Porém, não podemos generalizar esta ideia a todos os cursos universitários.
Como só concorri na segunda fase de ingresso ao ensino superior, vi a minha escolha relativamente aos cursos reduzida de forma significativa. Assim, a minha ideia era entrar no primeiro curso que me aparecesse na ficha de candidatura, para no ano seguinte tentar mudar para o que realmente queria. O curso de História acabou por ser a minha primeira opção por dois motivos: primeiro, a média da primeira fase era pouco superior a 9,5 o que me dava entrada garantida. Depois, como a média de curso era tão baixa, julguei que as pessoas que o frequentavam era pessoal que estava ali porque não tinha condições para estar em mais lado nenhum, ou seja, queriam era ir para a universidade.

"Estudar e tirar um curso? Oh, isso depois vê-se!"

E assim foi. Concorri e entrei em História na Faculade de Letras da Universidade de Coimbra.
Mas eis que chegou o meu primeiro dia de aulas e deparo-me com uma realidade completamente diferente do que esperava.
Para já, 55% da turma que era suposto frequentar até ao final do ano lectivo tinha mais ou menos a idade dos meus avós, ao ponto de eu ter ajudar algumas senhoras a sentarem-se no anfiteatro para assistirem às aulas.

Depois, 40% da turma é de um estilo de pessoas que eu esperava em todo lado menos ali. Pessoas essas que me viam dia após dia a frequentar as mesmas aulas que elas e nem um simpático "olá" foram capazes de me dirigir, excepção feita a uma colega de turma que me olhou de uma forma intimidadora e disse: "és parecido com o meu neto!". Foi o maior sentimento de frustração de que tenho memória.
Nas aulas não se ouvia nada a não ser a voz do Professor(a), tal era o empenho e dedicação com que aquela gente ali estava. Não estavam ainda decorridos 10 minutos da minha primeira aula da sempre interessante cadeira de História da Grécia Antiga e eu já estava a rebentar de vontade de ir congelar a matrícula.

Os outros 5% é aquele pessoal acessível e simpático que nunca apareceu em nenhuma aula.
O limite da minha paciência foi ultrapassado num dia em que, no decorrer de uma aula, tentei simpaticamente dar inicio a uma relação de amizade com o meu parceiro do lado, uma vez que não conhecia ali ninguém. Virei-me para ele e disse:
"Opá esta aula é um bocado seca, acho que o professor podia motivar um bocado mais os alunos..."
A resposta dele foi esclarecedora:
"Está calado e vira-te para a frente!"
Eu ouvi, engoli o que ele me tinha dito, peguei no meu insignificante caderno que estava ao lado de uma montanha de livros do meu colega do lado e fui a correr para a Secretaria.
Congelei a minha matrícula e, ao mesmo tempo, o meu sonho de estar presente em Mega-Convívios com milhares de estudantes normais.
Graças à terceira fase de concurso nacional ao Ensino Superior, consegui mudar para um curso que desejava e posso olhar para a História como um pesadelo ultrapassado.
Por isso, a menos que desejem ter uma semana com um horário com:

Segunda-Feira: Origens do Homem e das Sociedades seguido de História da Grécia Antiga acabando com a sempre agradável Metodologia Histórica.

Terça Feira: Das 8 da manhã às 19 com uma hora de almoço com os nossos (simpáticos) colegas - Origem das Sociedades Complexas, História de Roma Antiga, (hora de almoço), Problemática do Saber Histórico, Paleografia e Diplomática acabando o nosso dia com a estimulante cadeira de... Teoria da História!

Quarta-Feira: dia levezinho (tarde livre) - História da Expansão Portuguesa e História da Idade Média.

Quinta-Feira: Pré-História Geral, História da Família e História do Turismo. - diga-se que neste dia poderíamos dispor de 2 horas de almoço a fazer tricô com as nossas jovens colegas e a jogar dominó com os miúdos!

Sexta-Feira: História da Época Contemporânea e História Contemporânea de Portugal.

Dizia eu, se não querem tudo isto... não vão para História!


PS: Não fui a nenhum jantar de curso, mas consigo facilmente imaginar o meu colega mais jovem com incontinência e a pedir ajuda ao filho (que também certamente já estaria quase sem forças para aguentar a placa dos dentes) para este o ajudar a trocar as faldas do bisneto que tinha ido divertir-se com o vôvô!

Até breve,
il Specisalé

Sonhos Perdidos

1 - A Selva


Selva. O perigo esconde-se à espreita. A qualquer momento, do meio do barulho das árvores a abanarem ao vento, pode surgir qualquer coisa. Um caçador, um animal, até um selvagem ou um canibal.

Assim era quando Vola nasceu. Para ele a Selva era um mistério. Era, ao mesmo tempo, aquilo que mais o assustava e que ele mais desejava. O Vola-de-Neve nasceu numa aldeia perdida algures na Selva. Chamava-se assim porque a mãe, que o fora registar, trocava os B's pelos V's. Nascera pobre, algures num recanto perdido da Selva Africana.

Cresceu com uma bola de trapos nos pés e rodeado de meninos que nasceram na sua aldeia. Foi numa clareira que Vola passou a sua infância e que tantos amigos fez. E foi também aí que conheceu o Patorras e o Sakunga. Sempre foram os melhores amigos e sempre foi o trio que mais brilhava com a bola nos pés: a tripla VPS!

Sempre lhes foi proibido o acesso à Selva. Se queriam brincar podiam fazê-lo na aldeia ou na clareira. Tinham comida trazida pelos pais nos dias de caça e de pesca, um riacho, uma bola de trapos e uma clareira onde podiam jogar futebol. Que mais poderiam querer?

E assim viviam os 3, desconhecendo que o mundo era bem mais que aquela clareira, aquelas casas de pau e aquela Selva tão assustadora quanto tentadora. Mal eles sabiam que tinham um mundo para descobrir, uma vida inteira pela frente...
2 - O homem que deitava fogo pela boca

Foi num dia de sol que eu [Vola], o Patorras e o Sakunga vimos um homem branco. Vinha com qualquer coisa a deitar fogo na boca e com o corpo coberto por umas coisas esquisitas. Falava um língua estranha. Viemos a saber mais tarde que aquilo que o senhor falava se chamava "português". E que o que tinha vestido era a "roupa". E na boca trazia um cha.. chaar... "charuto"!

E foi esse senhor que viria a mudar a nossa vida. O senhor chamava-se João. Passou uns dias connosco e foi-se embora. Mais tarde voltou e instalou-se definitivamente na nossa aldeia. Explicou-nos que inicialmente era um "turista" e que ele era "professor". Nenhum de nós sabia o que aquilo era.

Passados uns tempos com ele já nos entendíamos minimamente.
- João, para que serve a roupa que só tu trazes vestida? - perguntei.
- Serve para duas coisas: para não ter frio e para ficar mais bonito.
- Mas aqui ninguém tem frio e não usa roupa. E para ficar bonitos andamos assim, de tanga. - replicava o Sakunga.
- Ah, já sei! Os brancos têm vergonha de andar como nós porque são brancos! Querem ficar parecidos connosco, mais pretos! - exclamava o Patorras.
- Talvez seja isso, meninos... talvez seja isso. - explicava o João não disfarçando um sorriso.
- E o charuto, João? Para que serve?
- Hmmm... o charuto... O charuto faz mal. As pessoas que fumam fazem mal à sua saúde... À sua e à dos outros! Mas também não sei bem para que serve... Só que, sabes, habituaram-me assim, lá no sítio onde nasci...
- E onde nasceste?
- Em Portugal. Na Europa!
- E lá em Portugal as pessoas andam todas vestidas para ficarem bonitas e fumam charutos para se matarem?
- Hmm... Todas não. Mas muitas sim... - disse o João, pensativo.
- São estranhas as pessoas da tua terra, João...

3 - We have a dream

Um dia, estávamos nós com o João e começamos a ver chegar outros brancos. Pareciam conhecidos do João. Vinham vestidos como ele tinha vindo quando chegou. "Mais turistas", pensei...

Eram, de facto mais turistas. Mas passaram a vir mais e mais... Eles gostavam de visitar a nossa aldeia, sabe-se lá porquê. E foi isso que, um dia, eu perguntei ao João:
- Porque é que os brancos gostam tanto de visitar a nossa aldeia?
- Porque é diferente dos sítios onde eles vivem...
- A selva deles é diferente da nossa?
- Não, Vola... Eles nem têm Selva! Vivem em cidades.
- O que é uma cidade, João?
- Nunca viste uma cidade? Vem comigo, então... Vou-te mostrar umas fotografias da minha terra.
- Umas quê? - perguntei...

Ele não respondeu. Limitei-me a chamar o Patorras e o Sakunga e fomos todos atrás do João.

E esse, posso dizê-lo, foi o dia que mudou a minha vida. Fiquei apaixonado pelas gentes, pelas casas, pelas tradições, pelas histórias que o João nos contava.
- Imaginem, meninos, que há gente que consegue ficar rica a jogar futebol, como vocês fazem... - explicava-nos ele.
- A jogar futebol?! Que fixe... - respondíamos os três com ar sonhador...

E passou a ser esse o nosso sonho: "Um dia vamos jogar futebol numa equipa da Europa e vamos ser ricos e felizes!"

4 - A Prenda


A partir daquele dia passámos a olhar os turistas de uma forma completamente diferente. Cada turista deixara de ser apenas uma pessoa que vinha visitar a aldeia. Cada uma daquelas pessoas podia ser uma porta para o Mundo, para o realizar do nosso sonho: ir para a Europa jogar futebol.

E, um dia, organizou-se um jogo entre turistas e nativos. Eu, o Patorras e o Sakunga brilhámos e fizemos jus ao nome da tripla VPS. Nessa mesma tarde o João vem ter connosco na companhia de um branco. Explicaram-nos que aquele senhor nos tinha visto jogar e que gostava de nos levar para uma equipa portuguesa. Aos 3! Não pensámos 2 vezes e largámos tudo. Fomos apresentados no clube uma semana depois.

Mas antes disso, o João chama-me e diz-me:
- Vola, guarda isto e não digas a ninguém que fui eu que to dei.
- Mas o que é isto? - perguntava eu enquanto me preparava para abrir o embrulho.
- Não abras! Leva-o contigo e nunca o percas. Só te peço que só o abras quando voltares à aldeia, um dia, depois de eu morrer... E mais uma coisa: quando chegares a Portugal vais procurar uma coisa que se chama livro. Pedes ajuda a alguém para to dar. Aí vais perceber porque te ensinei a ler...
- Está bem... - respondi, sem saber muito bem o que pensar daquilo tudo...

5 - O Novo Mundo

Chegámos a um novo mundo para jogar nos escalões jovens desta equipa de topo. Muitos sonhos pela frente numa realidade completamente nova. Instalaram-nos aos 3 no mesmo quarto. Inscreveram-nos, também, na escola.

Já tínhamos aprendido a ler e a escrever com o João, bem como a fazer contas e outras coisas mais básicas. E foi num desses dias de escola que nos deram a conhecer a tal coisa de que o João me tinha falado: o LIVRO!

Lembro-me que mal ouvi essa palavra comecei a ouvir a professora com toda a minha atenção. Ia finalmente descobrir o que havia de tão especial num livro. Porque queria o João que eu procurasse um livro quando cá chegasse?

- O Livro é um amigo - dizia a professora.

"O Livro é um amigo. O Livro é um amigo." Aquelas palavras ecoavam na minha cabeça. No final da aula fui falar com a professora. Queria que ela me desse um livro. Ela foi comigo a uma livraria e deu-me um escolhido por ela.

Nessa noite não dormi. Comecei a ler e não mais parei até que me chamaram para tomar o pequeno-almoço e ir treinar. Tinha descoberto um mundo novo, um poder especial. Tinha finalmente entendido o pedido do João. Ele queria mostrar-me o que de melhor há na civilização: o livro.

Comecei a desleixar-me no futebol. Ao contrário do Patorras e do Sakunga eu tinha descoberto uma nova paixão, tinha renovado os meus sonhos. A partir de agora queria ser professor. Como o João. Queria ler, queria aprender, queria... ensinar outros meninos como a mim me ensinaram um dia.

6 - Três caminhos


Estávamos num treino quando, de repente, vimos um colega nosso a contorcer-se no chão com dores. Tinha-se lesionado gravemente no joelho. Aquela expressão de dor marcou especialmente o Sakunga.

Ao notar o efeito que aquele momento tinha tido no meu amigo decidi levá-lo a uma biblioteca. Mostrei-lhe alguns livros do corpo humano. Leu-os de uma ponta à outra. Depois mostrei-lhe alguns de medicina pensando, sinceramente, que ele não ia achar piada nenhuma àquilo, visto que era uma linguagem muito técnica. Efeito contrário: era frequente ver o Sakunga a chegar ao quarto à noite com diferentes livros debaixo do braço. Todos eles com um tema em comum: medicina.

Assisti, assim, ao nascer de mais um sonho. Todos os dias o Sakunga lia mais qualquer coisa, queria aprender algo mais sobre o tema. Depois começou a aparecer lesionado nos treinos. Ainda hoje desconfio que inventava lesões de modo a aprender com os médicos que o tratavam...

E, assim, anos depois, surgiu o dia que tanto temíamos: o dia da separação. Todos nós tínhamos traçado o nosso caminho.

Eu ficaria em Portugal a estudar para um dia ser Professor de Língua Portuguesa (apesar de não me limitar a estudar apenas Língua Portuguesa, porque senão não poderia cumprir o meu sonho de ensinar tudo como o João um dia fez comigo).

O Sakunga ia para Espanha. Teria de aprender uma língua nova e de adaptar-se a uma nova cidade ainda maior: Barcelona. Iria estudar Medicina, como desejava...

O Patorras continuaria a jogar futebol, como sempre desejou. Não conseguiu ficar na equipa que tinha representado durante todos estes anos. Tinha sido emprestado a uma equipa da 2ª Divisão Italiana.

Foi um dia muito triste e marcante para nós: três meninos que se conheceram no dia em que nasceram e que nunca se afastaram até ao dia em que os seus sonhos os separaram. Assim, sem mais nem menos. Sem certeza, sequer, de que se voltariam a ver...

7 - O Mundo era eu quem o fazia


Durante anos pouco falei com o Patorras e com o Sakunga. A vida tem destas coisas: para se perseguir um sonho temos, por vezes, de deixar a terra que amamos e as pessoas com quem somos felizes.

Eram muitas as vezes que eu, um preto no mundo dos brancos, me via ali encostado à janela de minha casa, a pensar no que tinha perdido para perseguir, primeiro, o sonho de ser jogador profissional e, agora, de ser professor. Sim, tinha saudades de casa, da família. Tinha uma enorme mágoa: a de ter vivido tantos anos na selva sem que a tenha explorado devidamente.

Cumpri o meu sonho de tirar um curso. Tive boas notas. Tornei-me conhecido. Tinha uma boa casa, um bom carro, finanças equilibradas, emprego garantido, salário generoso... e livros. Muitos livros!

Por outro lado olhava para trás e sentia uma lágrima a correr-me pela face. Tinha a vida com que todos sonhavam... todos menos eu. E era comum ficar ali, encostado à janela a sonhar acordado, a chorar um sonho cumprido. Ficava parado com um chocolate na mão e as lágrimas a escorrerem-me pela face, a ver a chuva a cair. E via a chuva a cair mesmo que estivesse um dia de Sol. Porque naqueles momentos eram a saudade, a tristeza, a vontade de partir que me invadiam. E por mais Sol que estivesse na rua não faria sentido eu estar triste e a chorar sem chuva a cair. Por isso, para mim, a chuva caía. E quanto mais Sol estava mais eu a via a cair.

Tinha aprendido que o mundo era eu que o fazia. E conseguia transformar o dia de Sol mais radioso num dia de chuva. Conseguia mesmo. Tudo porque a tristeza tem esse poder... e a saudade também.

8 - A minha primeira carta


Foi em meados de Dezembro que recebi uma carta em minha casa. Vinha em muito mau estado. Parecia ter sido enviada já há bastante tempo e ter percorrido um longo caminho, cheio de moradas erradas até chegar às minhas mãos.

Abri-a, encantado. Era a primeira vez que recebia uma carta... pensei que fosse do João. Logo percebi que não era. Quem me escrevia era alguém em nome dos meus pais. Li a carta. Parei numa frase. Li-a novamente. Li, reli e voltei a reler para ter a certeza de que estava a ler bem.
"O João morreu doente aqui na Selva. Perguntava muitas vezes por ti. Dizia-nos muitas vezes que tu havias de voltar. Pedia-nos que, quando isso acontecesse, te recordássemos da promessa que lhe tinhas feito no dia em que partiste..."

Sentia os olhos, o cérebro, o coração, o corpo a rebentar...

"O João morreu doente aqui na Selva."
"O João morreu doente aqui na Selva."
"O João morreu doente aqui na Selva."

O João... ele que me dera o mundo a conhecer. Tinha morrido sem mim por perto. Tinha morrido sem que eu pudesse estar no funeral dele ou sem que, sequer, soubesse a tempo e horas o que havia acontecido. E agora, que seria das crianças de lá? Quem lhes mostraria o mundo, quem as ensinaria a ler, a escrever... quem lhes mostraria o que era um livro e para que servia? Quem?

Aí, triste demais para chorar, respondi para mim:
- EU.

E lá fora... lá fora começara a chover...

9 - Bom filho...


Regressei a casa. Com o dinheiro que tinha amealhado naqueles anos de civilização levei alguns luxos de que sentiria falta: chocolates, umas bolas de futebol, umas roupas... e muitos livros. Antes de partir tinha enviado duas cartas: uma para o Patorras e outra para o Sakunga a informá-los de que partira e porquê.

Foi emotivo. Já não via os meus pais há anos e anos... aqueles miúdos com quem jogava à bola estavam agora crescidos e serviam de guias na Selva. Conheciam-na como ninguém. Foi graças a eles que cumpri aquela grande vontade de entrar Selva dentro e conhecer os recantos escondidos. Tive tempo desde que voltei. Levaram-me a sítios fantásticos.

Faltavam-me o João, o Patorras e o Sakunga... mas finalmente, de regresso a casa, tinha recuperado a alegria de viver. Jogava futebol com os miúdos e com os graúdos (enquanto o corpo me permitia), conhecia a Selva, lia, sonhava...

Percebi o quão importante tinha sido para mim aquele sofrimento fora da Selva. Não, não tinha sido tempo perdido. Tinha sido tempo de sofrimento, de tristeza, de solidão...

Mas foi também um tempo em que aprendi muito. Aprendi a sofrer, a chorar. E com isso aprendi a dar valor ao sorriso, à felicidade. Aprendi a controlar o tempo: conseguia transformar o mais belo dia de sol no mais triste dia de chuva. E agora, aprendera a transformar os dias de tempestade da Selva em fantásticos dias de sol.

Lembro-me que na minha infância as tempestades me enchiam de medo. A mim e a todos os outros. Agora, tudo isso mudara. Quando havia uma tempestade era dia de festa na Selva.

Juntávamo-nos todos na Casa Grande. Acendíamos uma fogueira e viravam-se todos para mim. Aquecíamos o chocolate que de quando em vez ainda mandava vir para dias assim. E era lindo ver todos aqueles, velhos e novos, brancos e pretos, doentes e saudáveis a olhar para mim em silêncio com o seu chocolate quente na mão e tapados por umas mantas. Só uma voz ecoava entre as quatro paredes da Casa Grande: a minha. E quando eu os embalava e me deixava embalar pela leitura de um novo livro era lindo ver os raios de sol a entrar naquela tenda, pelo meio da tempestade.

Quando parava de ler já uns sonhavam com a história que acabara de contar, outros imaginavam-se parte dela e outros ainda saíam em silêncio para o meio da tempestade que acabara. Já não se sentiam com medo, já não tinham frio, já não estavam tristes...

Todos eles no dia seguinte acordavam a pensar numa frase:
"Porque o Mundo somos nós que o fazemos..."

10 - O regresso


Sinto-me hoje velho e cansado. Mais do que o costume. Chegaram os meus dois amigos de sempre à aldeia: Patorras e Sakunga. Tal como eu chegara um dia, vinham cansados mas felizes. Tinham voltado a casa.

Tal como eu tinham imensas histórias para partilhar. Juntos passámos para a Selva todos os nossos ensinamentos. Explicámos tudo o que sofremos, o quanto tivemos de lutar para conseguirmos aquilo que queríamos. Mostrámos o Mundo a todos aqueles que o quiseram descobrir. Ensinámos a ler e a escrever, mostrámos como um livro podia ser uma boa companhia.

Distribuímos um pouco de nós por cada um daqueles com quem partilhámos as nossas experiências. Missão cumprida. Era uma longa vida, muito cheia de felicidades e de tristezas. Era uma longa vida muito vivida.

Já há muito que sei o que é a prenda que o João me deixara. A cada dia que passa sinto que se aproxima o momento de o partilhar convosco...

11 - No final eu morro


E no final eu morro. Simplesmente porque não poderia ser de outra forma. Não vos quero tristes pela minha morte, não quero que sofram. Morro simplesmente por isso mesmo: porque tem de ser.

Chega, então, o momento de vos revelar o que o João me tinha dado de presente. Aquilo que ele me pedira para abrir no dia em que voltasse à Selva, já depois de ele morrer. Foi o que fiz. Cumpri a promessa e passei anos com a prenda comigo. E só no dia em que voltei, já sem o João por cá, é que descobri o que tinha sido, então, esta tão secreta prenda.

Abri o embrulho. De lá saíram... um livro e uma caneta. Abri o livro: em branco. Havia apenas um curto texto que vocês bem conhecem, logo na 1ª página:

"Selva. O perigo esconde-se à espreita. A qualquer momento, do meio do barulho das árvores a abanarem ao vento, pode surgir qualquer coisa. Um caçador, um animal, até um selvagem ou um canibal.

Assim era quando Vola nasceu. Para ele a Selva era um mistério. Era, ao mesmo tempo, aquilo que mais o assustava e que ele mais desejava. O Vola-de-Neve nasceu numa aldeia perdida algures na Selva. Chamava-se assim porque a mãe, que o fora registar, trocava os B's pelos V's. Nascera pobre, algures num recanto perdido da Selva Africana.

Cresceu com uma bola de trapos nos pés e rodeado de meninos que nasceram na sua aldeia. Foi numa clareira que Vola passou a sua infância e que tantos amigos fez. Foi aí que conheceu o Patorras e o Sakunga. Sempre foram os melhores amigos e sempre foi o trio que mais brilhava com a bola nos pés: a tripla VPS!

Sempre lhes foi proibido o acesso à Selva. Se queriam brincar podiam fazê-lo na aldeia ou na clareira. Tinham comida trazida pelos pais nos dias de caça e de pesca, um riacho, uma bola de trapos e uma clareira onde podiam jogar futebol. Que mais poderiam querer?

E assim viviam os 3, desconhecendo que o mundo era bem mais que aquela clareira, aquelas casas de pau e aquela Selva tão assustadora quanto tentadora. Mal eles sabiam que tinham um mundo para descobrir, uma vida inteira pela frente..."

Logo percebi a ideia: teria de ser eu a continuar a história. E, em memória ao João, mas também em memória de todos aqueles com quem partilhei momentos da minha vida, foi o que fiz. É por isso que digo que morro no fim. Num livro que deve ser escrito até ao fim dos meus dias o final é inevitável.

Morro no fim. Parto, porém, com a certeza de que o mundo somos nós que o fazemos.

FIM

domingo, 6 de dezembro de 2009

Homenagem a Vola, por Patorras e Sakunga

E no final tu morreste. Deixaste-nos muita coisa e, mais que tudo, deixaste-nos a certeza de que o mundo somos nós que o fazemos. Por isso, neste momento triste em que partiste, aqui deixamos a música "Como dizia o poeta", de Vinicius de Moraes, que parece ter sido feita para ti. Tu, que viveste essa paixão da escrita, para todos nós abriste o coração. E de uma coisa podes estar certo: Não vais ser esquecido, não!



"Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá p'ra quem se deu
P'ra quem amou, p'ra quem chorou, p'ra quem sofreu"

sábado, 5 de dezembro de 2009

11 - No final eu morro

E no final eu morro. Simplesmente porque não poderia ser de outra forma. Não vos quero tristes pela minha morte, não quero que sofram. Morro simplesmente por isso mesmo: porque tem de ser.

Chega, então, o momento de vos revelar o que o João me tinha dado de presente. Aquilo que ele me pedira para abrir no dia em que voltasse à Selva, já depois de ele morrer. Foi o que fiz. Cumpri a promessa e passei anos com a prenda comigo. E só no dia em que voltei, já sem o João por cá, é que descobri o que tinha sido, então, esta tão secreta prenda.

Abri o embrulho. De lá saíram... um livro e uma caneta. Abri o livro: em branco. Havia apenas um curto texto que vocês bem conhecem, logo na 1ª página:

"Selva. O perigo esconde-se à espreita. A qualquer momento, do meio do barulho das árvores a abanarem ao vento, pode surgir qualquer coisa. Um caçador, um animal, até um selvagem ou um canibal.

Assim era quando Vola nasceu. Para ele a Selva era um mistério. Era, ao mesmo tempo, aquilo que mais o assustava e que ele mais desejava. O Vola-de-Neve nasceu numa aldeia perdida algures na Selva. Chamava-se assim porque a mãe, que o fora registar, trocava os B's pelos V's. Nascera pobre, algures num recanto perdido da Selva Africana.

Cresceu com uma bola de trapos nos pés e rodeado de meninos que nasceram na sua aldeia. Foi numa clareira que Vola passou a sua infância e que tantos amigos fez. Foi aí que conheceu o Patorras e o Sakunga. Sempre foram os melhores amigos e sempre foi o trio que mais brilhava com a bola nos pés: a tripla VPS!

Sempre lhes foi proibido o acesso à Selva. Se queriam brincar podiam fazê-lo na aldeia ou na clareira. Tinham comida trazida pelos pais nos dias de caça e de pesca, um riacho, uma bola de trapos e uma clareira onde podiam jogar futebol. Que mais poderiam querer?

E assim viviam os 3, desconhecendo que o mundo era bem mais que aquela clareira, aquelas casas de pau e aquela Selva tão assustadora quanto tentadora. Mal eles sabiam que tinham um mundo para descobrir, uma vida inteira pela frente..."

Logo percebi a ideia: teria de ser eu a continuar a história. E, em memória ao João, mas também em memória de todos aqueles com quem partilhei momentos da minha vida, foi o que fiz. É por isso que digo que morro no fim. Num livro que deve ser escrito até ao fim dos meus dias o final é inevitável.

Morro no fim. Parto, porém, com a certeza de que o mundo somos nós que o fazemos.

FIM
Fotografia tirada do site http://olhares.aeiou.pt/

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Error 5 : Teorias de Moutinho


“Sr. Padre, ajude-me.”

“Diga, minha filha.”

“É o Miguel, o meu mais velho”

“Então, o que se passa com o reguila?”

“Ele anda muito estranho, Sr. Padre. O Miguel, ultimamente, anda muito agressivo e mal me fala. Não sei o que se passa! Ontem, chegou a casa e fechou-se no quarto até à hora de jantar. Mal jantou e, mais tarde, bateu no Pedro.”

“No mais novo?”

“Sim, Sr. Padre. Não entendo. Não entendo mesmo. Será que me poderia ajudar?”

“Olhe, minha filha, vou-lhe fazer o seguinte: durante a próxima semana, vou fazer a oração ao Pai, a Jesus Cristo e ao Espírito Santo. E tudo se resolverá, acredite!”

“Ai, muito obrigado, Sr. Padre. Estou-lhe imensamente agradecida.”

De seguida, Dona Maria passa pela caixa de gratificações, pára, tira a carteira e coloca uma nota de 20 euros na abençoada ranhura. Sai da igreja, com uma nova esperança, e regressa a casa.

Padre António, mais tarde, passa pela referida caixa, retira os contributos da semana, coloca-os num envelope e segue, igualmente, para casa.

Entra e senta-se na sua secretária. Abre a porta do pequeno armário e retira o whisky característico. Toma um copo, e mais um copo. Outro, e mais outro. Uma, e outra garrafa. E cai no chão. Redondo, no chão. Redondo, a dormir, com um ar tão angélico que fazia lembrar uma criancinha a dormitar. Mas, de repente, tudo se agita:

“António, vais parar ao Inferno! Vais arder! Vais ser domado por Satanás! E todo o mal que já fizeste com as demais crianças, vais pagar! Uma a uma!”

“Uma a uma”, ouvia António, cada vez mais longinquamente.

“uma a um…”

“uma a u…”

No dia seguinte, acorda, toma banho, veste-se, toma o seu pequeno-almoço e sai de casa, em direcção à paroquia, como de nada se tratasse. Sem qualquer remorso. E continua a sua vida, ajudando as famílias que vai destruindo.



E, tu, ainda acreditas?

O Grande Final

Amanhã. Às 11 horas.

Hoje fiquem-se com o Error: Teorias de Moutinho. A qualquer momento - penso que o "momento" depende de quando o Moutinho acordar depois de mais uma longa noite de Quinta-Feira...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

10 - O regresso


Sinto-me hoje velho e cansado. Mais do que o costume. Chegaram os meus dois amigos de sempre à aldeia: Patorras e Sakunga. Tal como eu chegara um dia, vinham cansados mas felizes. Tinham voltado a casa.

Tal como eu tinham imensas histórias para partilhar. Juntos passámos para a Selva todos os nossos ensinamentos. Explicámos tudo o que sofremos, o quanto tivemos de lutar para conseguirmos aquilo que queríamos. Mostrámos o Mundo a todos aqueles que o quiseram descobrir. Ensinámos a ler e a escrever, mostrámos como um livro podia ser uma boa companhia.

Distribuímos um pouco de nós por cada um daqueles com quem partilhámos as nossas experiências. Missão cumprida. Era uma longa vida, muito cheia de felicidades e de tristezas. Era uma longa vida muito vivida.

Já há muito que sei o que é a prenda que o João me deixara. A cada dia que passa sinto que se aproxima o momento de o partilhar convosco...


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1 - A Selva
2 - O homem que deitava fogo pela boca
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7 - O Mundo era eu quem o fazia
8 - A minha primeira carta
9 - Bom filho...

Fotografia tirada do site http://olhares.aeiou.pt/

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

9 - Bom filho...


Regressei a casa. Com o dinheiro que tinha amealhado naqueles anos de civilização levei alguns luxos de que sentiria falta: chocolates, umas bolas de futebol, umas roupas... e muitos livros. Antes de partir tinha enviado duas cartas: uma para o Patorras e outra para o Sakunga a informá-los de que partira e porquê.

Foi emotivo. Já não via os meus pais há anos e anos... aqueles miúdos com quem jogava à bola estavam agora crescidos e serviam de guias na Selva. Conheciam-na como ninguém. Foi graças a eles que cumpri aquela grande vontade de entrar Selva dentro e conhecer os recantos escondidos. Tive tempo desde que voltei. Levaram-me a sítios fantásticos.

Faltavam-me o João, o Patorras e o Sakunga... mas finalmente, de regresso a casa, tinha recuperado a alegria de viver. Jogava futebol com os miúdos e com os graúdos (enquanto o corpo me permitia), conhecia a Selva, lia, sonhava...

Percebi o quão importante tinha sido para mim aquele sofrimento fora da Selva. Não, não tinha sido tempo perdido. Tinha sido tempo de sofrimento, de tristeza, de solidão...

Mas foi também um tempo em que aprendi muito. Aprendi a sofrer, a chorar. E com isso aprendi a dar valor ao sorriso, à felicidade. Aprendi a controlar o tempo: conseguia transformar o mais belo dia de sol no mais triste dia de chuva. E agora, aprendera a transformar os dias de tempestade da Selva em fantásticos dias de sol.

Lembro-me que na minha infância as tempestades me enchiam de medo. A mim e a todos os outros. Agora, tudo isso mudara. Quando havia uma tempestade era dia de festa na Selva.

Juntávamo-nos todos na Casa Grande. Acendíamos uma fogueira e viravam-se todos para mim. Aquecíamos o chocolate que de quando em vez ainda mandava vir para dias assim. E era lindo ver todos aqueles, velhos e novos, brancos e pretos, doentes e saudáveis a olhar para mim em silêncio com o seu chocolate quente na mão e tapados por umas mantas. Só uma voz ecoava entre as quatro paredes da Casa Grande: a minha. E quando eu os embalava e me deixava embalar pela leitura de um novo livro era lindo ver os raios de sol a entrar naquela tenda, pelo meio da tempestade.

Quando parava de ler já uns sonhavam com a história que acabara de contar, outros imaginavam-se parte dela e outros ainda saíam em silêncio para o meio da tempestade que acabara. Já não se sentiam com medo, já não tinham frio, já não estavam tristes...

Todos eles no dia seguinte acordavam a pensar numa frase:

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

8 - A minha primeira carta


Foi em meados de Dezembro que recebi uma carta em minha casa. Vinha em muito mau estado. Parecia ter sido enviada já há bastante tempo e ter percorrido um longo caminho, cheio de moradas erradas até chegar às minhas mãos.

Abri-a, encantado. Era a primeira vez que recebia uma carta... pensei que fosse do João. Logo percebi que não era. Quem me escrevia era alguém em nome dos meus pais. Li a carta. Parei numa frase. Li-a novamente. Li, reli e voltei a reler para ter a certeza de que estava a ler bem.
"O João morreu doente aqui na Selva. Perguntava muitas vezes por ti. Dizia-nos muitas vezes que tu havias de voltar. Pedia-nos que, quando isso acontecesse, te recordássemos da promessa que lhe tinhas feito no dia em que partiste..."

Sentia os olhos, o cérebro, o coração, o corpo a rebentar...

"O João morreu doente aqui na Selva."
"O João morreu doente aqui na Selva."
"O João morreu doente aqui na Selva."

O João... ele que me dera o mundo a conhecer. Tinha morrido sem mim por perto. Tinha morrido sem que eu pudesse estar no funeral dele ou sem que, sequer, soubesse a tempo e horas o que havia acontecido. E agora, que seria das crianças de lá? Quem lhes mostraria o mundo, quem as ensinaria a ler, a escrever... quem lhes mostraria o que era um livro e para que servia? Quem?

Aí, triste demais para chorar, respondi para mim:
- EU.

E lá fora... lá fora começara a chover...

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5 - O Novo Mundo
6 - Três Caminhos
7 - O Mundo era eu quem o fazia

Fotografia tirada do site http://olhares.aeiou.pt/

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

7 - O Mundo era eu quem o fazia

Durante anos pouco falei com o Patorras e com o Sakunga. A vida tem destas coisas: para se perseguir um sonho temos, por vezes, de deixar a terra que amamos e as pessoas com quem somos felizes.

Eram muitas as vezes que eu, um preto no mundo dos brancos, me via ali encostado à janela de minha casa, a pensar no que tinha perdido para perseguir, primeiro, o sonho de ser jogador profissional e, agora, de ser professor. Sim, tinha saudades de casa, da família. Tinha uma enorme mágoa: a de ter vivido tantos anos na selva sem que a tenha explorado devidamente.

Cumpri o meu sonho de tirar um curso. Tive boas notas. Tornei-me conhecido. Tinha uma boa casa, um bom carro, finanças equilibradas, emprego garantido, salário generoso... e livros. Muitos livros!

Por outro lado olhava para trás e sentia uma lágrima a correr-me pela face. Tinha a vida com que todos sonhavam... todos menos eu. E era comum ficar ali, encostado à janela a sonhar acordado, a chorar um sonho cumprido. Ficava parado com um chocolate na mão e as lágrimas a escorrerem-me pela face, a ver a chuva a cair. E via a chuva a cair mesmo que estivesse um dia de Sol. Porque naqueles momentos eram a saudade, a tristeza, a vontade de partir que me invadiam. E por mais Sol que estivesse na rua não faria sentido eu estar triste e a chorar sem chuva a cair. Por isso, para mim, a chuva caía. E quanto mais Sol estava mais eu a via a cair.

Tinha aprendido que o mundo era eu que o fazia. E conseguia transformar o dia de Sol mais radioso num dia de chuva. Conseguia mesmo. Tudo porque a tristeza tem esse poder... e a saudade também.

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domingo, 29 de novembro de 2009

Elogio a Javi

Há uma coisa que eu gosto num jogador: o espírito de sacrifício com que se entregue ao jogo. Por isso fiz este post. Não por se tratar de um jogador do Benfica. Mas porque acho que jogadores destes merecem.

PS: Hoje no Dragão o Porto marcou o golo da vitória e os adeptos festejaram gritando: SLB SLB SLB Filhos da p... SLB!

Uma pergunta: para quê?

Foto retirada daqui: http://www.abola.pt/

6 - Três caminhos


Estávamos num treino quando, de repente, vimos um colega nosso a contorcer-se no chão com dores. Tinha-se lesionado gravemente no joelho. Aquela expressão de dor marcou especialmente o Sakunga.

Ao notar o efeito que aquele momento tinha tido no meu amigo decidi levá-lo a uma biblioteca. Mostrei-lhe alguns livros do corpo humano. Leu-os de uma ponta à outra. Depois mostrei-lhe alguns de medicina pensando, sinceramente, que ele não ia achar piada nenhuma àquilo, visto que era uma linguagem muito técnica. Efeito contrário: era frequente ver o Sakunga a chegar ao quarto à noite com diferentes livros debaixo do braço. Todos eles com um tema em comum: medicina.

Assisti, assim, ao nascer de mais um sonho. Todos os dias o Sakunga lia mais qualquer coisa, queria aprender algo mais sobre o tema. Depois começou a aparecer lesionado nos treinos. Ainda hoje desconfio que inventava lesões de modo a aprender com os médicos que o tratavam...

E, assim, anos depois, surgiu o dia que tanto temíamos: o dia da separação. Todos nós tínhamos traçado o nosso caminho.

Eu ficaria em Portugal a estudar para um dia ser Professor de Língua Portuguesa (apesar de não me limitar a estudar apenas Língua Portuguesa, porque senão não poderia cumprir o meu sonho de ensinar tudo como o João um dia fez comigo).

O Sakunga ia para Espanha. Teria de aprender uma língua nova e de adaptar-se a uma nova cidade ainda maior: Barcelona. Iria estudar Medicina, como desejava...

O Patorras continuaria a jogar futebol, como sempre desejou. Não conseguiu ficar na equipa que tinha representado durante todos estes anos. Tinha sido emprestado a uma equipa da 2ª Divisão Italiana.

Foi um dia muito triste e marcante para nós: três meninos que se conheceram no dia em que nasceram e que nunca se afastaram até ao dia em que os seus sonhos os separaram. Assim, sem mais nem menos. Sem certeza, sequer, de que se voltariam a ver...

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Fotografia tirada do site http://olhares.aeiou.pt/

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