E no final eu morro. Simplesmente porque não poderia ser de outra forma. Não vos quero tristes pela minha morte, não quero que sofram. Morro simplesmente por isso mesmo: porque tem de ser.
Chega, então, o momento de vos revelar o que o João me tinha dado de presente. Aquilo que ele me pedira para abrir no dia em que voltasse à Selva, já depois de ele morrer. Foi o que fiz. Cumpri a promessa e passei anos com a prenda comigo. E só no dia em que voltei, já sem o João por cá, é que descobri o que tinha sido, então, esta tão secreta prenda.
Abri o embrulho. De lá saíram... um livro e uma caneta. Abri o livro: em branco. Havia apenas um curto texto que vocês bem conhecem, logo na 1ª página:
"Selva. O perigo esconde-se à espreita. A qualquer momento, do meio do barulho das árvores a abanarem ao vento, pode surgir qualquer coisa. Um caçador, um animal, até um selvagem ou um canibal.
Assim era quando Vola nasceu. Para ele a Selva era um mistério. Era, ao mesmo tempo, aquilo que mais o assustava e que ele mais desejava. O Vola-de-Neve nasceu numa aldeia perdida algures na Selva. Chamava-se assim porque a mãe, que o fora registar, trocava os B's pelos V's. Nascera pobre, algures num recanto perdido da Selva Africana.
Cresceu com uma bola de trapos nos pés e rodeado de meninos que nasceram na sua aldeia. Foi numa clareira que Vola passou a sua infância e que tantos amigos fez. Foi aí que conheceu o Patorras e o Sakunga. Sempre foram os melhores amigos e sempre foi o trio que mais brilhava com a bola nos pés: a tripla VPS!
Sempre lhes foi proibido o acesso à Selva. Se queriam brincar podiam fazê-lo na aldeia ou na clareira. Tinham comida trazida pelos pais nos dias de caça e de pesca, um riacho, uma bola de trapos e uma clareira onde podiam jogar futebol. Que mais poderiam querer?
E assim viviam os 3, desconhecendo que o mundo era bem mais que aquela clareira, aquelas casas de pau e aquela Selva tão assustadora quanto tentadora. Mal eles sabiam que tinham um mundo para descobrir, uma vida inteira pela frente..."
Logo percebi a ideia: teria de ser eu a continuar a história. E, em memória ao João, mas também em memória de todos aqueles com quem partilhei momentos da minha vida, foi o que fiz. É por isso que digo que morro no fim. Num livro que deve ser escrito até ao fim dos meus dias o final é inevitável.
Morro no fim. Parto, porém, com a certeza de que o mundo somos nós que o fazemos.
Chega, então, o momento de vos revelar o que o João me tinha dado de presente. Aquilo que ele me pedira para abrir no dia em que voltasse à Selva, já depois de ele morrer. Foi o que fiz. Cumpri a promessa e passei anos com a prenda comigo. E só no dia em que voltei, já sem o João por cá, é que descobri o que tinha sido, então, esta tão secreta prenda.
Abri o embrulho. De lá saíram... um livro e uma caneta. Abri o livro: em branco. Havia apenas um curto texto que vocês bem conhecem, logo na 1ª página:
"Selva. O perigo esconde-se à espreita. A qualquer momento, do meio do barulho das árvores a abanarem ao vento, pode surgir qualquer coisa. Um caçador, um animal, até um selvagem ou um canibal.
Assim era quando Vola nasceu. Para ele a Selva era um mistério. Era, ao mesmo tempo, aquilo que mais o assustava e que ele mais desejava. O Vola-de-Neve nasceu numa aldeia perdida algures na Selva. Chamava-se assim porque a mãe, que o fora registar, trocava os B's pelos V's. Nascera pobre, algures num recanto perdido da Selva Africana.
Cresceu com uma bola de trapos nos pés e rodeado de meninos que nasceram na sua aldeia. Foi numa clareira que Vola passou a sua infância e que tantos amigos fez. Foi aí que conheceu o Patorras e o Sakunga. Sempre foram os melhores amigos e sempre foi o trio que mais brilhava com a bola nos pés: a tripla VPS!
Sempre lhes foi proibido o acesso à Selva. Se queriam brincar podiam fazê-lo na aldeia ou na clareira. Tinham comida trazida pelos pais nos dias de caça e de pesca, um riacho, uma bola de trapos e uma clareira onde podiam jogar futebol. Que mais poderiam querer?
E assim viviam os 3, desconhecendo que o mundo era bem mais que aquela clareira, aquelas casas de pau e aquela Selva tão assustadora quanto tentadora. Mal eles sabiam que tinham um mundo para descobrir, uma vida inteira pela frente..."
Logo percebi a ideia: teria de ser eu a continuar a história. E, em memória ao João, mas também em memória de todos aqueles com quem partilhei momentos da minha vida, foi o que fiz. É por isso que digo que morro no fim. Num livro que deve ser escrito até ao fim dos meus dias o final é inevitável.
Morro no fim. Parto, porém, com a certeza de que o mundo somos nós que o fazemos.
FIM
Fotografia tirada do site http://olhares.aeiou.pt/
8 comentários:
Ele... morre? O pequeno e ingénuo Vola-de-Neve que só sabia dar chutos na bola de trapos morre? E afinal o que foi feito do Sakunga e do Patorras? Acho que tens material para fazer uns apêndices da história, ou uma versão gold só para fãs com o que aconteceu aos dois amigos do Vola.
hô ... acertei no objecto =$
liinndooo este final ... adorei mesmo =))
Como já tinha dito (desta vez tenho a certeza) gosto bastante da forma como escreves, do significado que colocas até no mais 'insignificante' objecto (passo a redundância) mas, acima de tudo, da capacidade que tens de, de forma elaborada, expressar-te claramente (e não, não é graxa, qualquer tipo de redenção e muito menos festinhas no ego).
Confesso, no entanto, que fiquei algo reticente quanto à linguagem com que iniciaste a Es/história mas quanto mais lia mais fácil se tornava perceber que não poderia mesmo ser de outra forma …
Em relação aos Sonhos Perdidos’ a minha única “crítica” é mesmo o facto de ser uma obra assim mais pequenota … (agora que chegou ao fim percebo também porque os posts diários eram tão reduzidos … fazia sentido serem lidos assim) … mas axo que merecia ser mais elaborada e conhecida por muitas mais pessoas =)
Tal como suspeitava … não identifiquei assim tantooosss aspectos na história que pudesse relacionar com os Selvagens mas penso que faz todo o sentido e é até um factor que aumenta o valor do que redigiste (pra mim claro) uma vez que mesmo não tendo conseguido identificar muitas dessas coisas que só a vós diz respeito … fiquei completamente cativada (e era esse um dos objectivos right? Cumprido na perfeição) =)
A minha única pergunta é: porque raio ESTA imagem …
O objecto era fácil de adivinhar B. O que achei fantástico foi o conteúdo do mesmo (que até pode passar despercebido para quem não acompanhou a história desde o início). É para esses que explico e recordo que o que está escrito no livro pelo João é precisamente o primeiro capítulo (http://vaipaselva.blogspot.com/2009/11/1-selva.html).
Daí a genialidade da coisa. Todos nós estivemos a ler a própria prenda que todos queríamos saber qual seria. O Vola [ou o Mau] esteve a brincar connosco desde o início...
Adorei o texto, Mau. Parabéns. Não é fácil arranjar um final para uma história... mas este foi, sem dúvida, muito bom!
E já agora quanto à morte do Vola e o final em aberto quanto ao Patorras e o Sakunga, achei bastante bom também.
A ideia de que o Vola só parte na presença dos dois amigos e com os seus sonhos cumpridos. Parte no final de uma vida cheia. E parte feliz, como queria: a escrever.
Neste caso, a falta de informação que fica deixa-nos asas para imaginar o que acontece com todos os outros. O maldini pergunta o que aconteceu aos outros: aconteceu o que tu quiseres, o que eu quiser. É por isso que acho o final tão interessante.
Uma história fechada com chave de ouro!
E já agora, a frase do costume:
Amanhã às 11? [aka: quando vem a próxima série?]
o angulo e que morreu
Subscrevo em parte o Asus, mas confesso que estava na expectativa de algo mais excitante, se bem que se o 1º "capítulo" foi com o nascimento do Vola e os outros o retrato da sua vida, faria sentido que este fosse o da sua morte.
Mas agora, olhando para todo o "livro", foi um grande "livro", um grande marco na Selva. Digno de várias edições;)
cmo uma vz alguem t disse i eu subscrevo:
"consegui imaginar cda segundo desta historia"
bem bonita..gostei msm..
abraço mau
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