terça-feira, 24 de novembro de 2009

2 - O homem que deitava fogo pela boca


Foi num dia de sol que eu [Vola], o Patorras e o Sakunga vimos um homem branco. Vinha com qualquer coisa a deitar fogo na boca e com o corpo coberto por umas coisas esquisitas. Falava um língua estranha. Viemos a saber mais tarde que aquilo que o senhor falava se chamava "português". E que o que tinha vestido era a "roupa". E na boca trazia um cha.. chaar... "charuto"!

E foi esse senhor que viria a mudar a nossa vida. O senhor chamava-se João. Passou uns dias connosco e foi-se embora. Mais tarde voltou e instalou-se definitivamente na nossa aldeia. Explicou-nos que inicialmente era um "turista" e que ele era "professor". Nenhum de nós sabia o que aquilo era.

Passados uns tempos com ele já nos entendíamos minimamente.
- João, para que serve a roupa que só tu trazes vestida? - perguntei.
- Serve para duas coisas: para não ter frio e para ficar mais bonito.
- Mas aqui ninguém tem frio e não usa roupa. E para ficar bonitos andamos assim, de tanga. - replicava o Sakunga.
- Ah, já sei! Os brancos têm vergonha de andar como nós porque são brancos! Querem ficar parecidos connosco, mais pretos! - exclamava o Patorras.
- Talvez seja isso, meninos... talvez seja isso. - explicava o João não disfarçando um sorriso.
- E o charuto, João? Para que serve?
- Hmmm... o charuto... O charuto faz mal. As pessoas que fumam fazem mal à sua saúde... À sua e à dos outros! Mas também não sei bem para que serve... Só que, sabes, habituaram-me assim, lá no sítio onde nasci...
- E onde nasceste?
- Em Portugal. Na Europa!
- E lá em Portugal as pessoas andam todas vestidas para ficarem bonitas e fumam charutos para se matarem?
- Hmm... Todas não. Mas muitas sim... - disse o João, pensativo.
- São estranhas as pessoas da tua terra, João...


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7 comentários:

Asus disse...

Mau, permite-me fazer uma coisa para os mais distraídos:

Mau disse...

Há uma coisa que não ficou clara para todos, pelo menos pelas mensagens que recebi ontem e que eu gostava de esclarecer:
quando disse que isto representava o nosso grupo não queria dizer que ia contar histórias nossas.

Isto é tudo ficção. O que vos pedia era que não olhassem para o Patorras, o Vola e o Sakunga apenas como 3 amigos mas sim como a representação de todo um grupo.

Depois, um pouco por todo o texto há coisas subtis, como a da mãe do Vola que trocava letras quando falava...

Não procurem na história um personagem que vos representa. Porque não há. De todo. Há pequenos traços, pequenas situações e estados de espírito que já todos sentimos. E nesse âmbito será algo com que vocês se podem rever.

Não faria sentido postar num blog público como o VPS uma história SÓ nossa. Para além de que seria, para mim, quase impossível fazer uma história onde entrasse cada uma das quarenta e tal pessoas que fizeram e fazem parte da nossa equipa...

Achei que era importante esclarecer isto ;)

24 de Novembro de 2009 12:25

Asus disse...

Sei que não vos conheço. Tudo o que sei é daquilo que vocês contam aqui no VPS. Mas acho que lendo o comentário que copiei do Mau-r-à-dona percebo que até na minha vida esta história se inclui.

Eu explico:

Enquadro-me no estilo de homem preto, em primeiro lugar. O homem da selva que pouco conhece e nada sabe. Um dia vem o homem branco da civilização com costumes diferentes e coisas novas.

E quantas pessoas não houve que eu tenha conhecido e que me mostraram coisas novas? São essas o "homem branco", para mim...

Isto poderia parecer um bocado racista mas o Mau acabou por mudar a ideia que estava a deixar inicialmente expondo ao ridículo aqueles costumes do "homem branco", que vem de fora:

" [A roupa] Serve para duas coisas: para não ter frio e para ficar mais bonito."

Aqui mostra a inutilidade da roupa num sítio onde há calor. Parece uma inovação estúpida.

Finalmente, com o charuto mostra ainda mais a estupidez do "homem branco":
"- E o charuto, João? Para que serve?
- Hmmm... o charuto... O charuto faz mal. As pessoas que fumam fazem mal à sua saúde... À sua e à dos outros! Mas também não sei bem para que serve... Só que, sabes, habituaram-me assim, lá no sítio onde nasci..."

Daí eu dizer que me enquadro na história. Porque também eu, como todos vocês, já tive alguém que me mostrasse algo novo. Fosse de bom ou de mau. Mas já houve alguém assim nas nossas vidas...

Asus disse...

E já agora mudemos a perspectiva:
sendo eu o "homem branco" a chegar a um sítio novo e a mostrar aos "pretos" as coisas que para ele eram inovações.

E quantas vezes ao perguntarem-me porque faço algo eu não me sinto estúpido por o fazer? Porque realmente não faz sentido fumar sabendo que charuto serve para:
"fazer mal. As pessoas que fumam fazem mal à sua saúde... À sua e à dos outros! Mas também não sei bem para que serve... Só que, sabes, habituaram-me assim, lá no sítio onde nasci..."

Sim, é preciso alguma abstracção para chegar a estas ideias. Mas apenas fiz o que o Mau pediu no comentário que copiei para aqui.

E todos nós já olhámos com espanto os nórdicos que vinham para cá com calções e manga curta quando nós andamos de cachecol...

Mau-r-à-dona disse...

Haja alguém que entenda!xD

Obrigado, Asus ;)

Sim... a ideia era mesmo essa. Quantos de nós já não ficaram espantados com os maus costumes de um gajo de viseu ou dos bons de um de oliveira do hospital e vice-versa?

Quantos de nós já não aprenderam com isso?

Aris-tof disse...

Bom post e boa interpretação do Asus. Esta história tem tudo para dar certo. Já há data para o próximo episódio? Estou a começar a entrar no ritmo...

Aris-tof

Mau disse...

E já agora que se fala em estrangeiros... o Maldini acaba de comprar bilhetes para ver o Barça-Inter...

Mau disse...

Ah... quanto ao próximo episódio pode ser já amanhã, Aris ;)

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