quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

3 - Inércia / Inertia, por Carlos Marques

Já que é a primeira vez que vos escrevo mais pessoalmente, gostava de me apresentar: o meu nome é Carlos Marques e vivo como jornalista. Digo que vivo como jornalista porque para mim o jornalismo não é uma profissão, mas um modo de vida. Esteja ou não a trabalhar, não posso deixar de falar com as pessoas, de as ouvir, de aprender com elas.

Hoje no café cruzei-me com um tipo curioso. Enfermeiro. A certa altura perguntei-lhe se era feliz. Eu sei que é uma pergunta pouco usual, mas faço-a sempre que posso porque normalmente gera uma reacção surpreendente.

Ora esse tipo diz que mudou radicalmente a forma de ver a vida. Diz que é menos feliz que há uma semana e muito mais que há dois dias. Pelo meio parece que leu um livro que o fez pensar. Que o fez ter consciência.

É a primeira vez que me dizem que odeiam um autor porque ele lhe ensinou alguma coisa. Mas este tipo odeia-o genuinamente. Defende que a consciência é o mal de todas as coisas e que, por isso, desde há dois dias decidiu não mais ler, não mais aprender, não mais pensar.

É isso mesmo: ele diz-me que se considera feliz porque, apesar de consciente, vive e viverá inconscientemente. O pensamento que o guia é o de que quanto mais se aprende mais se sofre. Que conhecimento traz infelicidade.

Inércia. O que se pede é inércia. Se nenhuma força te for aplicada deves manter-te no teu estado natural, seja ele o repouso ou o movimento rectilíneo uniforme.

E é isso que ele faz. Evita as forças (o conhecimento, a aprendizagem) para poder aproveitar a vida tal como ela é (no seu movimento rectilíneo uniforme).

Diz-me o Mário que a partir de hoje viverá no seu estado natural.

Sem estudar.

Sem ler.

Sem aprender.

E, agora digo-o eu, o Mário viverá sem viver.

Carlos Marques

1 comentário:

Anónimo disse...

«Uma vida que não é examinada não merece ser vivida»
Sócrates

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