terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

8 - Chora! / Cry!, por Álvaro Nuno


Que sentir ao ouvir o choro de um bebé?

Entendo que uma resposta apressada possa levar a palavras como aflição, incómodo, tristeza ou preocupação. Mas se pararmos para pensar, logo veremos que aquele choro é sinal de felicidade. Façamos um simples exercício:

Quantas vezes vimos o pequenote da família a chorar?
Quantas vezes vimos os nossos pais a chorar?
Quantas vezes vimos os nossos avós a chorar?

É verdade: o número de lágrimas é inversamente proporcional à idade de uma pessoa. “Porque nos tornamos fortes”, dir-me-ão. “Porque, como bons e experientes lutadores, temos de estar preparados para sofrer”.

Não.

Nós deixamos de chorar simplesmente porque a fonte começa a secar. Não porque nos tornemos fortes, não porque sejamos lutadores experientes. Pelo contrário: a ausência de lágrimas revela resignação, fraqueza, aceitação do inevitável sofrimento da vida. E quanto mais ela [a vida] passa mais essa resignação aumenta, mais essa fraqueza que para muitos é força cresce, mais essa tristeza sobeja.

O choro de um bebé deve ser símbolo de alegria, de vida, de pujança, de esperança. Deve ser o grito de revolta que procuramos manter durante toda a vida. 

E que bom que seria que, anos passados, pudéssemos continuar a chorar daquela forma.

Seria a irrefutável prova de que a vida não nos teria vencido.
Álvaro Nuno

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