domingo, 17 de fevereiro de 2013

5 - Uma vida normal / An ordinary life, por Ricardo Pires

Sempre tive uma vida normal.

Digo-o com prazer: adoro a minha vida. Posso lembrar todos os momentos como se os estivesse a viver agora mesmo. Bem… para dizer a verdade eu consigo, de facto, vivê-los neste preciso momento, se quiser. É uma dádiva, eu sei.

E, por falar em memórias, eu lembro-me sempre daquele juiz: “Ricardo Pires, você é considerado culpado de homicídio”.

Homicídio. Eles dizem que eu sou um assassino. Assassino da única mulher que amei em toda a minha vida. Não podem entender o quão absurdo é o que dizem. Tão absurdo que naquele momento eu percebi que não valia a pena explicar-lhes o que aconteceu na realidade.

Eu estava rotulado: para eles nunca iria passar de um assassino. De um louco. De um doente trancado neste hospício.

“Para garantir a segurança da sociedade”!

Fantástico.

Deixem-nos pensar o que quiserem.

Eu sei a verdade e a minha mulher também. Isto é o mais importante.

Porque, na realidade, façam eles o que fizerem…

Nunca me vão conseguir prender em lugar algum.

A minha alma deixou o meu corpo há muitos anos atrás. E graças a isso eu e a minha mulher vamos continuar a ser livres. Mesmo que o meu corpo esteja encerrado naquele hospício e o dela num caixão sete palmos abaixo da terra.

Por isso, sim, somos livres.

E continuaremos a ser.
Ricardo Pires

I have always had an ordinary life.
Yes, I think I can say it: I love my fucking life. I remember all the moments as if I was living them right now. Well… actually I can live those moments right now, if I want. It is a gift, I know.
I remember that judge so many times: “Ricardo Pires, you are considered as culprit of murder”.
Murder… they say I’m a murderer. Murderer of the only woman I have ever loved in my life. They cannot understand how absurd this shit is. When I heard those words from judge’s mouth I understood that it was not worth to explain them what happened in fact.
For them I’m just a murderer.
I’m just a mad, a sick person locked in this “madhouse”.
“To guarantee the safety of our society”.
Amazing.
Let them think what they want.
I know the truth and my wife knows it as well.
In fact they can make me everything…
but they will never be able to lock me anywhere.
My soul left my body many years ago. And me and my wife will keep leaving in freedom, even if my body is closed on that madhouse and hers six feet under.
Yes, we are free.
And we will always be.

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