Mais um. Bebo mais um e depois faço-o. Pronto. É agora ou nunca:
Beba um copo comigo. Preciso da sua simpatia.
Vejo que esta declaração lhe desperta espanto. Nunca teve uma súbita
necessidade de simpatia, de auxílio, de amizade? Sim, com certeza. Eu
aprendi a contentar-me com a simpatia. Encontra-se mais facilmente e,
depois, não nos impõe nenhum compromisso.
Uau!
Sempre quis chegar a um bar, sentar-me ao pé de um
desconhecido e dizer isto. É fantástico, não é? Reconheceu? As palavras
não são minhas. Foi Camus que as escreveu. Gostei tanto delas que as
repito mentalmente desde esse dia, mas nunca tinha tido o atrevimento de
as usar. Até hoje.
Quer que lhe diga uma coisa…? Não sei bem ao certo porque
queria vir ter consigo e dizer-lhe isto. No fundo acho que gostava de
ser parte daquela história, de me sentir no desconcertante absurdo de
Camus. Gostava de ver a reacção de alguém no mundo real àquela frase que
me soou tão bem naquela noite em que a lia.
Tem toda a razão. E sabe que mais? Acho que estou
satisfeito. Ou talvez não. De qualquer forma já tive tudo aquilo que lhe
pedi. Não é todos os dias que nos dão aquilo que pedimos, sabe?
Precisamente,
precisamente! Vejo que também gosta de ler… bem, mas não incomodo mais.
Agradeço-lhe imenso o que me deu. Transformou mais uma noite escura no
mais belo amanhecer.
Com a sua licença…
Sim? Ah, isso… ainda não acabei. Talvez um lho possa contar!
Álvaro Nuno
Sem comentários:
Enviar um comentário