quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

4 - Chama / Flame, por Álvaro Nuno

Quando dois aventureiros se cruzam, o presente só pode ser tão bom quanto impossível o futuro.

Cruzam-se algures num canal de Copenhaga, numa viagem de barco. O frio gela pulmões e penetra nos ossos. Eles são os dois únicos sentados do lado de fora da cobertura.

Não se conhecem mas a necessidade que sentem de viver a viagem sozinhos, de cabelos ao vento e a tremer de frio faz com que ajam como se se conhecessem há anos. Ela tira uma fotografia a si mesma e ele oferece-se para lhe tirar a seguinte.

Nessa foto ficaram os olhos verdes, cabelos claros e sorriso gravados para a posteridade. Como que cegos de amor, no instante seguinte abraçavam-se aqueles dois desconhecidos tão conhecidos e trocavam um beijo apaixonado antes mesmo de saberem o nome um do outro.

Da margem não pode ter passado despercebido aos pintores o quadro fantástico que à sua frente se desenha: ele, moreno e barbudo; ela de olhos verdes e cabelo claro. Ele e ela viajantes solitários a transformarem ambos os “eus” num “nós” de cabelos ao vento com Copenhaga como fundo, amantes de um momento eterno como o seu amor…

Para a história fica uma fotografia a que ele nunca terá acesso. Uma fotografia com ela de olhos verdes em chama. Com a chama de um amor tão verdadeiro que não teve sequer tempo de acontecer.

Álvaro Nuno

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