Quando dois aventureiros se cruzam, o presente só pode ser tão bom quanto impossível o futuro.
Cruzam-se algures num canal de Copenhaga, numa viagem de barco. O frio gela pulmões e penetra nos ossos. Eles são os dois únicos sentados do lado de fora da cobertura.
Não se conhecem mas a necessidade que sentem de viver a
viagem sozinhos, de cabelos ao vento e a tremer de frio faz com que ajam
como se se conhecessem há anos. Ela tira uma fotografia a si mesma e
ele oferece-se para lhe tirar a seguinte.
Nessa foto ficaram os olhos verdes, cabelos claros e
sorriso gravados para a posteridade. Como que cegos de amor, no instante
seguinte abraçavam-se aqueles dois desconhecidos tão conhecidos e
trocavam um beijo apaixonado antes mesmo de saberem o nome um do outro.
Da margem não pode ter passado despercebido aos pintores o
quadro fantástico que à sua frente se desenha: ele, moreno e barbudo;
ela de olhos verdes e cabelo claro. Ele e ela viajantes solitários a
transformarem ambos os “eus” num “nós” de cabelos ao vento com Copenhaga
como fundo, amantes de um momento eterno como o seu amor…
Para a história fica uma fotografia a que ele nunca terá
acesso. Uma fotografia com ela de olhos verdes em chama. Com a chama de
um amor tão verdadeiro que não teve sequer tempo de acontecer.
Álvaro Nuno
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