sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A arte de regatear [Made in Tunis 02]


Como ia dizendo no último post, os tunisinos utilizam todas aquelas palavras estúpidas e sem sentido de forma a conseguirem captar a nossa atenção. Quando o conseguem já é tarde demais... para nós, claro!

Se fores ingénuo aposto que sais de perto dos vendedores com um enorme cheiro a cartão de crédito queimado. Porquê? Porque vais comprar óculos Ray Ban por apenas um euro, umas camisas Hugo Boss por 10 euros e uma fantástica mochila da Diesel por 15! Obviamente que a Tunísia é a capital da contrafacção e que todos os vendedores se auto-denominam de "Pirata genuíno" e defendem que as suas mercadorias são contrafacções mas as originais! E são capazes de reclamar contigo porque estás a negociar o preço de uma fantástica camisa Hugo Boss que cá comprarias por 10 vezes mais!

E sim, lá negocia-se o preço. Mas em TUDO! Mais: lá negocia-se tudo de tudo... exemplos? A coisa começa assim:
"- Quanto custa?
- 100 dinares.
- O quê?! 1 dinar é o que isso vale!
- 90. Isto muito trabalho. Boa qualidade!
- Nem pensar. Muito obrigado. - e o turista vira costas para se ir embora.

Mal encarado o vendedor chama o turista e propõe com maus modos:
- Ok. 50 dinares e já estou a perder dinheiro! [Note-se a estupidez da coisa: os vendedores nunca perdem dinheiro, como é óbvio. Quando vêem que deixa de compensar simplesmente decidem não vender. Por isso esta lógica do vender uma coisa e dizer que está a perder dinheiro é fantástica... deve ser porque é um amigo nosso de infância que nos faz um preço especial, com certeza!]
- 10...
- 20!

E quando chega a este ponto há duas hipóteses:
a) O turista decide não comprar. O vendedor insulta-o, chama-lhe forreta, "português pobre", diz que "Portugal está na bancarrota" e que os portugueses são isto e mais aquilo...

b) O turista compra. Nesse caso o vendedor vende-lhe a mercadoria e depois insulta-o na mesma, chama-lhe forreta, "português pobre", diz que "Portugal está na bancarrota" e que os portugueses são isto e mais aquilo..."
E passamos a vida nisto. Mas quando digo que é para tudo é MESMO para tudo. E lá tudo pode ser vendido. Outro exemplo:

"Está um senhor a martelar numa coisa de ferro. Uma turista aproxima-se e pergunta:
- O que está a fazer com esse martelo? Parece giro...
- A gravar o nome numa pulseira. Quer uma pulseira com o seu nome em Árabe?
- Ah, não obrigada!
- Então a pulseira sem nome. Olhe é bonita!
- Não, a sério. Obrigada - diz a turista a tentar escapar-se.
- Mas veja mais coisas na loja! Compre! Olhe, aqui! - o vendedor deixa a peça que está a fazer e sai da loja atrás da turista, de martelo na mão - E o martelo? Compra o martelo! Bom preço, bom preço!"

Convencidos? Não?! Então vou contar-vos uma última para vos mostrar como é MESMO uma doença, este necessidade de regatear tudo...

"Estava eu na praia. Vem o animador do Hotel a gritar "Voleibol!!!". Levantei-me da toalha e fui jogar. Estava farto do convívio com tunisinos que passavam a vida a tentar enganar-me com estas negociações irritantes. Sim, queria um bom jogo de volei para descontrair. Com os turistas que não me iam tentar roubar.

Enganei-me. Faltavam dois jogadores e por isso tiveram de jogar dois tunisinos, um de cada equipa. A certa altura gera-se a confusão:
- 14/18. - diz um dos tunisinos.
- Não! Está 14/14!
- Nós temos 18!
- Mentiroso! Têm 14, estamos empatados!
- No máximo têm 15!
- No mínimo temos 17, aldrabão!
- 16, então?
- Combinado. 14/16!
- Ok. Podem jogar!

Não, não podiam. Ficou a faltar um jogador porque eu mal ouvi isto tive um ataque e só parei no mar, debaixo de água e sem ninguém a regatear à minha volta..."

2 comentários:

Kikas disse...

Abençoados Marroquinos...devem ser uns anjinhos e santinhos ao pé destes, e ainda nos queixamos...somos mesmo pobres e mal agradecidos!

Titi disse...

post brutal!!!

tnhu aqui uns montes d entulho d umas obras.. sera q se for para la ainda faço uns trocos?? =D

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