Decidi mudar de casa. Primeiro, a minha casa é muito pouco arejada e, segundo, tem um grande problema: não tenho rede. Como é que é possível??? Por isso, peguei nas minhas coisas e comecei à procura de uma stanza para mim, enquanto tento alugar o apartamento que já tinha pago anteriormente (uma grande confusão – é esta a minha vida nestes dias...).
Enquanto fazia uma pausa na minha vida de Jorge Mendes, decidi ir ao supermercati per trovare alcun cosa per mangiare. Quando me dirigia para casa vi três pessoas a olhar para um affitassi, escrevendo num caderno o respectivo número do telemóvel do inquilino. Nisto, perguntei:
- Sei italiano?
- No, no!
- Sei spagnolo?
- MouRinhooo!!
- Não posso! Como vos fui encontrar?!
- Já te ando a ligar desde ontem, mas tu tens sempre o telemóvel desligado!
- Não, por acaso está bem ligado, mas eu não tenho rede em casa e ontem só sai um pouco para ir à faculdade…
Tinha acabado de encontrar os meus amigos de Lisboa: due ragazzi e une ragazza. Eles não podem partilhar o meu “piso” porque só ficam em Nápoles durante seis meses – e eu fico um ano. Portanto, decidimos ir a minha casa deixar as coisas que tinha comprado e fomos procurar apartamentos. Vimos dois, mas para a história fica só um:
Eram 17 horas e já tínhamos ligado três vezes para a pessoa que tinha combinado mostrar-nos o apartamento. Estava presa no trânsito, disse-nos. Ficámos à espera dela em frente a um palazzo vicino a la piazza Luigi Mariglia. Era realmente um prédio muito bem arranjado, com porteiro e, acima de tudo, era limpo – se vivessem em Nápoles iam aprender a dar valor a isso.
Passado uns breves instantes, lá chegaram a dona do apartamento e outras duas pessoas. Tinha mesmo valido a pena tal espera. Fomos cumprimentados pela dona do apartamento, com os seus 65 anos, pela filha, Maria Laura, talvez uns 26, e uma amiga, que pouco importa para história – apesar de ser um pedaço a considerar.
“Sorry, but wasn’t my fault”, desculpava-se Maria Laura.
Eu nem respondi. Apenas pensava: de onde é que isto saiu?!?!?!
Não podia fazer qualquer tipo de comentário, pois mal conhecia os rapazes e a rapariga.
- Andiamo, andiamo! – guinchava a velha que irritava até aos cães que vagueavam pelas ruelas!
Entrámos no prédio, subimos até ao 1º piano e entrámos no verdadeiro palácio. Eu estava maravilhado com o que estava a ver: Uma casa enorme, super moderna, com dois quarto duplos, uma casa de banho com hidromassagem, duas varandas enormes (uma dum quarto virado para a rua e a outra que ligava a cozinha com o primeiro quarto, virada para o terraço interior do prédio), duas televisões enormes, fogão, placa vitro cerâmica… BELLISSIMA!
Foi então que comecei a falar com a Maria Laura:
- How much is this flat?
- 1000 euros, 250 per person
- With condominio?
- Yes, more gas and electricity. It will be 80 euros by 2 months…
Expliquei a minha situação, dizendo que estava noutro apartamento mas que queria mudar para mais perto e para um local com melhores condições. Ela foi muito simpática comigo e perguntou-me onde eu estava. De seguida, sem eu estar à espera, diz:
- Can I see your apartment? I want to live here, near this place.
- But my flat is for two people!
- Yeah, don’t worry. I’ll see with my friend.
Nisto ela tropeça e quase que cai para cima de mim (isto eu não vi, foi-me dito por um dos rapazes). “Mas porque raio esta rapariga quer ver o meu apartamento, visto que tem aqui uma casa espectacular?”, pensava eu.
Continuámos a ver os pormenores da casa e ela vem atrás de mim:
- Where you came from? What are you studying?
Eu, sinceramente, estava mais preocupado com a casa do que com ela, mas aquilo estava-me a perturbar!
Quando saímos da casa, ela pergunta-me:
- How old are you?
- 20.
- Do you want take a coffe now?
- Erm… yes… – “mas não era para ver a minha casa? Onde eu me fui meter…”
- Olhem, alguém que venha comigo ver a casa com ela. Estou com medo que me roube ou me tire algum rim. É que já me aconteceu uma historia um pouco estranha aqui em Nápoles… Olha, vem tu, que andas no kickboxing – dizia eu para um deles.
Ele não se importou, até porque ela era maravilhosa: talvez das raparigas mais bonitas e mais compostas que alguma vez havia observado na minha vida!
Fomos tomar o café, ela pagou-me e fomos para a minha casa. Nada de outro mundo se passou. Apercebeu-se de que eu estava um pouco receoso, viu a casa e disse que não era bem aquilo que estava à espera de encontrar. Na verdade, a casa não se comparava à da mãe dela.
Saímos e fomos ter com os outros dois. Não sei o que se passou, estava super nervoso: primeiro, porque não sabia o que uma rapariga daquelas pretendia da minha casa, depois porque Nápoles não é propriamente uma cidade segura e, por fim, não sabia o que ela via em mim para confiar tanto e ir ver uma casa que nem sequer era minha, sendo ela napolitana, ainda por cima!
A história que vos conto não tem um final feliz, mas pode vir a ter. Porquê? Porque antes de sairmos do palácio real, ela deu-me o número dela. Independentemente de ficar ou não com a casa, vou-lhe mandar um messagio!!!
PS: No fim de tudo, e quando já estávamos de volta aos nossos negócios, o rapaz do kickboxing disse me assim:
-Mas tu ouviste bem o que ela disse lá em casa?
-O quê?
-Ah quando aqui fizerem festas convidem-me…
-Estava tão nervoso que parte das coisas que ela dizia não conseguia ouvir!
-E viste o que a outra amiga fez à Maria Laura quando saímos do café?
-Não… O quê?
-…