sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

11 - Reinar, por Sousa



Desculpe? De simpatia?

Aah, ok! Não, não sei do que está a falar…

Pois então só pode ter gostado do que viu. Posso dizer-lhe que achei a situação meio absurda, mas não pude evitar o sorriso. No fundo acho que todos nós precisamos dessa simpatia, não é?

Claro que sei… e permita-me interrompê-lo um bocadinho: já o dizia aquele rei do Principezinho, que se ele ordenasse a um general que voasse de flor em flor como uma borboleta, a culpa de o general desrespeitar a sua ordem seria do próprio rei. Por isso, a regra para bem reinar é simples: só se pode exigir a uma pessoa o que ela pode dar. E foi precisamente o que fez comigo, ao pedir simpatia e não amizade…

Mas espere! Afinal como é o resto da história desse livro do Camus?

E agora pensando, acho que o engraçado é que mais depressa se dá amizade a alguém que pede simpatia do que simpatia a quem chega e pede amizade. Estranha ordem das coisas, estranha complexidade humana… e estranha sensação a minha. Sinto-me como se tivesse começado um livro e parado com muitas páginas ainda por ler.

Sousa 

10 - Preciso da sua simpatia, por Álvaro Nuno

Mais um. Bebo mais um e depois faço-o. Pronto. É agora ou nunca:

Beba um copo comigo. Preciso da sua simpatia.
Vejo que esta declaração lhe desperta espanto. Nunca teve uma súbita necessidade de simpatia, de auxílio, de amizade? Sim, com certeza. Eu aprendi a contentar-me com a simpatia. Encontra-se mais facilmente e, depois, não nos impõe nenhum compromisso.

Uau!

Sempre quis chegar a um bar, sentar-me ao pé de um desconhecido e dizer isto. É fantástico, não é? Reconheceu? As palavras não são minhas. Foi Camus que as escreveu. Gostei tanto delas que as repito mentalmente desde esse dia, mas nunca tinha tido o atrevimento de as usar. Até hoje.

Quer que lhe diga uma coisa…? Não sei bem ao certo porque queria vir ter consigo e dizer-lhe isto. No fundo acho que gostava de ser parte daquela história, de me sentir no desconcertante absurdo de Camus. Gostava de ver a reacção de alguém no mundo real àquela frase que me soou tão bem naquela noite em que a lia.

Tem toda a razão. E sabe que mais? Acho que estou satisfeito. Ou talvez não. De qualquer forma já tive tudo aquilo que lhe pedi. Não é todos os dias que nos dão aquilo que pedimos, sabe?

Precisamente, precisamente! Vejo que também gosta de ler… bem, mas não incomodo mais. Agradeço-lhe imenso o que me deu. Transformou mais uma noite escura no mais belo amanhecer.

Com a sua licença…

Sim? Ah, isso… ainda não acabei. Talvez um lho possa contar!

Álvaro Nuno

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

9 - Tempo / time, por Carlos Marques

Não, hoje não venho para escrever. Venho só pensar contigo. 
Imagina como seria a tua vida se soubesses a data precisa da tua morte. Seria mais feliz? Não sei… no fundo a morte é a única certeza da vida. Faria assim tanta diferença saber o segundo em que iríamos morrer? 

Sabes, eu cada vez mais me convenço de que todos tendemos a viver com os olhos postos no futuro. O que fazemos hoje deve fazer sentido amanhã. E, por isso mesmo, eu acho que seria impossível a qualquer pessoa viver da mesma forma tendo a certeza absoluta de que a sua vida acabaria amanhã pelas 17:23:55. 

É… como disse Bartol “todos pensamos demasiado no futuro e assim o presente continua a escapar-se-nos". Talvez devêssemos preocupar-nos mais com o dia de hoje. Sob pena de que mais tarde, quando já mais futuro não houver com que nos preocupar, estejamos condenados a olhar para um passado que não foi verdadeiramente vivido…

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

8 - Chora! / Cry!, por Álvaro Nuno


Que sentir ao ouvir o choro de um bebé?

Entendo que uma resposta apressada possa levar a palavras como aflição, incómodo, tristeza ou preocupação. Mas se pararmos para pensar, logo veremos que aquele choro é sinal de felicidade. Façamos um simples exercício:

Quantas vezes vimos o pequenote da família a chorar?
Quantas vezes vimos os nossos pais a chorar?
Quantas vezes vimos os nossos avós a chorar?

É verdade: o número de lágrimas é inversamente proporcional à idade de uma pessoa. “Porque nos tornamos fortes”, dir-me-ão. “Porque, como bons e experientes lutadores, temos de estar preparados para sofrer”.

Não.

Nós deixamos de chorar simplesmente porque a fonte começa a secar. Não porque nos tornemos fortes, não porque sejamos lutadores experientes. Pelo contrário: a ausência de lágrimas revela resignação, fraqueza, aceitação do inevitável sofrimento da vida. E quanto mais ela [a vida] passa mais essa resignação aumenta, mais essa fraqueza que para muitos é força cresce, mais essa tristeza sobeja.

O choro de um bebé deve ser símbolo de alegria, de vida, de pujança, de esperança. Deve ser o grito de revolta que procuramos manter durante toda a vida. 

E que bom que seria que, anos passados, pudéssemos continuar a chorar daquela forma.

Seria a irrefutável prova de que a vida não nos teria vencido.
Álvaro Nuno

domingo, 17 de fevereiro de 2013

7 - Inconsciência / Unconsciousness, por Mário Carvalho

Na inconsciência. É nela que reside a felicidade.

Para quê interrogarmo-nos sobre o sentido de algo que não o tem? Se a vida tivesse sentido, porque é que toda ela nos encaminharia ao seu oposto? Não há, na vida, sentido. Porque vivemos com a finalidade inevitável da morte.

É, portanto, na ausência da reflexão que reside a verdadeira felicidade.

Nada do que faço é feito por uma razão.
Simplesmente é feito.
Nada do que faço é feito com um objectivo.
Mas faço-o.

Que felicidade me traria procurar compreender o incompreensível? Procurará, porventura, uma pedra saber porque existe? Procurará uma pulga entender o seu papel no mundo?

Então para quê procurar arranjar motivo para andar, para respirar, para pestanejar? O mundo não tem de ser explicado. A vida também não.

Toda a vida é um cortejo.
Deixemo-nos, portanto, levar
neste passo fúnebre
rumo a um caixão
frio e cheio
de escuridão.

Mário Carvalho

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