sábado, 18 de dezembro de 2010

Sabem quando...

Sabem quando os dias se tornam tão cheios que não sobra tempo para os descrever?
Sabem quando vivem tantas coisas que se torna imperioso não as esquecer?
Sabem quando dormem 3 horas porque sentem que cada segundo de sono é tempo a perder?
 
Sabem, durante 5 meses construí uma casa: no primeiro mês preocupei-me com a parte invisível. Construí a base mais segura possível. Foi penoso, porque os resultados não eram mensuráveis. Depois, começou a estar pronta para que eu pudesse juntar-lhe os tijolos. 
 
Aí minha casa foi crescendo, crescendo, crescendo... continua a crescer.  De vez em quando divirto-me a saltar do topo da casa e a dar uma volta voando por aí fora. Cumprimento o arco-íris que às vezes aparece, molho-me na chuva mas tenho sempre o Sol no horizonte. A minha casa estará inacabada até ao dia em que eu me vá deste mundo. E mesmo aí, quem sabe, alguém a continuará por mim.
 
Esse é o desejo, essa é a esperança. Não tenho nada a mostrar nem a acrescentar ao mundo dos outros. Mas ao longo destes meses tenho conseguido ver de um lugar cada vez mais alto, graças a cada tijolo da minha casa, o que me permite acrescentar tudo ao meu mundo. E, claro, de quanto mais alto espreito, mais longe a vista alcança.

Hoje encontro-me cheio de vôos por esses caminhos fora. Com uma quantidade de tijolos que era, para mim, impensável há bem pouco tempo. 
 
Seja cada tijolo uma experiência, cada voo um sonho, cada espreitadela do topo da casa uma esperança. Seja o arco-íris o resumo do que sinto na hora em que a despedida se aproxima. Seja cada gota de chuva o que já me fez chorar e que em breve me fará rir. E seja o Sol o que me fez rir e que provavelmente me fará chorar. Seja a minha casa um enorme plano de uma vida sem planos, de um aproveitar de tudo até que as forças se esgotem. De um "tornar infinito enquanto dure", de um "sentir tudo de todas as maneiras". Disse-me um dia um amigo chamado Álvaro de Campos, que "a melhor maneira de viajar é sentir". E, caramba, como eu sinto o suor de cada tijolo, de cada pingo de chuva, de cada raio de sol,  de cada cor do arco-íris, de cada voo a partir de minha casa.
 
Já falta pouco para que parte de mim regresse a Portugal. Mas, felizmente, do topo da minha casa eu poderei ver o Mundo todo...

3 comentários:

Mafalda Delgado disse...

Numa palavra: espectacular!
Também pus muitos tijolos na minha nos últimos tempos. Afinal, eu preciso de ver pelo menos dois continentes.
Bom regresso a casa escritor:)
Baijinho

Anónimo disse...

:) e é lindo, voar pelos teus olhos
G.

Titi disse...

Deve custar mesmo muito regressar mas também fazes falta por cá ;)

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