Sublinhados, apontamentos, marcadores, dedicatórias… cada
livro que tenha pertencido a outra pessoa transmite muito mais do que o conteúdo
das suas linhas. Esses livros falam-nos dos seus antigos donos, mostram-nos de
que frases mais gostaram, revelam-nos aquilo que mais os entusiasmou.
Ao estudar um livro antigo falo com todos os que o possuíram,
com todos os que nele deixaram uma marca. Faço-o com o ingénuo e egocêntrico
deleite de quem acredita que as marcas foram feitas especificamente para meu
próprio gozo.
Hoje perdi-me no enorme prazer de falar com alguém que partiu.
Entrei no antigo escritório, peguei em cada um dos velhos livros e eis que num
deles encontrei um trevo de quatro folhas consumido pelo tempo a servir de
marcador.
Um trevo cinzento guardado num livro já empoeirado de tanto
repouso. Pronto para ser descoberto por quem procurasse falar com o dono anterior.
O trevo; quatro folhas; ali, a entregar a um neto a prenda de
um avô que partira com a certeza de que ele um dia o iria procurar.
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