segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A sesta




Sublinhados, apontamentos, marcadores, dedicatórias… cada livro que tenha pertencido a outra pessoa transmite muito mais do que o conteúdo das suas linhas. Esses livros falam-nos dos seus antigos donos, mostram-nos de que frases mais gostaram, revelam-nos aquilo que mais os entusiasmou.

Ao estudar um livro antigo falo com todos os que o possuíram, com todos os que nele deixaram uma marca. Faço-o com o ingénuo e egocêntrico deleite de quem acredita que as marcas foram feitas especificamente para meu próprio gozo.

Hoje perdi-me no enorme prazer de falar com alguém que partiu. Entrei no antigo escritório, peguei em cada um dos velhos livros e eis que num deles encontrei um trevo de quatro folhas consumido pelo tempo a servir de marcador.

Um trevo cinzento guardado num livro já empoeirado de tanto repouso. Pronto para ser descoberto por quem procurasse falar com o dono anterior. O trevo; quatro folhas; ali, a entregar a um neto a prenda de um avô que partira com a certeza de que ele um dia o iria procurar.

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