domingo, 15 de maio de 2011

Bar da FEUC

 
Ontem dava por mim a ler o livro Espaços Perdidos, Coimbra e a pensar o que teria acontecido desde então para que os cafés deixassem de ser os espaços de calorosas discussões entre os estudantes. Não há, pelo menos para os alunos da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), um'A Brasileira ou um Arcádia. Mas talvez isso tenha uma explicação: o facto de a Faculdade ter um bar incorporado.

Acho que ninguém sabe muito bem o nome do bar em que o grupo se encontra sempre que tem aulas. "Bar do Sr. Carlos", "Bar da Feuc" ou simplesmente "Bar" são os nomes não oficiais. O oficial é coisa que não interessa para os relatos...

Estamos no ano de 2011, último ano do curso para o grupo que havia de dar forma a um dos carros do curso de Gestão deste ano. Quem chega à faculdade, mesmo que atrasado para as aulas, costuma subir as escadas e dar uma espreitadela ao grupo que se encontra no bar àquela hora. Se for de manhã é vulgar ver o Jorge na varanda a tomar o seu café, impaciente por se ter sentido obrigado a acompanhar a namorada, Carolina, em mais uma aula de madrugada. Obviamente que não pode entrar logo às 8h da manhã, razão pela qual faz o seu pequeno intervalo para repor energias. É um pouco mais tarde que o grupo se começa a compor.

A Sara, a Carolina, o Jorge, a Sequeira, as Beas, a Carla, a Mariana são quase sempre das primeiras pessoas a dar forma ao grupo, embora por razões diferentes. Os elementos femininos porque não se deixam seduzir pelos lençóis e se conseguem levantar da cama para enfrentar as duríssimas aulas da manhã. O elemento masculino, porque - para mal dos seus pecados - tem de acompanhar o seu par...

Não seria justo para ninguém se não se referisse que, durante este semestre, também eu sou sempre dos primeiros a chegar. Não seria MESMO justo que não se referisse a disciplina mais conhecida no seio do grupo: Sociedade Portuguesa Contemporânea, com aulas na Quinta e Sexta-Feira às 8 horas da manhã. Não pensem que ela se tornou famosa por ser do interesse do pessoal. Não. O que acontece é que só eu é que a escolhi - sim, sou mesmo a única pessoa do meu curso a fazê-la - e, perante o horário, é inevitável que o pessoal me moa a cabeça com isso...

Ou seja, é raro ver, de manhã, o grupo todo reunido. Mais: é até bastante raro ver o grupo todo reunido. O dia em que isso costuma acontecer é às Terças-Feiras, quando o pessoal tem aulas das 8 da manhã às 8 da noite. Dia cansativo, hem?

Pois ele começa como de costume. O grupo da manhã vai-se compondo - nestes dias juntam-se, aos já referidos, o Pê, a Inês, o Barreto, o Pedro Costa, o Janeiro, a Rita, a Ana Isabel, a Marta, a Íris (muito de vez em quando), a Sofia, o Digas, o Paulo, a Catarina, o Ventura... até que atinge o seu auge por volta das 14 horas, já com o almoço tomado.

É por essa hora que o grupo começa a ganhar alma. Com a chegada do Pipo, do Mica, do Carlos, do Chefe Leal e do Duarte - que são contra qualquer aula antes das duas da tarde - começa o grupo benfiquista a formar-se. Chegam também o Adriano e o Avé, do contingente sportinguista. Ah, claro, e O Político Chico Có, a cantar pelo seu "Mágico Braga".
Quando estes se encontram reunidos é vulgar surgir uma onda de terror. Está, por vezes, a conversa bastante animada, quando se vê, ainda ao longe, um enorme dossier com pernas a surgir nas escadas. O pânico é instantâneo. As pessoas dispersam, fazem-se distraídas, tentam sair às escondidas... todas as estratégias já foram tentadas. É que por trás do dossier está a Sequeira, que é tesoureira do carro da Queima. E neste grupo estão os maiores fornecedores do mesmo, tal é a quantidade de multas por atraso nos pagamentos que acumularam.

Mas todos eles acabam por ceder. É que as aulas já recomeçaram e mais vale voltar ao bar e pagar mais uma multa, do que entrar naquela coisa horrível a que chamam "sala de aula". Fica então quase completo o clã do futebol. Mas a discussão não começa sem uma música solenemente cantada a plenos pulmões, que anuncia a chegada do Pedro e que deixa um bar cheio de gente em silêncio a olhar com ar escandalizado para os colegas mal-educados que já nele se sentem como em sua casa:

PEDRO MARQUES BELÍSSIMO!
PEDRO MARQUES FANTÁSTICO!
ÉS A NOSSA FÉ!
PEDRO MARQUES ALÉ!!!

Estão compostas as equipas: eu, Pipo, Duarte, Mica, Ventura Leal e Carlitos, pelo Benfica; Adriano, Avé e Barreto, pelo Anti-Benfica; Pedro Marques, Pê e Digas, pelo Porto; e o Chico Có Político, pelo Braga. O penalty que foi e o que não foi, o árbitro que é super-dragão, o Xistra, o Olegário, o Falcao, o Hulk, o Cardozo, o Roberto, o Zbordém (essa é a fase em que o pessoal relaxa e se ri um bocadinho)... os temas da actualidade desportiva são avaliados jogada a jogada, com as repetições imaginárias dos lances a acalentarem discussões bem acesas. Está lançado o mote para uma tarde de aulas bem passada...

Quando o tema deixa de ser futebol entram em acção o Pipo e o Carlos. O Pipo é mais exuberante, o Carlos mais discreto - embora certeiro, mesmo mortífero nos comentários que faz. O Digas não se faz rogado e entra na conversa com a sua análise do significado do desvio de um olhar ou de um cruzar de pernas. É que ele é "como o professor de Estratégia: não anda nesta vida só por andar!".

Já a tarde vai longa quando eis que aparece, no seu único dia de aulas semanal, o grande Boy, orgulho de todo um curso. Famoso pelos belíssimos cozinhados que faz em tachos de primeiríssima qualidade, é recebido com mais um caloroso aplauso, que deixa todo o bar mais uma vez escandalizado com a falta de educação daquela gente. Não raro ouve-se a música O BOY NA DG, agradecida pela personagem principal da mesma com os braços no ar e um V triunfante feito com os dedos.

Com a presença dos três grandes políticos do grupo (Chefe Leal, Chico Có Político e Boy) o tema passa para a política. Aí o divertimento habitual é bater no Sócrates e em toda a porcaria que fez nos seus anos de Primeiro-Ministro. Como bater numa pessoa que não está lá deixa de ser divertido, tudo se faz para trazer o Jorge para a conversa e aproveitar para lhe moer a cabeça por causa do argumento "ele é mau mas os outros são piores".

As 18 horas aproximam-se e o pessoal começa a dispersar. É que a essa aula não se pode mesmo faltar. Quem a não tem vai para casa descansar e preparar-se para a noite que se aproxima, quem a tem vai ter de a gramar. E é com sonoros lamentos do Pê a dizer "que dia puxado, hoje", que todos entramos, cabisbaixos, no Anfiteatro 2.2...

Nota: Pela primeira vez na história do VaiPaSelva são utilizados os nomes reais dos intervenientes. Mas num texto que pretende gravar para a posteridade três anos de curso com enormes discussões à mistura, esta homenagem tornou-se essencial.

sábado, 30 de abril de 2011

Faz a tua [Queima]


Há um ano atrás, neste mesmo dia, fazia aqui um post a elogiar os cartazes da Queima das Fitas 2010. Pois parece que a análise desses cartazes vai virar tradição...

No ano passado a aposta foi em frases fortes aliadas a uma simplicidade gráfica. O preto e o branco sobre um fundo negro eram quanto bastava para o impacto ser (maior que) o esperado. Este ano a aposta foi outra.

O choque parece ter sido a aposta para 2011: as conjugações de cores (o fundo amarelo com as letras vermelhas é o melhor exemplo) e os desenhos a conferirem segundos sentidos acabam por deixar o conteúdo das frases para um plano secundário.

Quanto à minha opinião é simples: estas frases são menos marcantes que as do ano passado. Mas não me parecem menos válidas. Um cartaz no estilo do ano passado com a frase (deste ano) "Queima: Faz a tua" parece-me um cartaz apelativo. Um cartaz que, como acontece, associa à frase o Bob Marley remete para o segundo significado relacionado com a droga.

O mesmo para o cartaz com o Michael Jackson e a frase relacionada com o escândalo da pedofilia: "A Queima não é para meninos". Ou mesmo a belíssima frase "Traz um amigo também", onde era desnecessária a politização que lhe é colada com a imagem do grande Zeca Afonso.

Posso ser eu o careta. Mas continuo a ser fã da simplicidade: branco no preto e com frases fortes. Acho que a aposta no choque e nos segundos sentidos acabaram por tornar uma campanha que seria positiva numa campanha em que as piadas de mau gosto imperam. 

PS: A propósito da Queima convém ainda dar os parabéns pela dinamização do seu Facebook oficial durante este ano. Foi, sem dúvida, uma mais-valia e uma animação nesta preparação para a grande semana. Ah... e parabéns também pela grande quantidade de actividades (e dos seus cartazes) promovidas. Nota-se a evolução na organização de ano para ano!





Arte de Rua


Esconde-se normalmente sob o vulto da criminalidade e é, por isso, pouca a atenção que na Europa prestamos a este tipo de coisas. É óbvio que é crime andar a pintar as paredes das casas. E é também óbvio que isso tem de ser punido e combatido. Mas se passearmos pela Lapa prestando atenção às paredes vemos coisas tão bonitas que nos fica a dúvida se aquilo será ou não autorizado pelas autoridades locais. Esta é uma dúvida que ainda não consegui esclarecer: o que vemos pela Lapa são paredes cedidas para que as pessoas possam expressar a sua arte ou são os próprios artistas que se dão asas à sua criatividade nas mesmas?

Como dizia acima, em muitas cidades este tipo de arte de rua é visto como uma coisa suja. Talvez no Rio o seja também, daí a falta de pessoas a olhar para ela com um olhar diferente. Felizmente, graças à já referida A Alma Encantadora das Ruas (neste post), eu pude olhar para aquelas paredes de uma maneira diferente.

Quando viajamos pelas ruas da Lapa durante o dia temos a oportunidade de ver enormes paredes com pinturas grandiosas, belas, imponentes. É por lá que vemos dos mais diversos tipos de “quadros ao ar livre”:

Uma parede, outrora branca, hoje pintada de forma a imitar a fachada de um prédio – e que, do outro lado da estrada, causa uma ilusão de óptica engraçada, porque engana de verdade.

Outra parede, velha e cheia de pinturas degradadas, na qual sobressai uma: estão representadas diferentes pessoas, umas dançando, outras jogando futebol, outras brincando, fazendo ginástica, andando de bicicleta… e com uma dedicatória “ao povo carioca”.

Ainda outra pintura, com uma mulher grávida sentada a tocar viola e a cantar. Ao lado, o artista Selarón, com uma frase da sua autoria e um quadro na mão que diz:

“Viver na favela é uma arte.
Ninguém rouba.
Ninguém escuta.
Nada se perde.
Manda quem pode.
Obedece quem tem juízo”.

Uma outra, fantástica, com um miúda de castanho a olhar para nós de ar assustado e com um rolo de fotografias aberto ao seu lado, com três crianças a sorrir.

Ou aquela pintura que começa na parede, passa pelas portas e continua do lado seguinte da parede, onde se vê um homem a tocar viola e palavras coloridas por trás a exultar a lapa, a liberdade, as raízes do povo carioca.

A que, em tons de azul, com as casas a negro e a cinzento conta com palavras soltas como Paz, Amor, Vida, Tempo… e duas pessoas no cimo das casas, de mãos dadas e a cantar com o céu azul como fundo. Uma tem um coração na mão, a outra aponta para o ar, no qual se levantam palavras coloridas. Esta tem um poema no canto, que tinha um poema de Uriel Coelho Barbosa chamado “Tempo”, no qual se lia:

“Tempo que vai e volta
Tempo da vida
Tempo de beber, comer e morrer
Tempo que passa pelos nossos olhos.”

É esse o nosso tempo. No Rio ou em qualquer outra parte do mundo. Mas no Rio, e estando apenas num programa de intercâmbio, o tempo é tão curto que passa pelos nossos olhos a uma velocidade impressionante. E que pena seria sair do Rio sem aproveitar estes autênticos museus ao ar livre que são os das pinturas anónimas espalhadas por toda a cidade…

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Havia dúvidas?


Um conselho: deixem os nacionalismos radicais (que só revelam no que não interessa) e desfrutem de um dos melhores jogadores da história do futebol.

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