quarta-feira, 4 de julho de 2012

Confissão de um Erasmus desesperado



Confesso, eu CONFESSO! Nunca fiz Erasmus na vida. Sempre o quis fazer, mas por uma razão ou por outra acabou por nunca acontecer. Não consigo guardar mais este segredo para mim, desculpem. É mais forte que eu.

Já me conhecem: sou um verdadeiro caos. Tudo aquilo em que toco se torna uma enorme confusão. Foi por isso, com tristeza, que um dia informei todos os amigos, através da internet, que os meus planos de ida para Erasmus tinham fracassado.

Vocês sabem bem o que se seguiu: a minha fama provocou uma onda de festividade que me custou a aceitar. Os comentários a gozar, os cânticos com o meu nome quando chegava à Universidade… foi essa pressão que me fez dizer-vos que era tudo não passava de uma brincadeira. Que era óbvio que iria para Erasmus e que o que escrevera na rede social era apenas uma mentira para ver a vossa reacção.

Começou aí o meu trabalho de dissimulação. Só não contava que me conhecessem tão bem e que fossem tão geniais ao ponto de desencadearem uma investigação. Pelo sim pelo não, tirei uma foto de despedida, ainda na Universidade. Achei que seria suficiente, mas logo me apercebi de que não bastava.

A primeira semana passei-a fechado no quarto cá em Coimbra. Depois percebi que havia gente a vigiar a porta de minha casa e optei por sair mascarado pelas traseiras, com óculos escuros, gabardine e um chapéu. Fui para a Figueira e por lá fiquei fechado o restante tempo. A minha vida social resumia-se ao Facebook e aos telefonemas para a Telepizza, para que me viessem entregar o almoço e o jantar a casa, não fosse dar-se o caso de continuar a ser vigiado – é bom que se explique que deixava o dinheiro à porta para que o “entregador de pizzas” não me visse.

Inventei tudo: exames, disciplinas, problemas académicos… estava tudo a correr optimamente. Até à Académica ir ao Jamor. Essa foi a minha perdição. Vocês já começavam a estranhar eu não ter nem uma foto no estrangeiro, não ter um único amigo estrangeiro no Facebook, não ter, sequer, uma palavra em inglês para quem quer que fosse. Até acreditaram (a custo, bem o sei) que eu tinha tido uma sorte tão grande que me permitiria vir à semana da Queima porque calhava precisamente durante um período de interrupção lectiva na universidade para onde supostamente teria ido.

Mas a Académica… essa tornou-se mesmo difícil de ultrapassar. É que este meu plano não contava com o Jamor, que querem que vos diga?! Esta minha paixão pela Academia Coimbrã tornou-se a minha desgraça: já tinha inventado uma interrupção lectiva e o Jamor era passadas duas semanas. Que diabo haveria eu de inventar? Optei por dizer que tinha a Queima, na semana seguinte teria todos os exames e que, sorte do tamanho do mundo, voltava para Portugal precisamente no dia anterior à final do Jamor (em que a Academia da qual sou sócio se viria a sagrar vencedora da Taça de Portugal).

Foi esse o princípio do meu fim. Aquilo que inicialmente era um semestre de estudos no estrangeiro tinha acabado passados dois meses. Eu já não aguentava voltar para a Figueira e o clima de desconfiança era demasiado forte. A pressão foi enorme da vossa parte e, confesso, a investigação cuidada que fizeram não me deixou outra hipótese senão emitir este comunicado.

Desisto, porém, orgulhoso do meu plano. Teria sido quase perfeito, não fossem os amigos geniais que tenho e o amor pela Academia. Obrigado a todos e até já. Vou até ao Sobral Cid e, quando puder, mando notícias. Por Facebook (como nos últimos dois meses).

3 comentários:

Boy disse...

"Vou ao Sobral Cid" ahahahaha es um genio

Titi disse...

A história está sinistra...mas não deixa de estar engraçada.

Porque raio foste escrever isto?

Kafka disse...

E a classificação do euro Mau?

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