quinta-feira, 17 de março de 2011

Portú, Merengón e Evita Perú

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida (...)

Álvaro de Campos, in "  Poemas"


Não sei ao certo se, depois de ter voltado a Portugal, já aqui falei sobre a minha estadia no Rio de Janeiro. Ora é isso mesmo que hoje venho fazer. É... e não é.

Praias fantásticas, viagens e aventuras incríveis, comidas típicas, sol fabuloso, óptimos professores... tudo isso fez parte do meu Rio. Mas é das pessoas que por lá conheci que guardo as melhores recordações. E é graças a elas que venho (e não venho) falar do meu Rio de Janeiro.

Faço-o graças a um amigo chamado Portú. E o que me deixa mais confuso é que tudo o que vou aqui reproduzir se tem passado bem longe da Cidade Maravilhosa. No entanto, para mim é o Rio. E é-o porque foi lá que tive a sorte de conhecer três pessoas que me têm permitido viajar pela América Latina. São elas o já referido Portú, o grande amigo espanhol Merengón e a não menor amiga Evita Perú!

Enquanto estive fora de Coimbra o meu cérebro desenvolveu uma capacidade que amo: a de conseguir viajar por lugares que nunca imaginei, mesmo sem sair de casa. Era graças a ele que, de vez em quando, vinha dar um beijo aos meus pais, espreitar o irmão, controlar a namorada e espiar as poucas vergonhas dos "amigos de cá".

Foi graças à distância e, por isso, ao "meu Rio", que o poema de Álvaro de Campos ganhou cada vez mais sentido. "Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir". 

E se no Brasil eu sentia "tudo de todas as maneiras", sentia "tudo excessivamente" por causa das enormes saudades que sentia... agora o mesmo se passa. Todas as pessoas que deixei no Brasil ou espalhadas por esse mundo me têm levado consigo. 

E é por isso que, sem a autorização do Portú, mas com a convicção de que, conhecendo-o como conheço, não se importará, aqui reproduzo algumas das mensagens que me permitiram viver uma nova aventura junto a três amigos cujos caminhos se cruzarão novamente um dia:
Até Machu Pichu fomos 4 amigos, em 5 dias e 4 noites de desafios pelos Andes. Comida e água contada e às costas durante 40Km percorridos a pé ao sol, à chuva e à neve. Subida aos 4.600msnm onde se apreciou o nevado Salkantay e nos surpreendeu o ruído das avalanches ao longe. Horas caminhadas de noite, sob a luz das lanternas e o som constante de rápidos no abismo.
No penúltimo dia deparamo-nos com sucessivos derrumbamentos de terra até ao nível do intransponível, cuja solução foi atravessar uns rápidos numa espécie de banheira pendurada numa corda, montada pelos "lugareños" e conhecida aqui como orolla! E, no quinto dia, a cidade perdida dos Incas teve outro sabor.
En S. Pedro de Atacama, o deserto mais seco do mundo, no Chile. O que não nos impede de tomar umas belas banhocas nas lagoas salgadas do altiplano. Amanhã, Salar de Uyuni - Bolívia!
Bolívia: a caminho de Uyuni, atravessámos a paisagem mais fantástica que vi em toda a minha vida. Indescritível, só vivendo. E de noite, na pequena aldeia de Alota, pudemos apreciar a Via Láctea num céu mais limpo e estrelado que nunca. Há que voltar cá um dia.
Uma série de coincidências. Um voo para apanhar amanhã em Lima às 20h. Um alerta de Tsunami que cortou a estrada e nos reteve em Arequipa. Um único bus que saía à meia noite, primeira hora a partir da qual sería impossível chegar a tempo. Vagas limitadas nos voos para Lima, para hoje. Uma viagem que é um desafio até ao fim.
Obrigado, então, ao Portú, ao Merengón e à Evita Perú por me terem permitido viver como minha a sua realidade, ela que é simplesmente "um excesso, uma violência, Uma alucinação extraordinariamente nítida".

domingo, 13 de março de 2011

Afinal onde estiveram os Deolinda?


Ontem critiquei os Deolinda por não terem estado presentes nas manifestações. Hoje, depois de ver o comentário ao post anterior, percebi que fui injusto. 

Quando fiz o comentário fi-lo com receio de que estivéssemos a assistir a novos Xutos e Pontapés - outrora referência, hoje traidores. A novos Xutos no sentido em que eles, na hora H, optaram por negar que a música do Sr. Engenheiro fosse mesmo para o "ingenheiro". Não é preciso ser muito inteligente para perceber que a letra que é, evidentemente, para ele. E que, portanto, os Xutos preferiram manter os seus subsídios garantidos a tornarem-se a referência de um povo. Apostaram no cavalo errado. Digo eu...

Obrigado, por isso, aos Deolinda. Que, afinal de contas, acabaram por mostrar que mantêm a aposta no mesmo, apesar de terem embalado a trouxa e zarpado:

sábado, 12 de março de 2011

"Já fui para a rua gritar. Agora não me obriguem a embalar a trouxa e zarpar!"


Em Coimbra não teve o sucesso desejado. Talvez porque seja mais cómodo que os outros lutem por nós, talvez porque a cidade fica deserta ao fim de semana, talvez porque a maior parte dos estudantes são de fora, talvez porque muita gente foi a Lisboa. De qualquer forma, o balanço é feito numa palavra: SUCESSO.

Mais do que uma geração à rasca, o que saiu à rua foi um país à rasca. E, ao contrário do que quiseram fazer crer, hoje ficou provado que isto não é uma luta de gerações: viram-se filhos, pais e avós todos juntos contra uma condição.

Parabéns, Portugal!

[Uma nota de destaque para os Homens da Luta e para os Deolinda: se os primeiros, menos consensuais, foram à rua gritar, os segundos comunicaram que estavam lá... em consciência! Ainda bem que os 260 mil nas ruas do Porto e de Lisboa preferiram lá ir. Porque senão teria sido uma g'anda manif "em consciência".]

sexta-feira, 11 de março de 2011

A hora é nossa...


 
Chegou a hora. Agora é connosco...
Amanhã, 15 horas, Praça da República, Coimbra. Eu vou. E tu?

Manifesto:
"Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.

Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país. Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida.
Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza – políticos, empregadores e nós mesmos – actuem em conjunto para uma alteração rápida desta realidade, que se tornou insustentável.

Caso contrário:
a) Defrauda-se o presente, por não termos a oportunidade de concretizar o nosso potencial, bloqueando a melhoria das condições económicas e sociais do país. Desperdiçam-se as aspirações de toda uma geração, que não pode prosperar.
b) Insulta-se o passado, porque as gerações anteriores trabalharam pelo nosso acesso à educação, pela nossa segurança, pelos nossos direitos laborais e pela nossa liberdade. Desperdiçam-se décadas de esforço, investimento e dedicação.
c) Hipoteca-se o futuro, que se vislumbra sem educação de qualidade para todos e sem reformas justas para aqueles que trabalham toda a vida. Desperdiçam-se os recursos e competências que poderiam levar o país ao sucesso económico.

Somos a geração com o maior nível de formação na história do país. Por isso, não nos deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspectivas. Acreditamos que temos os recursos e as ferramentas para dar um futuro melhor a nós mesmos e a Portugal.
Não protestamos contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar à espera que os problemas se resolvam. Protestamos por uma solução e queremos ser parte dela."

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