domingo, 7 de novembro de 2010

"Estranhamentos" de um Português em Belém do Pará, Parte 2

 A melhor descrição que se pode fazer do Brasil em termos naturais é que tem tudo o que há em Portugal, mas com um tamanho e uma abundância 10 vezes superiores.
Frase do Yaúca, algures numa praia do Nordeste brasileiro

O Brasil, em geral, é assim. Mas Belém decide levar isto à letra.

Essa sensação começou logo que o nosso avião aterrou. Portugal tem um clima relativamente húmido, tem muito mar à sua volta. "Pois", pensou Belém, "se Portugal é húmido, então eu serei 10 vezes mais húmido!". E foi mesmo. Estava eu a contar: mal aterrámos a humidade era tanta que deixámos de conseguir ver a rua pela janela do avião. Ficou completamente embaciada - e não, não chovia lá fora! Quando saímos houve a velha sensação do Português que aterra no Nordeste (e, pelos vistos, também no Norte) do Brasil: "meu Deus, o ar não passa na garganta... vou morrer, não me vou habituar a isto!"

Mas essa era apenas a primeira de muitas manifestações da imponência natural desta cidade, deste estado, deste país.

As temperaturas, por exemplo, são sempre as mesmas. Disseram-me que assim era, o guia assim diz que é e hoje, quando procurei no Google as temperaturas em Belém... eram as mesmas de quando eu lá estive há um mês! O calor é insuportável: para que tenham uma noção os chuveiros não têm a torneira da água quente, só se toma banho de água fria!!!

Mas é de tal forma assim, que eu achava a minha casa quente, aqui no Rio. Na primeira noite em que dormi na Cidade Maravilhosa, depois de vir de Belém, tive de meter, pela primeira vez, cobertor! É que lá, mesmo com ar condicionado, eu dormia de tronco nu e sem cobertor, mas ainda acordava a transpirar!!!

O que me valeu foi que estamos na estação das chuvas. Não sei se será assim todo o ano, mas pelo menos agora é. Todo o santo dia chove. Chove de tal forma que as pessoas já programam a sua vida para antes e para depois da chuva. Acontece, geralmente, durante uma horinha, logo a seguir ao almoço.Mas atenção:  se quando faz calor, faz MUITO calor, quando chove, chove MUITO bem! É que lá, já se sabe, tem de ser tudo em grande...


Mas mudando de assunto: pensem num animal bem pequenino. Não, um rato é grande demais. Mais pequeno! Não, um lagarto ainda é grande. Uma formiga! Sim, uma formiga está bem. Este país de loucos não vai conseguir transformar as formigas num animal grande, que diabo...
Ou talvez vá. Garanto-vos eu que, durante um almoço na margem oposta à cidade de Belém, já na Amazónia, vi uma formiga que parecia uma aranha! Não tirei foto. Encontrava-me demasiado ocupado a saborear o meu "peixe à ver-o-peso" para tirar a máquina fotográfica da mochila.

Mas por falar em peixe, por falar em comida, por falar em Belém... as frutas! Uma quantidade de frutas completamente absurda vinda de uma floresta com uma extensão, também ela, absurda - ou não estivéssemos a falar da nossa boa e velha Amazónia! As frutas vão do açaí ao tucumã, passando pelo bacuri, o cupuaçu, a graviola, a taperebá, a pupunha, a castanha do pará, o muruci, a piquiá ou a bacaba, entre outros.

E os pratos, os pratos típicos, que são imensos! O pato no tucupi, o caranguejo, o caruru paraense, o casquinho de mussuã, o chibé, o cuscuz, a tacacá, o peixe moqueado, a pupunha, o piraricu de sol, a sopa de aviú... obviamente que não comi tudo isto - alguns destes nomes só decorei porque achei piada ao nome, e só pude escrevê-los aqui graças a uma visitinha à Wikipedia. Mas, de entre todos os pratos, o que mais me marcou foi a maniçoba!

 Maniçoba

A maniçoba é feita com folhas de maniva moídas e cozidas. Explicaram-me, enquanto me preparava para provar o prato, que aquilo tem de ser cozinhado durante uma semana, pois a planta tem um ácido venenoso que só com este preparo é retirado da mesma. Podem imaginar a minha sensação a comer um prato com um aspecto muito parecido com o de terra húmida, e que ainda por cima é feito com uma planta venenosa. Mesmo assim, valeu pela experiência. O sabor não é dos melhores, mas é diferente o suficiente para ficar na memória e por valer como interessante experiência gastronómica.

E continuando nesta parte gastronómica... CAIRU! A Cairu é uma gelataria (sorveteria, aqui no Brasil) fantástica. Tem mais de 60 sabores de coisas que vocês nunca sequer ouviram falar. Há gelados de açaí, araçá, bacaba, bacuri, buriti, carimbó (castanha do Pará com doce de cupuaçu), castanha-do-Pará, cupuaçu, graviola, jambo, mangaba, mangostão, mestiço (açaí com tapioca), murici, paraense (açaí e farinha de tapioca), pavê de cupuaçu, taperebá, tucumã, uxi... uf uf uf!!! Provei grande parte deles. Depois de os provar fiquei viciado. De tal forma viciado que o senhor já me conhecia como "o português da casquinha (cone, em português de Portugal) com uma bola de... CHOCOLATE!" ahah pois é, meus amigos. Por mais sabores que tenham, para mim basta haver um de qualidade: chocolate. O meu amigo Caótico atirava-me à cara que só eu é que ia para o Pará comer "sorvete" de chocolate... mas quem me conhece sabe-o: será assim no Pará, no Mato-Grosso, na Sibéria ou na Escandinávia. Gelado, lamento, mas é de chocolate!


Se pensam que acabei esta imensa crónica sobre a imensidão do Brasil, do Pará, de Belém estão muito enganados. Falta a parte que mais me impressionou: Mosqueiro.

Mosqueiro é uma um distrito do município de Belém e localiza-se na costa ocidental do Rio Pará, no braço sul do rio Amazonas. Fica a a cerca de 70 km de Belém... mas vale bem a distância! 

Apesar de ter visto várias praias, aquela em que acabei por ficar foi a do Paraíso. Acontece que nesse Paraíso, como em todas as outras praias de Mosqueiro, apesar de serem praias fluviais... há ondas tal e qual as do mar! E mais: o Rio é tão monstruoso, tão absurdamente grande, tão estupidamente imenso, tão incrivelmente enorme, que não se vê a outra margem. Na verdade só se vê água, água e mais água. Se no mar de vez em quando se vê a silhueta da costa, de uma ilha, bem lá ao fundo... ali estávamos num rio e não conseguíamos ver nada que não fosse água.
 
 Ambas as fotografias são da Praia Fluvial do Paraíso e
tiradas na mesma tarde. Reparem na velocidade com que o
tempo muda (estava um sol abrasador às 13h e uma chuva 
torrencial às 14h), nas ondas e no facto de não 
se ver a outra margem do rio.

Disseram-me que os portugueses quando chegaram ao Pará, nos primórdios da colonização, ficaram estupefactos com a extensão daquele rio. Incrível que, cerca de 500 anos depois, continue a deixar portugueses de queixo caído - e de tal forma desconfiados que precisaram de dar um mergulho e de sentir o sabor da água doce para acreditar que aquilo não era mar.

Fico-me por aqui, com esta crónica sobre um país, um estado, uma cidade onde tudo é exuberante: as formigas são enormes, os rios são gigantescos e as árvores são não só imensas como esmagadoras. Tem milhares de frutas, de sabores diferentes, de pratos típicos. Tem imenso sol, imenso calor, mas também imensa chuva. É um país, um estado, uma cidade de excessos, não tenham dúvidas. E esta é a única forma que tenho de vos mostrar um bocadinho deles...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ver-O-Peso - Belém do Pará, Parte 1


Esta selva anda demasiado quieta para o meu gosto. Nem de Nápoles, nem de Roterdão, nem de Barcelona, nem de Coimbra, nem de Trento, nem de Lisboa... nada! Regressemos, então, ao meu Brasil.

Desta vez não é, porém, até ao Rio de Janeiro que vamos viajar. Vamos até Belém, no estado do Pará, nas "Portas da Amazónia". Foi para lá que fui há já quase um mês...

Belém fica no Norte do Brasil. Do Rio de Janeiro até lá, com voo directo, são 3 horas e pouco de avião. É incrível como para viajar dentro de um mesmo país demoramos mais tempo do que a fazer uma ligação Lisboa-Paris ou Lisboa-Londres. Mas o Brasil é isto mesmo: um continente camuflado de país. Feita a introdução passemos, então, ao relato da viagem:

Fui para Belém com um amigo brasileiro. Já me tinha falado na cidade: que tinha amigos de lá e que já lá tinha ido duas vezes. Contou-me que a cidade ficava na Amazónia e bastante perto da linha do Equador. Que era incrível e que eu devia lá ir...

 Pirarucú - peixe do Amazonas que pode atingir 2 metros de comprimento


Passados uns dias, estava eu no facebook, aparece o meu amigo [chamado Caótico] e diz-me:
- Cara, está havendo um feirão da Gol (companhia aérea): há viagens baratas para Belém. Vamo? [sim, sem "s" no fim - estes cariocas adoram assassinar o português...].

E "fomo"!

Comecei por conhecer o Mercado Ver-O-Peso. É um dos mais tradicionais mercados brasileiros e é, também, o cartão postal de Belém. Foi construído em 1625 e situa-se na Baía do Guarajá. Fui com a Portuga e o Caótico até lá. Pensei que ele já conhecia bem o sítio. Antes de deixar o mercado acabou por me confessar:
"Já tinha vindo duas vezes a Belém e só tinha visto o mercado de longe... nunca aqui tinha entrado. Mal sabia o que aqui ia encontrar". [obviamente que o texto está traduzido para português de Portugal, visto eu ainda não ter aprendido a dar os erros nas conjugações verbais que me permitiriam reproduzir fielmente a oralidade do carioca].

 Senhora a descascar a bastante vendida castanha do Pará

E ele tinha razão. Por lá encontra-se um pouco de tudo: desde pirarucus até especiarias, passando por patos e galinhas vivos ou por artesanato índio. Mas passando também pelo açaí. E pelas toneladas de camarão que por lá se vendem. E pelas garrafinhas de "viagra natural". E pelos saquinhos de "amansa corno". E pelos bacuris. E pelas beribás. E pelas carambolas. E pelas graviolas. E pelas acerolas.  E pelos...


 Venda de camarão no Mercado Ver-O-Peso

Em suma: é um enorme mercado que se encontra às portas da amazónia e onde, por isso, podemos encontrar os nomes mais estranhos, os frutos mais incríveis e as pessoas mais genuínas que vi no Brasil. Não é fácil passear por um mercado sem ser constantemente abordado para comprar isto ou aquilo. Se não o é em Portugal muito menos o será no Brasil. E ainda menos se for um Português no Brasil...

Ali, porém, andava à vontade: de máquina em punho a aproveitar toda aquela confusão do aroma dos peixes misturado com a cor das frutas, com a beleza do artesanato, com o cheiro a fritos, ou tão simplesmente com os quadros das pimentas e malaguetas do Pará. Naquele mercado encontra-se tudo: encontra-se a vida do povo que vende, do povo que compra, do que apenas visita ou do que se perde por lá. Encontra-se a alegria ou a tristeza da vida que se leva, encontram-se histórias imensas e vidas incríveis por trás do olhar genuíno de cada Paraense.

Pimentas e malaguetas cujo nome verdadeiro desconheço - mas que ardem...!!!


Encontra-se um povo, uma terra, um estilo de vida. Um Brasil que não é o Rio. Um Brasil que é como é, que não se importa em esconder o que se esconde na grande metrópole. Encontra-se um outro modo de vida, um outro olhar sobre a vida.


Eu perdi-me por lá. Mas encontrei-me a mim.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"O Sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei", por Mim


Esta semana fez-me acreditar que há uma dimensão paralela algures por aqui. Fiz 3 exames seguidos, das 7:30 às 12:50, tentando não esquecer os conhecimentos sobre o hegemon financeiro e o emprestador de última instância, os diferentes níveis da hierarquia dos produtos e a Teoria das Ideias, mas tendo de os manter bem ordenadinhos para não falar de Sócrates no teste de Marketing ou da cadeia do produto em Negócios Internacionais. No final da semana fiquei sem saber, ao certo, se haverá esse mundo inteligível e esse mundo sensível. Mas fiquei com a certeza de que durante uma semana eu vivi em dois mundos diferentes...

Quando voltei ao meu mundo, na Sexta-Feira, tinha decidido ir passear para o Centro do Rio. Acordei e vim dar o meu passeio passeio pela internet: Público, ABola, Record, OJogo, IOL, Facebook, VaiPaSelva e Tapornumporco. Por acaso, nessa mesma manhã há um post que me é sugerido neste último blog. Chamava-se Estou-me a Vir, por Garoto de Ipanema e podem lê-lo se clicarem aqui (aconselho vivamente).

Acontece que estava um Sol que pedia praia... e logo ficou  decidido que o Centro seria visitado noutro dia. Dei dois mergulhos - a praia estava linda e a água óptima - e, logo, o tempo virou. O céu ficou encoberto, eu peguei nas minhas coisas, tomei um banho e vesti-me para ir ao Centro, como tinha inicialmente planeado.

Mas já há uns tempos que ando à procura de um posto de turismo no Rio, um sítio onde me dêem um mapa. Por isso vim à internet procurar um aqui, perto de minha casa ou no Centro. Não encontrei. Mas, por acaso, vi anunciado no site um concerto dos Green Day. Curioso, abri e quando cheguei à página dos concertos encontro em letras pequeninas: "Caetano Veloso, dia 8 de Outubro".
- Que dia é hoje? - perguntei.
- Sexta-Feira. Dia 8.
- Olha, já não vou sair convosco. Vou imediatamente comprar o bilhete para o Caetano e vou vê-lo logo à noite. Alguém quer vir?

Disseram que não. Meti a mochila às costas, fui buscar dinheiro e parti rumo ao Centro e à casa de espectáculos. Pelo caminho peguei no Destak e, na primeira página, o anúncio do concerto - na verdade era mais que um concerto: era a gravação do DVD do último CD lançado pelo Caetano (Zii e Zie) que será posto à venda brevemente.

Estive na fila sem grande esperança de arranjar bilhete. Quando soube que não estava lotado fiquei eufórico... então quando soube que o preço do bilhete eram 20 reais (cerca de 8 euros)!!!


Passeei pelo Centro durante o resto da tarde. Andei sem destino nem direcção: Cinelândia, Carioca (arranjei o meu relógio por 1,3 euros, comi um hambúrguer e bebi uma limonada por 50 cêntimos), Uruguaianas, Sebos na Rua Luís de Camões, Real Gabinete Português de Leitura, Catedral Presbiteriana, Rua da Carioca, Metrô, casa, Metrô, Vivo Rio, CAETANO VELOSO - ZII E ZIE!

Quanto ao concerto... só conhecia mesmo bem 3 músicas: Menina da Ria - que já teve direito a post aqui no VaiPaSelva (clique aqui para ver), Odeio e Billie Jean. Mas o concerto foi algo tão de outro mundo que tudo o que consegui foi conhecer mais umas tantas músicas geniais - fossem elas escritas pelo Caetano ou apenas interpretadas por ele. Transforma em ouro tudo em que toca. Um verdadeiro génio...

Aqui fica o alinhamento do concerto com os links para as músicas:

Faltam aí algumas músicas, provavelmente algumas até estarão fora de ordem. Mas não há-de estar muito longe disto, o alinhamento do concerto. Vim para casa (partilhei táxi com um mega-especialista em Caetano que é estudante de cinema no Rio e que conheci durante o show) e estive a re-ouvir o concerto no youtube.

Já deitado, às escuras, não consegui deixar de pensar: ainda bem que o dia acordou ensolarado, ainda bem que as nuvens cobriram o Sol, ainda bem que li o texto no Tapor - que me fez vibrar ainda mais com o Billie Jean -, ainda bem que decidi procurar um posto de turismo no Rio de Janeiro, ainda bem que arranjei o Destak, ainda bem que paguei os 20 reais, ainda bem que fui ao concerto, ainda bem que falei com o "especialista em Caetano", ainda bem que vim para casa e re-ouvi o concerto. Só de pensar que se o dia tivesse acordado nublado talvez eu tivesse perdido tudo isto...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Barbeiro... ou tesoura nas mãos de um lenhador?


Chegara o dia: tinha de escolher um sítio para ir cortar o cabelo. 

"Onde diabo vou eu encontrar um cabeleireiro ou barbeiro nesta cidade?!", pensei. "Deixa-me ver nesta espécie de mini-shopping do outro lado da rua". E lá fui. Num edifício com muito poucas lojas mas, ainda assim, com 3 andares, havia 6 cabeleireiros. Com muito bom aspecto, mesmo. Contudo, não tinham preços à vista e não tinham nenhum homem lá dentro a não ser os próprios cabeleireiros. E ainda por cima não tinham os preços à vista. "Naaaa. Nesta não me apanham. Vou aqui à Galeria do lado. Só tem um piso mas pode ser que tenha sorte...".

Na galeria havia 4 cabeleireiros com bom aspecto, uma loja com tudo o necessário para cabeleireiros, outro cabeleireiro especializado em penteados africanos, um barbeiro e uma agência de viagens com uma placa a dizer "compro ouro" e onde estavam duas pessoas a... cortar o cabelo! Na galeria havia bons preços: 15 reais um dos cabeleireiros com bom aspecto, 18 outro, o barbeiro também 18...

A minha vontade era ir a um cabeleireiro mais confiável como os primeiros que tinha visto. Contudo, coisa estranha, em nenhum deles havia homens e todos eles estavam a abarrotar de mulheres que faziam pedicure, manicure e todas as outras coisas que podiam passar pela cabeça. "Fogo, não me vou meter ali. Pareço um doidinho..."

"Mas tu és um homem ou és um rato?!", pensei para mim mesmo. "No Brasil sê brasileiro: vamos lá ao barbeiro!". Quando lá chego vejo que está um cliente a ser atendido e dois sentados à espera. "Nunca mais daqui saio...vou mas é ver a galeria da frente.". Aí havia mais 3 cabeleireiros e uma loja de informática. Os cabeleireiros, também eles com bom aspecto, anunciavam mega-promoções: "Corte Masculino por apenas 25 reais!!!".

"Fogo! Mais vale ir ao barbeiro e ficar lá à espera...". Voltei atrás. Já só estava uma pessoa à espera, que entretanto tinha adormecido na cadeira. Abro a porta e logo essa pessoa se levanta num salto que faria inveja a qualquer atleta de salto em altura. "Mer...!", pensei.

O que estava a dormir era o barbeiro. Com os pelos a sair da camisa aberta, um ar de "barbeiro à antiga" assustador.
- Era para cortar o cabelo. Queria mais ou menos como está. Mas mais curto, claro...
- Com as orelhas à mostra?
- Hummmm... se calhar é melhor não!

E lá começa o senhor a cortar-me o cabelo. Levanta um tufo de cabelo e dá um corte em todo ele. Levanta outro tufo e mais um corte a direito. Depois, puxou o cabelo para a frente e fez o recorte de um círculo. E ali estava eu a olhar-me ao espelho com um sorriso cada vez maior, que tentava, a todo o custo, evitar as gargalhadas que na minha cabeça não tinham ainda parado.

Depois de cortado o cabelo como se estivesse a tentar adaptá-lo a um capacete, eis que ele pega novamente na outra tesoura: "Ah, afinal isto era só uma técnica nova, agora vai corrigir. Menos mal!", pensei.

Mas ele limitou-se a empurrar-me a cabeça para a frente e a cortar o cabelo da parte detrás da mesma em linha recta.

E assim foi. Passa para cá 18 reais que a minha parte já está feita.

Portanto agora sou eu que digo: se alguém precisar de costurar alguma coisa pode falar comigo. Eu mesmo costuro. Só peço 18 reais para ver se recupero o que gastei no barbeiro. E assim como assim percebo tanto de costura como ele de cortes de cabelo...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Tiririca e... Portugal


Os brasileiros passam a vida a fazer piadas sobre os portugueses. Os portugueses são os burros: em Portugal fazem-se piadas sobre loiras (burras); aqui as piadas são exactamente as mesmas, mas trocam a palavra "loira" por "português". E, assim, todo o povo português fica com fama de burro...

Acontece que, agora, o mesmo povo brasileiro que chama burro ao povo português vota num palhaço (não no sentido pejorativo do termo) que é, ao que parece, analfabeto. Segundo consta, Tiririca não acabou o ensino primário. Como podemos ver no vídeo do final do post, precisou de ajuda do seu filho para ler as perguntas que lhe eram colocadas. E, mesmo assim, os brasileiros votaram nele.

Mas este post não é sobre Tiririca e o Brasil, mas sim sobre Tiririca e Portugal. Porque, de facto, eu acabo por concordar com esse estereótipo brasileiro em relação ao povo português. Obviamente que as generalizações são perigosas e, muitas vezes, insultuosas - será tema para post, mais tarde. Mas o que eu queria saber era o que vocês, selvagens, consideram uma atitude mais burra:

1) Votar no Tiririca sabendo à partida que ele não vai fazer nada e que é o simbolismo de todo o lixo político brasileiro. Elegê-lo como Deputado Federal sabendo que ele não apresenta nenhuma proposta séria para o período em que estará no cargo;

ou
2) Votar (segunda vez) num tal de José Sócrates para Primeiro Ministro sabendo que ele está associado ao caso freeport, à licenciatura marada, ao caso do apartamento de luxo comprado a preço módico, ao caso cova da beira, ao caso dos projectos Guarda/Covilhã, à «famiglia» mencionada como estando envolvida num caso de licenciamento público de um projecto privado - o freeport -, ao primo de shaolin, ao novo primo que também não está no país e é citado como intermediário no caso freeport, ao escandaloso silenciamento da redacção da TVI etc. etc. etc. e já tendo visto o que ele fez em 4 anos no cargo.

A minha opinião é simples: se no primeiro caso isto pode ser visto como um voto de protesto, no segundo não pode. Este protesto é, aliás, o argumento de muitos brasileiros. Não sei se sabem, mas aqui no Brasil é obrigatório votar:
"O eleitor que não votar nem justificar sua ausência nos prazos determinados pela Justiça Eleitoral incorrerá em multa imposta pelo Juiz Eleitoral. Sem a prova de que votou, pagou multa ou de que se justificou devidamente, não poderá o eleitor inscrever-se em concurso público, obter passaporte ou carteira de identidade, renovar matrícula em estabelecimentos de ensino oficial, obter empréstimos em estabelecimentos de crédito mantidos pelo governo, participar de concorrência e praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda. Se o eleitor deixar de votar em três eleições consecutivas, seu título será cancelado."

Assim, muitas vozes tenho ouvido (ou, melhor dizendo, muitas letras tenho lido) gritando que o voto obrigatório devia acabar. Que, não havendo alternativas sérias, o povo não devia ser obrigado a votar. E que, enquanto houver esta obrigatoriedade, o país ficará sujeito a estes votos de protesto, como acontece com o Tiririca.

Sejamos francos: alguém acredita que ele dará um bom deputado federal? Podemos, então, ver os paulistas que tão chingados são aqui no Rio de Janeiro, como os mártires do povo brasileiro: aqueles que preferem deixar o seu futuro nas mãos de um palhaço analfabeto, só para protestarem contra as alternativas existentes e contra a obrigatoriedade do voto.

Obviamente que isto é só uma interpretação das coisas. Muitas outras haverá - há, com certeza, quem ache que o povo paulista é tão burro que acha que o Tiririca é a melhor opção. A mim custa-me um pouco a acreditar...

Mas é aqui que entra a segunda alternativa: a alternativa José Sócrates. Mesmo sabendo tudo o que se sabe, mesmo tendo passado por tudo o que passou durante quatro dolorosos anos, o povo português vai às urnas eleger o mesmo inginheiro como Primeiro Ministro! Não há o voto obrigatório, não há essa justificativa de ser o mártir para provar que as alternativas são más (porque se assim fosse não o elegiam segunda vez)... será, talvez, por masoquismo. Ou por algo pior.

Em suma: Brasil e Tiririca, Portugal e José Sócrates - dois países tão diferentes e tão semelhantes. Resta saber quem merece mais as piadas da burrice. O voto no Tiririca é tão absurdo que a única lógica que vejo nele é aquela que expliquei em cima. Mas não se pode subestimar a burrice de um povo: a maior prova disso é que o Sócrates foi reeleito.

Fica, então, a dúvida. Tiririca como símbolo de um país. Resta saber se isso será bom ou mau...

Fica o vídeo do Tiririca:



PS: Parece que ainda por cima as mulheres fruta não foram eleitas. Agora é que me desiludiram, brasileiros: já que é para protestar mais valia ver as mulheres fruta na globo do que ver o Tiririca, né?!

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