Vivi num mundo em que eu era um herói: campeão do mundo a jogar sozinho e salvando a mulher da minha vida de chamas que nunca existiram…
Vivi num mundo em que eu era um deles até perceber que os heróis
não ganham torneios de futebol nem salvam donzelas de castelos guardados por
ferozes dragões. Não. Eles, os verdadeiros heróis, têm cicatrizes feitas pela vida e olham-nas sentindo aquela doçura amarga das memórias de ternuras e momentos vividos com pessoas e rostos que não mais se verão.
Os heróis (verdadeiros) não escondem as
cicatrizes nem se escondem delas. Olham-nas para se lembrarem de que o agora é sempre o momento
certo para mais um beijo, para mais um abraço; deixam-nas à vista para que ninguém se esqueça que as feridas surgem, tão violentas quanto brutais, impedindo para sempre a
troca das palavras e das carícias que deixámos para depois.
Os verdadeiros heróis não sabem que o são.
Não sabem que as cicatrizes
e o brilho dos olhos os tornam eternos.
Não imaginam, sequer, que nós nunca nos esqueceremos de quem são agora.
Nem que sabemos melhor que
ninguém que, para nós, eles querem ser sempre quem são hoje.