terça-feira, 14 de agosto de 2012

Felicidade, por Vladimir Bartol

 
 Não são de forma alguma as coisas em si que nos tornam felizes ou infelizes, mas a ideia que delas temos e as falsas certezas de que nos orgulhamos - sonhava Hassan em voz alta, enquanto os seus dois amigos o observavam, estendidos nas almofadas. - O avaro esconde o seu tesouro num local ignorado por todos: finge ser pobre em público, mas secretamente goza por se saber rico. Um vizinho descobre o esconderijo e rouba-lhe o tesouro... isso impedirá porventura o avaro de gozar a sua riqueza enquanto não tiver descoberto o roubo? E se a morte o surpreender antes de ficar ao corrente do seu infortúnio, soltará o último suspiro com o feliz sentimento de possuir o mundo! O mesmo acontece ao homem que não sabe que a sua dama o engana. Se não o descobrir, continuará a desfrutar de momentos maravilhosos na sua companhia. Suponhamos agora que a sua querida esposa seja a fidelidade em pessoa, mas que uma boca mentirosa consegue persuadi-lo do contrário... então, ele suportará os tormentos do inferno. Portanto, não são nem as coisas nem os factos reais que decidem a nossa felicidade ou infelicidade, mas apenas as representações que deles nos propõe a nossa consciência vacilante.
Vladimir Bartol, em Alamut (pág. 269)

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