Confesso, eu CONFESSO! Nunca fiz
Erasmus na vida. Sempre o quis fazer, mas por uma razão ou por outra acabou por
nunca acontecer. Não consigo guardar mais este segredo para mim, desculpem. É
mais forte que eu.
Já me conhecem: sou um verdadeiro
caos. Tudo aquilo em que toco se torna uma enorme confusão. Foi por isso, com
tristeza, que um dia informei todos os amigos, através da internet, que os meus
planos de ida para Erasmus tinham fracassado.
Vocês sabem bem o que se seguiu:
a minha fama provocou uma onda de festividade que me custou a aceitar. Os
comentários a gozar, os cânticos com o meu nome quando chegava à Universidade… foi
essa pressão que me fez dizer-vos que era tudo não passava de uma brincadeira.
Que era óbvio que iria para Erasmus e que o que escrevera na rede social era
apenas uma mentira para ver a vossa reacção.
Começou aí o meu trabalho de
dissimulação. Só não contava que me conhecessem tão bem e que fossem tão
geniais ao ponto de desencadearem uma investigação. Pelo sim pelo não, tirei
uma foto de despedida, ainda na Universidade. Achei que seria suficiente, mas
logo me apercebi de que não bastava.
A primeira semana passei-a
fechado no quarto cá em Coimbra. Depois percebi que havia gente a vigiar a
porta de minha casa e optei por sair mascarado pelas traseiras, com óculos
escuros, gabardine e um chapéu. Fui para a Figueira e por lá fiquei fechado o
restante tempo. A minha vida social resumia-se ao Facebook e aos telefonemas
para a Telepizza, para que me viessem entregar o almoço e o jantar a casa, não
fosse dar-se o caso de continuar a ser vigiado – é bom que se explique que
deixava o dinheiro à porta para que o “entregador de pizzas” não me visse.
Inventei tudo: exames,
disciplinas, problemas académicos… estava tudo a correr optimamente. Até à
Académica ir ao Jamor. Essa foi a minha perdição. Vocês já começavam a
estranhar eu não ter nem uma foto no estrangeiro, não ter um único amigo
estrangeiro no Facebook, não ter, sequer, uma palavra em inglês para quem quer
que fosse. Até acreditaram (a custo, bem o sei) que eu tinha tido uma sorte tão
grande que me permitiria vir à semana da Queima porque calhava precisamente durante
um período de interrupção lectiva na universidade para onde supostamente teria
ido.
Mas a Académica… essa tornou-se
mesmo difícil de ultrapassar. É que este meu plano não contava com o Jamor, que
querem que vos diga?! Esta minha paixão pela Academia Coimbrã tornou-se a minha
desgraça: já tinha inventado uma interrupção lectiva e o Jamor era passadas
duas semanas. Que diabo haveria eu de inventar? Optei por dizer que tinha a
Queima, na semana seguinte teria todos os exames e que, sorte do tamanho do
mundo, voltava para Portugal precisamente no dia anterior à final do Jamor (em
que a Academia da qual sou sócio se viria a sagrar vencedora da Taça de
Portugal).
Foi esse o princípio do meu fim.
Aquilo que inicialmente era um semestre de estudos no estrangeiro tinha acabado
passados dois meses. Eu já não aguentava voltar para a Figueira e o clima de
desconfiança era demasiado forte. A pressão foi enorme da vossa parte e,
confesso, a investigação cuidada que fizeram não me deixou outra hipótese senão
emitir este comunicado.
Desisto, porém, orgulhoso do meu
plano. Teria sido quase perfeito, não fossem os amigos geniais que tenho e o
amor pela Academia. Obrigado a todos e até já. Vou até ao Sobral Cid e, quando
puder, mando notícias. Por Facebook (como nos últimos dois meses).