segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A criança é feita de cem

A criança
é feita de cem
A criança tem
cem linguagens
cem mãos
cem pensamentos
cem maneiras de pensar
de brincar e de falar.
Cem, sempre cem
maneiras de ouvir
de se maravilhar
de amar
cem alegrias
para cantar e perceber
cem mundos
para descobrir
cem mundos
para inventar
cem mundos
para sonhar.
A criança tem
cem linguagens
(e centenas mais)
mas roubam-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura
separam-lhe a cabeça do corpo.
Dizem-lhe:
que pense sem mãos
que trabalhe sem cabeça
que ouça e não fale
que compreenda sem alegria
que ame e se admire
apenas na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe:
que descubra um mundo que já existe.
e de cem
roubam-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe:
que o jogo e o trabalho
a realidade e a fantasia
a ciência e a imaginação
o céu e a terra
a razão e o sonho
são coisas que não estão unidas.

Ou seja, dizem-lhe
que os cem não existem.
Mas a criança exclama:
Nem pensar. Os cem existem!
Loris Malaguzzi

Não sei ao certo o que faz com que as coisas se passem assim. O que sei é que ontem vivi uma experiência que, apesar de tão simples, me ajudou a acreditar que é possível mudar o mundo. Constatar que há mais gente como eu, que há mais casas tão perto de casa, foi algo de extraordinário.

E ler hoje a página 230 d'O Elemento de Sir Ken Robinson e descobrir este poema hoje de manhã só vem fazer com que tudo isto se complete de forma ainda mais perfeita. Sim, os cem existem. E se a nós nos roubaram noventa e nove, porque não tratamos de os recuperar enquanto podemos?

Por mim, serei criança mais uns anos. Porque, sim, o "jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, o céu e a terra, a razão e o sonho" estão unidos, porque continuo com "cem mundos para inventar, cem mundos para sonhar"...

domingo, 1 de janeiro de 2012

Balanço


Foi o tempo que perdeste com tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.

Antoine De Saint-Exupery "O Princepezinho"


Brrrrrrrrr.... que arrepio me dá a palavra balanço numa altura em que ando a fazer o trabalho de finanças e tenho de analisar uma data de Balanços de diferentes empresas. Mas não, o texto não é sobre isso. Não é, tão pouco, uma avaliação do ano de 2011. É algo bem mais simples...
Hoje dei por mim a pensar que este ano o Natal e a Passagem de Ano tinham sido especiais. Se a primeira das festas sempre teve para mim uma certa magia, a segunda nunca me disse nada. Acontece, porém, que já há uns anos a magia do Natal se vem perdendo um bocadinho. Primeiro com a descoberta da inexistência do senhor das barbas, depois pela ausência de algumas pessoas insubstituíveis.
Mas hoje, quando acordei, comecei a pensar o que se teria passado este ano para que eu tivesse voltado sentir a magia de outros tempos - e para que a tivesse sentido também na passagem de ano. Acho que descobri o que se passou: o ano foi duro, os próximos serão tão duros ou ainda mais. Houve um esforço grande para a contenção de despesas, com prendas mais baratas e personalizadas no Natal, com um grupo mais pequeno e uma festa mais caseira na passagem de ano.
O tempo que perdi com as prendas, o tempo que perderam com as minhas, o tempo que perdi a (des)organizar a passagem de ano foi, paradoxalmente, tempo ganho.
Foi, portanto, a união e o esforço que esta malfadada crise exigiram que tornaram esta época tão especial, depois do encanto que tinha vindo a perder nos últimos anos. O próximo ano terá muito de mau em termos económicos. Mas se conseguirmos manter esta união, esta força, esta criatividade para fazer mais com menos... então acredito que tudo isto valerá a pena.
Fica, portanto, o agradecimento a todos os que me fizeram perder tempo ganhando-o. Foram eles que devolveram a magia a esta época tão especial...

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