A última vez que escrevi para o VaiPaSelva (VPS) foi a 4 de Agosto deste ano, há precisamente três meses atrás. Nunca, desde o início do blog, este tinha estado tanto tempo parado. Mas como este espaço se foi tornando cada vez menos o espaço de reunião de um grupo de amigos e cada vez mais um espaço meu, também a necessidade de o manter actualizado deixou de ser tanta.
Hoje vejo o VPS como uma espécie de livro de memórias. Desde 19 de Fevereiro de 2009 que este espaço existe e, com ele, muitas discussões, muitas partilhas, muitos sorrisos e algumas saudades. É precisamente pela necessidade de manter esta memória à distância de um clique que resolvi regressar a esta casa - que é tão mais minha do que o Facebook.
Há umas semanas confessara a alguém, um pouco embaraçado, que neste momento aquilo que mais prazer me dava tinha voltado a ser jogar futebol. Era por um lado a desorganização em que se tinha tornado a minha vida fora do campo, por outro a felicidade que sentia por as coisas me estarem correr bem dentro dele. O brilhozinho nos olhos sempre que entrava em campo, que se tinha esfumado um pouco há já alguns anos, tinha voltado.
Como imagem da minha alegria escolho a minha mãe, preocupada, a ver-me chegar a casa a coxear depois de um jogo e a perguntar-me o que se tinha passado. Vinha com um pé torcido e inchado, umas dores na virilha que me tinham deixado em dúvida até ao último segundo e que, depois do esforço, tinham piorado, e uma pequena mazela no gémeo que não me deixavam andar direito. Quando vi o ar preocupado dela tentei sorrir - digo tentei porque também tinha apanhado uma cotovelada que me abrira o lábio - e disse-lhe:
- Marquei um golo e ganhámos! Achas que podia estar melhor?!
Era nesta vontade de jogar, de ganhar e de marcar, de tentar ajudar a minha equipa, que a minha vida se baseava nesta fase da minha vida. Até ao dia 23 de Outubro de 2011, dia do jogo em Tábua. Devido às já referidas lesões estive em dúvida, mais uma vez, até à hora do jogo. Resolvi jogar, mesmo que com dores. Tudo estava a correr bem, como nos últimos jogos até que, pelos 20 minutos de jogo, corro para tentar chegar à bola antes do guarda-redes adversário e sem que ele me toque sinto uma dores horríveis no joelho. Caí de imediato no chão. Logo ouvi os adversários a mandarem-me levantar, pensando que estava a tentar "sacar o penalti". Gritei-lhes que tinha sido sozinho, para mandarem entrar algum médico...
Ajudaram-me a sair do campo, fui visto pelo fisioterapeuta da minha equipa - que logo me fez o teste para ver se seria rotura de ligamentos ou não. O joelho passou no teste e, apesar de a dor se manter, nunca aumentou quando ele fez os movimentos para o testar. Pedi-lhe: "deixa-me tentar entrar. Pode ter sido só um susto".
Entrei, corri até ao meio campo e quando tentei disputar uma bola pedi substituição. Nessa altura percebi que era grave. Não saí de campo até ao meu colega estar pronto para me substituir. A certa altura, há um cruzamento para o segundo poste onde o extremo ganha a bola de cabeça enviando a bola para a pequena área. Vejo que a bola vai a passar à minha frente quando, qual apaixonado pelo jogo, decido rematar - mesmo sabendo que depois disso as dores iam ser terríveis. A bola entrou e eu caí agarrado ao joelho, já dentro da baliza.
Esperei os festejos dos meus colegas de equipa, mas o árbitro tinha assinalado fora-de-jogo quando o jogador da minha equipa cabeceou. Não interessa nada dizer agora que o golo foi limpo - a minha certeza quanto a isso é absoluta. O que interessa dizer, isso sim, é que marquei um golo com - confirmou-se hoje - uma rotura do ligamento cruzado anterior do joelho direito e que a minha única mágoa é que o árbitro não o tenha validado.
A minha vida mudou desde esse dia, mas a vontade de melhorar e a força para reagir são bem mais fortes do que tudo o resto. Este desporto tudo nos dá e tudo nos tira. Talvez até tire mais do que dá. Mas o prazer que sinto a jogar futebol é bem maior do que a quantidade de coisas que me tira. E, se depender de mim, na próxima época lá estarei a sorri de novo com a bola nos pés. E com mais força ainda...
Até lá há que esperar pela operação e, depois dela, de trabalhar durante seis meses para voltar a ser quem sou. E são seis meses em que a vida fora dos relvados terá de se organizar. Este desporto nunca passou, para mim, de um hobbie que amo. E agora, de repente, o tempo que tenho para me concentrar noutras coisas aumenta brutalmente. Fica a mensagem para todos aqueles que se têm revelado tão preocupados que aguentaram até ler este testamento até ao fim: estou forte, confiante e... vou sair daqui ainda mais forte do que fui até àquele jogo que nunca mais irei esquecer.