Foi o último a sair. O último Erasmus (pelo menos dos "meus" Erasmus) a abandonar a minha cidade neste semestre. Hoje não pude ir despedir-me dele à estação (à semelhança do que tinha feito com o Reinder) ou simplesmente ir dizer-lhe adeus (como aconteceu com a Magda).
Hoje não pude correr até ao comboio, cheio de malas, em busca de ver alguém de quem gosto na minha cidade por mais uns segundos. Confesso que os comboios perderam aquela aura romântica, em que se viam partir lentamente, por entre choros e rezas daqueles que ficavam e dos que partiam. Hoje as paragens são de dois minutos, nem mais um segundo. Senti-o particularmente na pele quando, na despedida do Reinder fui obrigado a atirar para dentro do comboio uma recordação que lhe queria oferecer em mão, porque as portas já se estavam a fechar.
Mas, como dizia, não pude ir até à estação. Engana-se, porém, quem pensa que não me fui despedir do Johannes. Hoje vi claramente vista a partida do meu velho alemão para o Porto, para aí comer a sua francesinha (o prato) em jeito de despedida deste seu novo país. E vejo-o a pegar nas malas e a seguir para o aeroporto. Não estive lá fisicamente, mas posso assegurar que vi o Johannes da estação, a partir num daqueles comboios a vapor, lentamente, e a dizer adeus com uma lágrima de saudade a escorrer pela cara, debruçado sobre a janela e acenando com um lenço branco, como noutros tempos se fizera. Por essa altura vinha, não sei bem de onde, a música "Coimbra tem mais encanto na hora da despedida"...
O Johannes foi o último a sair de Coimbra e, por isso, se tornou para mim e para muitos dos meus amigos, um "Buddy adoptivo". A despedida teria de ser emocionante, portanto. Mas havia uma coisa com que não contava nesta despedida e que me abalou imenso: o facto de ele ser MESMO o último a sair.
É que com a saída do Johannes não parte apenas ele. Partem também a Magda, o Reinder, o Folco, o Josef, o Yacine, o Enrico... e Coimbra como que hiberna até ao regresso dos Erasmus. Mal eles sabem que quando chegarem estão a trazer-me de volta um grupo de pessoas fantásticas que nem sequer conhecem. Até lá espero impacientemente, sentindo que parte de mim está espalhada pelo mundo. Mais uma vez...
Sentes que um tempo acabou
Primavera de flor adormecida,
Qualquer coisa que não volta que voou,
Que foi um rio, um ar, na tua vida.
E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra.
Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'rá vida.
Sabes que o desenho do adeus
É fogo que nos queima devagar,
E no lento cerrar dos olhos teus
Fica a esperança de um dia aqui voltar.
E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra.
Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'rá vida.
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