sábado, 30 de abril de 2011

Arte de Rua


Esconde-se normalmente sob o vulto da criminalidade e é, por isso, pouca a atenção que na Europa prestamos a este tipo de coisas. É óbvio que é crime andar a pintar as paredes das casas. E é também óbvio que isso tem de ser punido e combatido. Mas se passearmos pela Lapa prestando atenção às paredes vemos coisas tão bonitas que nos fica a dúvida se aquilo será ou não autorizado pelas autoridades locais. Esta é uma dúvida que ainda não consegui esclarecer: o que vemos pela Lapa são paredes cedidas para que as pessoas possam expressar a sua arte ou são os próprios artistas que se dão asas à sua criatividade nas mesmas?

Como dizia acima, em muitas cidades este tipo de arte de rua é visto como uma coisa suja. Talvez no Rio o seja também, daí a falta de pessoas a olhar para ela com um olhar diferente. Felizmente, graças à já referida A Alma Encantadora das Ruas (neste post), eu pude olhar para aquelas paredes de uma maneira diferente.

Quando viajamos pelas ruas da Lapa durante o dia temos a oportunidade de ver enormes paredes com pinturas grandiosas, belas, imponentes. É por lá que vemos dos mais diversos tipos de “quadros ao ar livre”:

Uma parede, outrora branca, hoje pintada de forma a imitar a fachada de um prédio – e que, do outro lado da estrada, causa uma ilusão de óptica engraçada, porque engana de verdade.

Outra parede, velha e cheia de pinturas degradadas, na qual sobressai uma: estão representadas diferentes pessoas, umas dançando, outras jogando futebol, outras brincando, fazendo ginástica, andando de bicicleta… e com uma dedicatória “ao povo carioca”.

Ainda outra pintura, com uma mulher grávida sentada a tocar viola e a cantar. Ao lado, o artista Selarón, com uma frase da sua autoria e um quadro na mão que diz:

“Viver na favela é uma arte.
Ninguém rouba.
Ninguém escuta.
Nada se perde.
Manda quem pode.
Obedece quem tem juízo”.

Uma outra, fantástica, com um miúda de castanho a olhar para nós de ar assustado e com um rolo de fotografias aberto ao seu lado, com três crianças a sorrir.

Ou aquela pintura que começa na parede, passa pelas portas e continua do lado seguinte da parede, onde se vê um homem a tocar viola e palavras coloridas por trás a exultar a lapa, a liberdade, as raízes do povo carioca.

A que, em tons de azul, com as casas a negro e a cinzento conta com palavras soltas como Paz, Amor, Vida, Tempo… e duas pessoas no cimo das casas, de mãos dadas e a cantar com o céu azul como fundo. Uma tem um coração na mão, a outra aponta para o ar, no qual se levantam palavras coloridas. Esta tem um poema no canto, que tinha um poema de Uriel Coelho Barbosa chamado “Tempo”, no qual se lia:

“Tempo que vai e volta
Tempo da vida
Tempo de beber, comer e morrer
Tempo que passa pelos nossos olhos.”

É esse o nosso tempo. No Rio ou em qualquer outra parte do mundo. Mas no Rio, e estando apenas num programa de intercâmbio, o tempo é tão curto que passa pelos nossos olhos a uma velocidade impressionante. E que pena seria sair do Rio sem aproveitar estes autênticos museus ao ar livre que são os das pinturas anónimas espalhadas por toda a cidade…

Sem comentários:

Publicidade

Para efeitos legais é importante explicar que o nosso site usa uma Política de Publicidade com base em interesses.