quinta-feira, 21 de maio de 2009

SMTUC

Os SMTUC são os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra. Sim, vou falar-vos das minhas viagens de autocarro. Mas calma, não me mandem já ir dar uma volta. Esperem e leiam até ao fim.

Nunca andei tanto de autocarro como durante o tempo em que estive a tirar a carta de condução. Todos os dias apanhava pelo menos 4 autocarros diferentes. No início, tinha a preocupação de comprar um jornal ou uma revista, de levar alguma coisa para estudar ou me entreter no caminho. Mas rapidamente percebi que uma pessoa, a partir do momento em que "pica" a senha, tem automaticamente direito ao espectáculo que se segue.

Antes de mais deixem-me explicar-vos que há dois tipos de autocarros: aqueles que circulam mesmo na cidade de Coimbra e os que vão para os arredores.
No primeiro grupo a relação preço/diversão não é muito favorável, visto os autocarros irem repletos de mitras, gípeces, zwarts ou sangokus. Uma pessoa não se diverte muito, mas em todo o caso a adrenalina associada ao facto de podermos apanhar uma facada ou um camehamehá a qualquer momento e sem motivo aparente compensa essa lacuna. Para além disso, os bancos são confortáveis e os autocarros modernos.

Mas o que eu aconselho mesmo é o segundo grupo: os autocarros para Arzila, Vila Pouca do Campo e outras metrópoles do género. Normalmente os autocarros estão parados na Portagem a cumprir horário. As pessoas entram, picam a senha e vão se sentar. Até aqui tudo normal. O problema é quando o autocarro começa andar. Não percebo nada de mecânica, mas custa-me a crer que os carros precisem de alguma coisa que trema tanto para conseguirem andar. É que a partir do momento em que se liga o motor do autocarro torna-se impossível manter a sanidade mental, tal é a vibração do motor. A associação de ideias mais próxima do que se sente naqueles momentos é esta: sentimo-nos como um bocado de gelatina se sentiria em cima de um martelo pneumático. Difícil de imaginar, não?

Ah, já me esquecia... Falemos agora dos clientes dos autocarros deste segundo tipo. Como é que eu vos vou explicar isto?
Talvez assim... acompanhem-me no raciocínio:
  • Os autocarros são velhos, pequenos e tremem por todos os lados.
  • As janelas estão encravadas e é impossível abrir uma que seja.
  • Imaginem o calor que está lá dentro.
  • Agora imaginem o calor que está lá dentro num dia onde está já muito calor cá fora.
Já está? Ok...
  • Então imaginem-se a ir num autocarro velho, pequeno, que treme por todos os lados, onde as janelas não abrem, onde faz um calor impossível e que está CHEIO DE GENTE, onde não têm lugar sentado e onde vai tudo a acotovelar-se para caber.
  • De seguida imaginem que vão numa viagem de meia hora naquelas condições.
  • Pensem agora que a média de idades daquela gente que enche o autocarro estará muito próxima dos 100 anos.
  • Imaginem, finalmente, que essas pessoas de quase 100 anos são malta do campo, sem acesso a desodorizantes ou perfumes e que têm, todas transpiradas e cheias de calor, de se agarrar a vocês para não caírem nas curvas.
Vou parar por aqui. Num próximo post conto-vos as partes engraçadas da viagem, porque este já está a ficar grande demais. Deixo-vos só a imagem final desta aventura nos autocarros suburbanos, para que possam sentir na teoria a autêntica experiência de vida que eu senti na prática e que preenchia o meu dia-a-dia:
"Imaginem-se a ir num dia muito quente num autocarro velho, pequeno, que treme por todos os lados, onde as janelas não abrem, onde está um calor impossível, que vai cheio de gente do campo com uma média de idades de aproximadamente 100 anos e que desconhece coisas como desodorizantes ou perfumes, onde não se encontra lugar sentado, onde vai tudo a acotovelar-se para caber e onde recebem alguns abraços transpirados destes companheiros de viagem que se agarram a vocês num esforço desumano para não caírem nas curvas. Tudo isto durante meia-hora. E duas vezes por dia."

2 comentários:

Mau-r-à-dona disse...

Anuncio desde já que haverá desenvolvimentos deste post... Mas tudo isto é verdade, não é só publicidade!;)

Kikas disse...

Histórias dessas é coisa que não falta.

Ah e além dos autocarros da periferia que o mau enunciou, as características demográficas e sociais dos passageiros que os usam também se fazem sentir no 29, o que é algo interessante. Aprende-se a fazer dieta, sabe-se o que a vizinha e a prima fizeram no outro dia, ah e há sempre aquelas idosas preocupadas com a nossa imagem e que quando estamos segurados no ferro em cima, não conseguem perceber que é normal que as camisolas subam e então metem-se a puxar a nossa roupa para baixo! Enfim...

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