Ontem comecei a viver o MEU Rio. Provavelmente um Rio que não faz inveja a ninguém, mas o Rio que, sem dúvida, eu prefiro viver...
Este primeiro dia foi vivido sozinho. Fui a correr de Ipanema ao Leblon, do Leblon ao Arpoador e daí para Ipanema novamente, onde tenho casa. Comi a bela sanduíche de atum que me vai acompanhar durante seis meses à hora de almoço e logo retomei.
Inicialmente a ideia era partir à procura de um campo de futebol de praia. Ipanema, Arpoador, Copacabana... mas logo surgiu algo muito diferente do que eu podia imaginar. Em vez do campo de futebol encontrei uma beleza incrível.
As gaivotas a rasar as ondas enormes que batiam com estrondo na areia, que reflectiam o sol, que molhavam as crianças, que desafiavam os surfistas, que destruíam os castelos de areia que, com carinho, iam sendo construídos por pais ajudando seus filhos.
Ali fiquei, em plena praia de Copacabana, sentado a sentir o meu Rio. Toda aquela harmonia crescia dentro da minha cabeça ao som do Samba de Orly. Havia no ar algo que eu nunca tinha vivido e que, por isso, se torna difícil de explicar...
O Rio é uma cidade diferente. É cheia de ritmos, de histórias, de Sol e de gente. É uma cidade onde a poesia nasce a cada esquina, onde cada raio de Sol nos ilumina com os mais belos versos.
Já ao final da tarde, com o Sol a esconder-se atrás dos Morros, parecia terminar a poesia. Uns metros à minha frente comecei a ver uma multidão, uma espécie de procissão... acelerei o passo para tentar perceber o que se passava. E é então que começo a ouvir uma banda em tons de Jazz, mas com ritmos de Bossa Nova.
Faziam a ligação perfeita ao ambiente fantástico que se vivia. Mas não ficavam parados num sítio. Continuavam a andar ao longo de todo o calçadão e eram de tal modo especiais que muita gente saía da praia para os ir ouvir e acompanhar no seu percurso. Andei uns minutos no passo lento da banda. Aquela música tinha um sabor especial.
O Sol quase desaparecera e a banda parara. Um monumental aplauso surgiu vindo das ruas, das praias, das ondas, dos bares...
Imediatamente pensei que o Chico Buarque não terá precisado de tanta imaginação quanto eu supunha para escrever uma das minhas músicas preferidas: A Banda.
Desiludido por não ter conseguido ouvir aquela harmonia toda por mais tempo, encaminhei-me em passo lento até ao mar. Dei o último mergulho do dia e estive a ver o Sol a esconder-se entre o Morro Dois Irmãos.
Naquele passo lento e em silêncio, a tentar aproveitar o que nunca tinha sentido, dirigi-me até casa. Antes de virar a esquina atrevi-me a deitar um último olhar sobre aquele mar... e logo me vieram à cabeça as palavras de Carlos Drummond de Andrade:
No mar estava escrita uma cidade.
Estava mesmo...
4 comentários:
Oi amigo...
Mesmo do outro lado do Atlântico, as palavras continuam a sair-te de uma forma elegante e estruturada, revelando inclusivé, encerrar em si uma grande paixão pela vida que estás a viver.
Aqui no País dos pequeninos, continua tudo igual. Valha-nos que está para começar o campeonato, e como tal, o tédio irá diminuir.
E eu continuo a esperar que chegue a melhor coisa da minha vida...
Abraço com saudade...
KAPITÃO
esta Banda? - http://www.youtube.com/watch?v=TuhBzb7IFpI
Qe inveja!
Minha filha chamou-me atenção para teu blog e fui cuscar. Tua sensibilidade passada a palavras, foi deliciosa de ler e senti a cor, o cheiro, o movimento, enfim estava, de novo, no meu Rio de Janeiro que continua lindo.Brasileira deslocada
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