quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Último a Sair, por Pedro Girão


Foi o último a sair. O último Erasmus (pelo menos dos "meus" Erasmus) a abandonar a minha cidade neste semestre. Hoje não pude ir despedir-me dele à estação (à semelhança do que tinha feito com o Reinder) ou simplesmente ir dizer-lhe adeus (como aconteceu com a Magda).

Hoje não pude correr até ao comboio, cheio de malas, em busca de ver alguém de quem gosto na minha cidade por mais uns segundos. Confesso que os comboios perderam aquela aura romântica, em que se viam partir lentamente, por entre choros e rezas daqueles que ficavam e dos que partiam. Hoje as paragens são de dois minutos, nem mais um segundo. Senti-o particularmente na pele quando, na despedida do Reinder fui obrigado a atirar para dentro do comboio uma recordação que lhe queria oferecer em mão, porque as portas já se estavam a fechar.

Mas, como dizia, não pude ir até à estação. Engana-se, porém, quem pensa que não me fui despedir do Johannes. Hoje vi claramente vista a partida do meu velho alemão para o Porto, para aí comer a sua francesinha (o prato) em jeito de despedida deste seu novo país. E vejo-o a pegar nas malas e a seguir para o aeroporto. Não estive lá fisicamente, mas posso assegurar que vi o Johannes da estação, a partir num daqueles comboios a vapor, lentamente, e a dizer adeus com uma lágrima de saudade a escorrer pela cara, debruçado sobre a janela e acenando com um lenço branco, como noutros tempos se fizera. Por essa altura vinha, não sei bem de onde, a música "Coimbra tem mais encanto na hora da despedida"...

O Johannes foi o último a sair de Coimbra e, por isso, se tornou para mim e para muitos dos meus amigos, um "Buddy adoptivo". A despedida teria de ser emocionante, portanto. Mas havia uma coisa com que não contava nesta despedida e que me abalou imenso: o facto de ele ser MESMO o último a sair. 

É que com a saída do Johannes não parte apenas ele. Partem também a Magda, o Reinder, o Folco, o Josef, o Yacine, o Enrico... e Coimbra como que hiberna até ao regresso dos Erasmus. Mal eles sabem que quando chegarem estão a trazer-me de volta um grupo de pessoas fantásticas que nem sequer conhecem. Até lá espero impacientemente, sentindo que parte de mim está espalhada pelo mundo. Mais uma vez...


Sentes que um tempo acabou
Primavera de flor adormecida,
Qualquer coisa que não volta que voou,
Que foi um rio, um ar, na tua vida.
E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra.
Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'rá vida.
Sabes que o desenho do adeus
É fogo que nos queima devagar,
E no lento cerrar dos olhos teus
Fica a esperança de um dia aqui voltar.
E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra.
Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'rá vida.
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It was the last one to leave. The last Erasmus (at least from "my" Erasmus) leaving my city this fall. Today I couldn't go to the station to say goodbye as I did with Reinder. 

Today I could not run to the station with suitcases in order to see someone I like in my city for a few seconds more. I confess that the trains lost that romantic thing, when we could see them leaving slowly, amid cries and prayers of those who stayed and those who left. Today the stops are of two minutes, any second longer. I felt it particularly in the skin when, in Reinder's farewell, I was forced to throw to the train a souvenir that I you would like to have offered him in hands, because the doors were already closing... 


But as I said, I this time I couldn't go to the station. However, you're wrong if you think that I didn't say goodbye to Johannes. Today I saw clearly seen my German old-fellow from the train station going to one of those steam trains, slowly, and saying goodbye with a tear of "saudade" [sorry, but there is no translation: saudade is saudade everywhere in the world] driping from the face and a white scarf leaning on the window. By that time came, I do not know exactly from where, the song "Coimbra tem mais encanto na hora da despedida" [something like "Coimbra is charmer in farewell time"] ... 


Johannes was the last one leaving Coimbra and, therefore, became for me and for lots of my friends, an "adopted Buddy". The farewell should be exciting... But there was one thing that I haven't preview in this farewell: the fact that he was the last one to leave.   


With the departure of Johannes it's not only him who leaves. Magda, Reinder, Folco, Josef, Yacine, Enrico leave Coimbra with him! And suddenly the city hibernates until the return of Erasmus people. Little do the new Erasmus people know that when they arrive to Coimbra, they are bringing me back a great group of people that they don't even know.
Until then I wait impatiently, feeling that part of me is spread throughout the world. Once again...


Sentes que um tempo acabou
Primavera de flor adormecida,
Qualquer coisa que não volta que voou,
Que foi um rio, um ar, na tua vida.
E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra.
Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'rá vida.
Sabes que o desenho do adeus
É fogo que nos queima devagar,
E no lento cerrar dos olhos teus
Fica a esperança de um dia aqui voltar.
E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra.
Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'rá vida.

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