quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ver-O-Peso - Belém do Pará, Parte 1


Esta selva anda demasiado quieta para o meu gosto. Nem de Nápoles, nem de Roterdão, nem de Barcelona, nem de Coimbra, nem de Trento, nem de Lisboa... nada! Regressemos, então, ao meu Brasil.

Desta vez não é, porém, até ao Rio de Janeiro que vamos viajar. Vamos até Belém, no estado do Pará, nas "Portas da Amazónia". Foi para lá que fui há já quase um mês...

Belém fica no Norte do Brasil. Do Rio de Janeiro até lá, com voo directo, são 3 horas e pouco de avião. É incrível como para viajar dentro de um mesmo país demoramos mais tempo do que a fazer uma ligação Lisboa-Paris ou Lisboa-Londres. Mas o Brasil é isto mesmo: um continente camuflado de país. Feita a introdução passemos, então, ao relato da viagem:

Fui para Belém com um amigo brasileiro. Já me tinha falado na cidade: que tinha amigos de lá e que já lá tinha ido duas vezes. Contou-me que a cidade ficava na Amazónia e bastante perto da linha do Equador. Que era incrível e que eu devia lá ir...

 Pirarucú - peixe do Amazonas que pode atingir 2 metros de comprimento


Passados uns dias, estava eu no facebook, aparece o meu amigo [chamado Caótico] e diz-me:
- Cara, está havendo um feirão da Gol (companhia aérea): há viagens baratas para Belém. Vamo? [sim, sem "s" no fim - estes cariocas adoram assassinar o português...].

E "fomo"!

Comecei por conhecer o Mercado Ver-O-Peso. É um dos mais tradicionais mercados brasileiros e é, também, o cartão postal de Belém. Foi construído em 1625 e situa-se na Baía do Guarajá. Fui com a Portuga e o Caótico até lá. Pensei que ele já conhecia bem o sítio. Antes de deixar o mercado acabou por me confessar:
"Já tinha vindo duas vezes a Belém e só tinha visto o mercado de longe... nunca aqui tinha entrado. Mal sabia o que aqui ia encontrar". [obviamente que o texto está traduzido para português de Portugal, visto eu ainda não ter aprendido a dar os erros nas conjugações verbais que me permitiriam reproduzir fielmente a oralidade do carioca].

 Senhora a descascar a bastante vendida castanha do Pará

E ele tinha razão. Por lá encontra-se um pouco de tudo: desde pirarucus até especiarias, passando por patos e galinhas vivos ou por artesanato índio. Mas passando também pelo açaí. E pelas toneladas de camarão que por lá se vendem. E pelas garrafinhas de "viagra natural". E pelos saquinhos de "amansa corno". E pelos bacuris. E pelas beribás. E pelas carambolas. E pelas graviolas. E pelas acerolas.  E pelos...


 Venda de camarão no Mercado Ver-O-Peso

Em suma: é um enorme mercado que se encontra às portas da amazónia e onde, por isso, podemos encontrar os nomes mais estranhos, os frutos mais incríveis e as pessoas mais genuínas que vi no Brasil. Não é fácil passear por um mercado sem ser constantemente abordado para comprar isto ou aquilo. Se não o é em Portugal muito menos o será no Brasil. E ainda menos se for um Português no Brasil...

Ali, porém, andava à vontade: de máquina em punho a aproveitar toda aquela confusão do aroma dos peixes misturado com a cor das frutas, com a beleza do artesanato, com o cheiro a fritos, ou tão simplesmente com os quadros das pimentas e malaguetas do Pará. Naquele mercado encontra-se tudo: encontra-se a vida do povo que vende, do povo que compra, do que apenas visita ou do que se perde por lá. Encontra-se a alegria ou a tristeza da vida que se leva, encontram-se histórias imensas e vidas incríveis por trás do olhar genuíno de cada Paraense.

Pimentas e malaguetas cujo nome verdadeiro desconheço - mas que ardem...!!!


Encontra-se um povo, uma terra, um estilo de vida. Um Brasil que não é o Rio. Um Brasil que é como é, que não se importa em esconder o que se esconde na grande metrópole. Encontra-se um outro modo de vida, um outro olhar sobre a vida.


Eu perdi-me por lá. Mas encontrei-me a mim.

8 comentários:

Mafalda Delgado disse...

Gostei muito Girão! :)

Beijinho

kafka disse...

Bem me parecia que tinha que te ameaçar para escreveres alguma coisa x)

Qero ver todas as fotos que tiras-te na Amazónia ! E parece-me que vamos ter assunto para todos os treinos até ao final da época :)

Titi disse...

girao?? quem e o girao que se fala no coment acima?? =P



quanto aos teus textos, ou tu passas ai momentos mesmo brutais ou tens mesmo uma arte brutal para escrever..

gostei deste post.. esta muito fixe.. na minha opiniao a melhor parte de conhecer um pais é quando o começamos a conhecer por dentro..

Mau disse...

De facto não sei quem é esse tal de "girão" ;)

Kafka, tenho de confessar que este post se deveu, em grande parte, à tua mensagem. Tenho andado muito atarefado (entre estudo, aulas, viagem a paraty, viagem a belém, subida ao pão de açúcar, visitas ao Centro, praia de Ipanema, praia do Leblon... ufufuf!!) e não me sobra muito tempo para o blog. Ainda para mais vejo que todos aqueles que sempre propuseram ajudar estão cada vez mais desligados disto - estive quase um mês sem fazer um post e NINGUÉM foi capaz de escrever uma linha que fosse.

Mas a tua mensagem fez-me perceber que ainda há pessoas que gostam disto, que vale a pena continuar a escrever estes textos não só por mim, como por vocês... e, acredita, haverá temas de sobra para os treinos até final da temporada! ;)

Mau disse...

Quanto à Mafalda: apesar de não saber quem seja esse tal de "girão" agradeço-te em nome dele :) só dás força ao cabeçalho do blog: "em qualquer altura, em qualquer lugar". É sempre bom receber um feedback de oklahoma! ;)

Mau disse...

Titi: ahah obrigado, mas acho que são mesmo os momentos que são brutais! Quanto a conhecer por dentro este país... acho que comecei a perceber que já o conhecia desde a primeira vez que poisei o pé em Terras de Vera Cruz. Foi amor à primeira vista, cara ;)

Asus disse...

Muito mas mesmo muito bom!

Kikas disse...

"Ainda para mais vejo que todos aqueles que sempre propuseram ajudar estão cada vez mais desligados disto - estive quase um mês sem fazer um post e NINGUÉM foi capaz de escrever uma linha que fosse."

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