segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Tiririca e... Portugal


Os brasileiros passam a vida a fazer piadas sobre os portugueses. Os portugueses são os burros: em Portugal fazem-se piadas sobre loiras (burras); aqui as piadas são exactamente as mesmas, mas trocam a palavra "loira" por "português". E, assim, todo o povo português fica com fama de burro...

Acontece que, agora, o mesmo povo brasileiro que chama burro ao povo português vota num palhaço (não no sentido pejorativo do termo) que é, ao que parece, analfabeto. Segundo consta, Tiririca não acabou o ensino primário. Como podemos ver no vídeo do final do post, precisou de ajuda do seu filho para ler as perguntas que lhe eram colocadas. E, mesmo assim, os brasileiros votaram nele.

Mas este post não é sobre Tiririca e o Brasil, mas sim sobre Tiririca e Portugal. Porque, de facto, eu acabo por concordar com esse estereótipo brasileiro em relação ao povo português. Obviamente que as generalizações são perigosas e, muitas vezes, insultuosas - será tema para post, mais tarde. Mas o que eu queria saber era o que vocês, selvagens, consideram uma atitude mais burra:

1) Votar no Tiririca sabendo à partida que ele não vai fazer nada e que é o simbolismo de todo o lixo político brasileiro. Elegê-lo como Deputado Federal sabendo que ele não apresenta nenhuma proposta séria para o período em que estará no cargo;

ou
2) Votar (segunda vez) num tal de José Sócrates para Primeiro Ministro sabendo que ele está associado ao caso freeport, à licenciatura marada, ao caso do apartamento de luxo comprado a preço módico, ao caso cova da beira, ao caso dos projectos Guarda/Covilhã, à «famiglia» mencionada como estando envolvida num caso de licenciamento público de um projecto privado - o freeport -, ao primo de shaolin, ao novo primo que também não está no país e é citado como intermediário no caso freeport, ao escandaloso silenciamento da redacção da TVI etc. etc. etc. e já tendo visto o que ele fez em 4 anos no cargo.

A minha opinião é simples: se no primeiro caso isto pode ser visto como um voto de protesto, no segundo não pode. Este protesto é, aliás, o argumento de muitos brasileiros. Não sei se sabem, mas aqui no Brasil é obrigatório votar:
"O eleitor que não votar nem justificar sua ausência nos prazos determinados pela Justiça Eleitoral incorrerá em multa imposta pelo Juiz Eleitoral. Sem a prova de que votou, pagou multa ou de que se justificou devidamente, não poderá o eleitor inscrever-se em concurso público, obter passaporte ou carteira de identidade, renovar matrícula em estabelecimentos de ensino oficial, obter empréstimos em estabelecimentos de crédito mantidos pelo governo, participar de concorrência e praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda. Se o eleitor deixar de votar em três eleições consecutivas, seu título será cancelado."

Assim, muitas vozes tenho ouvido (ou, melhor dizendo, muitas letras tenho lido) gritando que o voto obrigatório devia acabar. Que, não havendo alternativas sérias, o povo não devia ser obrigado a votar. E que, enquanto houver esta obrigatoriedade, o país ficará sujeito a estes votos de protesto, como acontece com o Tiririca.

Sejamos francos: alguém acredita que ele dará um bom deputado federal? Podemos, então, ver os paulistas que tão chingados são aqui no Rio de Janeiro, como os mártires do povo brasileiro: aqueles que preferem deixar o seu futuro nas mãos de um palhaço analfabeto, só para protestarem contra as alternativas existentes e contra a obrigatoriedade do voto.

Obviamente que isto é só uma interpretação das coisas. Muitas outras haverá - há, com certeza, quem ache que o povo paulista é tão burro que acha que o Tiririca é a melhor opção. A mim custa-me um pouco a acreditar...

Mas é aqui que entra a segunda alternativa: a alternativa José Sócrates. Mesmo sabendo tudo o que se sabe, mesmo tendo passado por tudo o que passou durante quatro dolorosos anos, o povo português vai às urnas eleger o mesmo inginheiro como Primeiro Ministro! Não há o voto obrigatório, não há essa justificativa de ser o mártir para provar que as alternativas são más (porque se assim fosse não o elegiam segunda vez)... será, talvez, por masoquismo. Ou por algo pior.

Em suma: Brasil e Tiririca, Portugal e José Sócrates - dois países tão diferentes e tão semelhantes. Resta saber quem merece mais as piadas da burrice. O voto no Tiririca é tão absurdo que a única lógica que vejo nele é aquela que expliquei em cima. Mas não se pode subestimar a burrice de um povo: a maior prova disso é que o Sócrates foi reeleito.

Fica, então, a dúvida. Tiririca como símbolo de um país. Resta saber se isso será bom ou mau...

Fica o vídeo do Tiririca:



PS: Parece que ainda por cima as mulheres fruta não foram eleitas. Agora é que me desiludiram, brasileiros: já que é para protestar mais valia ver as mulheres fruta na globo do que ver o Tiririca, né?!

12 comentários:

Anónimo disse...

o Brasil e fruto de Portugal,como poderia ser diferente?

João disse...

minha opinião mais sincera sobre esse tiririca affair é que, sendo essa lógica de protesto verdadeira, esse passa a ser um contestar da política dos mais cômodos de que já ouvi falar. se há menos de 30 anos saímos às ruas para o impeachment de um socrátes brasileiro (que, por sinal, quase conquista um lugar no segundo turno das eleições governamentais de alagoas, no nordeste), qual o sentido de elegermos esse palhaço como forma de protesto à política do país? façamos piadas sobre essa situação caótica da politicagem na esquina, no bar e não votemos em alguém que será piada em brasília.

enfim, eu acho mesmo que isso tudo é perfeitamente resumido com aquela votação do "quem foi o português mais importante da história?". espero que não tenhamos algo do gênero por aqui, pois já tenho medo de havermos tiricas no páreo...

Mau-r-à-dona disse...

Atenção, João: eu não digo que seja correcto. O que digo é que para mim continua a ser mais decepcionante ver um Sócrates a Primeiro Ministro que ver um Tiririca Deputado Federal.

E que, sendo aquela a justificação - má ou boa - é isso mesmo: uma justificação. Agora para o Sócrates não é tão fácil arranjar uma. A única - a que se usa sempre - é a velha coisa de que "não há alternativas, para quê mudar?". E assim se desvaloriza todo um comportamento criminoso com base na falta de alternativas decentes (mas que, pelo menos até ao momento, ainda não foram apanhadas em nenhum caso do género).

Não defendo o voto no Tiririca. Só digo que mais depressa votava nele do que no socas...

Mau-r-à-dona disse...

Mas, atenção, concordo contigo: este voto é uma junção de protesto com burrice e, quiçá, de desinteresse por parte do eleitor brasileiro...

E continuo na minha: Tiririca a 1ºM português!

Raphael disse...

É o velho dilema brasileiro: Político Palhaço ou Político Corrupto?

Eu sigo votando no primeiro...

Titi disse...

pronto eu ia para escrever mas ja nem sei o que porque vi o toscano a falhar um golo claro de baliza aberta =O...



falando agora do teu post.. eu acho mesmo que nao ha alternativas viaveis ao socrates. nao concordo com muitas das suas medidas, mas tambem acho que nenhum outro candidato teria coragem para tomar medidas necessarias como as que ele ja tomou, como é exemplo o encerramento das escolas. o que acho tambem é que ele é um homem inteligente mas demasiado corrupto para ser serio, mas olhando para o principal opositor apenas vejo um homem com cara de borlao e com uma aparencia que nao transparece confiança.

quanto ao tiririca acho que aquilo não é protesto nenhum. parece mais que os brasileiros encararam a campanha eleitoral como se ele estivesse a vender televisoes. nao como uma eleiçao mas como apenas markting e publicidade.

por fim, acho que o voto obrigatorio tem muita coisa boa. acho que tem o poder de responsabilizar o povo, uma vez que assim todos votam e escolhem quem o povo entende. ao contrario de portugal onde ha sempre 50 e 60% de abstençao nos sufragios. que moral têm as pessoas para se queixar se elas não votam?!

Asus disse...

Por causa de ti e de outros como tu é que o país está como está titi. Porque a ferreira leite era velha e feia e este é um corrupto engravatado vota-se no corrupto.

Porque o passos tem ar de vigarista e este é corrupto mas sem ar disso, vota-se no corrupto.

Porque é muito bonito fechar as escolas desde que não sejas tu a sofrer com isso. Sair de casa às 5 da manha em transportes publicos por entre serras e montes para se chegar a escola com alunos da primaria é muito bom porque se poupa dinheiro.

Porque marrar com os professores só porque são uma classe na qual fica bem bater nao apresentando nenhum metodo de avaliaçao coerente também é muito bom.

Pois agora espero que estes impostos te façam muito bem, sinceramente!

Perdoa-me a frontalidade mas foi argumentação à tiririca.

Para além de que o voto obrigatório é muito bom. mas se calhar estás a esquecer-te da realidade brasileira...

Titi disse...

primeiro para que saibas eu sou uma pessoa que demora talvez mais de uma hora a fazer o percurso de casa até a minha universidade e o mesmo ja acontece desde o meu 5º ano de escolaridade asus. Mas talvez seja mais por causa de pessoas como tu que o pais esta como esta. porque não há coragem de agir. és o tipico portugues! se ao agir se pode errar então vamos deixar tudo como está!

eu acho que é muito correcto sim fechar as escolas. mais vale ter uma escola grande com 200 alunos do que 20 escolas com 10 alunos, porque aglomerando os alunos numa so escola o montante destinado a educação é dividido por um menor número de escolas e assim conseguem-se melhorar as condições de ensino. se cada uma das 20 escolas recebesse 100€ isso não daria para nada, agora se a escola com o tal aglomerado de alunos recebesse o total do montante (2000€) certamente que ja dá para muita coisa. Mas não, é muito melhor ter uma escolinha do outro lado da rua em que se conhece o professor e se passa sem saber escrever correctamente.

quanto aos professores, eu acho muito bem que sejam avaliados, mas de uma forma justa. se até a minha mae que trabalha na recepção de um piscina municipal o é porque é que eles não devem ser?? eu acho é que não deve ser pelos alunos ou pelos pais deles, ou melhor, não exclusivamente, nem que eles mal tenham tempo para preparar as aulas por terem de preencher um sem fim de burucracias. não quero que se bata em ninguém nem se marginalize ninguém. acho que os professores são fundamentais para o crescimento do país.

por fim, eu não votei na manuela não foi po ela ter rugas e nao ter um decote de fazer cair o queixo, foi por ela ser um vazio de ideias e acções, na minha opinião. tal como me parece que o partido que ela representa me parecer mais o partido das guerrinhas e das intrigas. (eu sou apartidário)

eu votei no que achei que seria melhor para todos nós, não voto na fotografia de ninguém. Por exemplo, votei no nosso actual presidente da camara de coimbra porque acho que tem feito um grande trabalho e que tem boas propostas para o municipio.

eu falei no voto quanto a nossa realidade, não conheçoa realidade brasileira.

Mau disse...

Presumo, então, que tenhas votado no sócrates: esse sim não é um vazio de ideias. É isso não é?

Quanto ao argumento da hora de distância para ti que és de coimbra... não é bem a mesma coisa que um pastorzinho da serra.

E aquela coisa da avaliação: "avaliação sim, esta não". Era o que diziam os professores. Portanto não entendo o teu argumento: o grande mal era AQUELA avaliação e o governo teimava em mantê-la.

No global acabo por concordar com o comentário do asus: mais nas ideias do que na forma, ao dirigir esse mal à tua pessoa. Mas concordo com as ideias dele (globalmente).

Titi disse...

eu nunca voto em ninguém por essa pessoa ser bonita, feia, gorda, magra ou por ter ou não os dentes direitos. simplesmente achei que a manuela se limitava a dizer o que estava mal, mas isso toda a gente ve, ela não apresentava propostas de resoluções. tenho pena que o considerei ser o melhor candidato seja um homem assim, mas se é o que temos o que posso fazer?? não vou ser mais um na abstenção, ao menos voto no que considero o melhor para o pais dentro do que nos é oferecido.

quanto aos pastorzinhos não consigo entender. acho que nas idades que estamos a falar não existe grande diferença de mentalidades. não me parece que seja po eu ter passado o tempo a jogar a bola e eles a guardar gado que isso va alterar o que quer que seja. se alguma diferença existir é o facto de eles serem mais responsaveis por serem obrigados a crescer mais rapido. a mim nunca me levaram pela mao até passar o portao da escola, eu ia sozinho de autocarro. só lhes vai acontecer o que me aconteceu a mim. com 10 anos também nunca tinha andado sozinho e autocarro e não acho de todo que isso tenha sido prejudicial para mim.

quanto aos professores eu estou de acordo contigo. eu sempre disse isso. pareceu-me é que o asus não quisesse que os professores fossem avaliados. o bem que uma boa avaliação fazia nos nossos professores universitarios......

Asus disse...

"Porque marrar com os professores só porque são uma classe na qual fica bem bater nao apresentando nenhum metodo de avaliaçao coerente também é muito bom."

Sublinho: "metodo de avaliaçao coerente". Como podes, então, presumir que não queria avaliação?

E olha, titi, nem tu nem eu sabemos o que é viver numa serra onde tens de andar a trabalhar durante o dia. E não é a mesma coisa ir de autocarro aos 10 anos ou ir de carreira aos 6 com pais que querem mais é que tu trabalhes. Para esses o encerramento da escola representa o fim das suas oportunidades de ensino. Acho que não estás a ver bem a sociedade do interior de portugal, não estás a prestar atenção a isso...

Titi disse...

apenas não interpretei bem a tua frase.

eu entendo esses casos extremos, mas eles são mesmo isso: extremos! 99% das manifestações contra o encerramento de uma determinada escola que foram noticia localizavam-se em aldeias na periferia de cidade com um certo grau de desenvolvimento (claro que não como coimbra, lisboa ou porto). vais dizer agora que se esses pastores não querem os filhos na escola não vao reclamar que ela feche, mas um dos aspectos tomados em conta no encerramento das escola era a distância a que se encontrava a escola mais proxima. é certo que vão haver sempre casos que falharam, mas isso existe em qualquer lugar do mundo.

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