Tal como muitas séries de animação feitas para crianças muito jovens, os Tubbies são dotados de um poder hipnótico: impossível parar/deixar de ver. No entanto estes bonecos parecem a antítese perfeita de séries televisivas e bds, como por exemplo, Dragon Ball ou Pokémons (nos japoneses), Super Homem ou Power Rangers ou ainda Transformers ou mesmo Asterix e Obelix (que não têm normas de conduta mas andam à pancada, não são democratas, zurzem nos romanos, embebedam-se e não são politicamente correctos).
Nada disto se passa no universo esterilizado dos Teletubbies. Estes bonecos têm formas redondas e ternas, riem constantemente e exprimem-se por risinhos e gritos “abebezados”. São completamente desprovidos de maldade (inocentes como bébés), as suas acções são inconsequentes e habitam um mundo de felicidade. Em suma, são perfeitamente inócuos. Onde poderá residir, então, o seu poder de atracção?
Nada disto se passa no universo esterilizado dos Teletubbies. Estes bonecos têm formas redondas e ternas, riem constantemente e exprimem-se por risinhos e gritos “abebezados”. São completamente desprovidos de maldade (inocentes como bébés), as suas acções são inconsequentes e habitam um mundo de felicidade. Em suma, são perfeitamente inócuos. Onde poderá residir, então, o seu poder de atracção?
TELE-TRANSE
Há algumas mensagens subliminares na série, a qual revela uma elaboração que não se adivinha à primeira vista. Lala, Tinky Winky, Dipsy e Po exprimem-se por balbucios delicodoces – ahh, uhh, ohh -, exclamações a propósito de tudo e de nada. O espectador não tem que reflectir: assiste. As situações repetem-se, episódio após episódio e várias vezes durante o mesmo. Mas o que se repete? Nada. Não se passa nada: uma volta de lá para cá, um passeio ao sol, uma exclamação (ohhh), uma gargalhada. Os Teletubbies foram feitos para serem repetitivos, de modo a captarem a atenção da criança pelo transe hipnótico, reforçado pelos efeitos sonoros específicos.
Não se pretende a criança acordada, mas mantê-la numa espécie de transe que prolonga o sono. Assim, ela fica embalada, em letargia, pronta a levar… A série é pensada para as seis, sete da manhã (há até testemunhos credíveis que juram ter visto episódios dos Tubbies às 5.30), enquanto a mãe prepara o pequeno-almoço e se apressa para levar os petizes ao jardim de infância, na primeira escala antes do emprego. Os episódios são curtos, minimalistas, de argumento zero. Podem interromper-se a qualquer momento e não suscitam tantos protestos da criança como aconteceria se estivesse a dar os Pokemons (longos, pesados, são próprios de fins de tarde ou de compactos fins de semana).
Não se pretende a criança acordada, mas mantê-la numa espécie de transe que prolonga o sono. Assim, ela fica embalada, em letargia, pronta a levar… A série é pensada para as seis, sete da manhã (há até testemunhos credíveis que juram ter visto episódios dos Tubbies às 5.30), enquanto a mãe prepara o pequeno-almoço e se apressa para levar os petizes ao jardim de infância, na primeira escala antes do emprego. Os episódios são curtos, minimalistas, de argumento zero. Podem interromper-se a qualquer momento e não suscitam tantos protestos da criança como aconteceria se estivesse a dar os Pokemons (longos, pesados, são próprios de fins de tarde ou de compactos fins de semana).
CYBORGUES INFANTIS
Não se sabe em que tempo decorre a acção, mas o universo Hi-fi da série faz-nos pensar num futuro Mad Max em versão cor-de-rosa. O mundo dos Tubbies aproxima-se dos cenários pós-apocalípticos da ficção científica. São montes e vales de alcatifas verdejantes, campos de golf artificiais, como todos os campos de golf. Po e os seus três amigos, vivem em bunkers em forma de iglos sem janelas e com respiradouros. Há flores de plástico que suscitam a ideia de que a flora é quase inexistente. A fauna está reduzida aos coelhos (os únicos elementos aparentemente biológicos, que provavelmente se alimentam de cenouras de plástico, e que seriam uma mutação dos coelhos originais).
Os Tubbies têm formas redondas que inspiram ternura. São cyborgs com caras de Etês e transportam TVês nos corpos, o que nos remete para uma época ficcional, cibernética, onde os seres existentes estariam a meio caminho entre o homem (ou o animal) e a máquina (Robocop, Transformers, Blade Runner, etc).
São acordados bem cedinho em cada episódio por Ed, o sol-bébé. Ed é muito expressivo, ri e espanta-se com as peripécias de Lala e companhia. É ele que inaugura a vida, a qual, é exclusivamente diurna e solar. Os Tubbies não vivem de noite e deitam-se quando Ed se retira. Eles são o oposto de um herói nocturno como Batman, por exemplo.
Os Tubbies têm formas redondas que inspiram ternura. São cyborgs com caras de Etês e transportam TVês nos corpos, o que nos remete para uma época ficcional, cibernética, onde os seres existentes estariam a meio caminho entre o homem (ou o animal) e a máquina (Robocop, Transformers, Blade Runner, etc).
São acordados bem cedinho em cada episódio por Ed, o sol-bébé. Ed é muito expressivo, ri e espanta-se com as peripécias de Lala e companhia. É ele que inaugura a vida, a qual, é exclusivamente diurna e solar. Os Tubbies não vivem de noite e deitam-se quando Ed se retira. Eles são o oposto de um herói nocturno como Batman, por exemplo.
MACHOS E FÊMEAS
Não entrando em consideração com aspectos relativos à personalidade de cada boneco, é de assinalar o simbolismo dos objectos de Tinky Winky: um triângulo (símbolo feminino ou gay) e uma mala vermelha, o que valeu à série acusações de passar uma mensagem homossexual subliminar. Quais são os machos e as fêmeas? Que tipo de símbolos usam Lala e Poo, masculinos ou femininos?
Os nossos amiguinhos são deliberadamente ambíguos e misturam as suas personalidades masculina e feminina. A imensa hermenêutica que se tem produzido sobre a série, divide-se, relativamente às vantagens ou desvantagens desta ambiguidade sexual. Para os conservadores, eles são uma perigosa ameaça, ao misturarem os estereótipos masculino/feminino nas cabeças dos seus jovens apreciadores; para os liberais, são verdadeiros heróis pós modernos, já que propõem à criança um universo sem fronteiras – sociais, sexuais e outras -, de respeito pelo outro e de acolhimento da diversidade. Para a criança Nova Yorquina que frequenta o jardim de infância com um colega de cor, um outro árabe e um terceiro que tem duas mães em vez de um pai e uma mãe, os Tubbies dão uma certa segurança. Eles são urbanos, globais, multiculturais. Não é por acaso que Tinky-Winky se transformou num poderoso ícone gay.
Os nossos amiguinhos são deliberadamente ambíguos e misturam as suas personalidades masculina e feminina. A imensa hermenêutica que se tem produzido sobre a série, divide-se, relativamente às vantagens ou desvantagens desta ambiguidade sexual. Para os conservadores, eles são uma perigosa ameaça, ao misturarem os estereótipos masculino/feminino nas cabeças dos seus jovens apreciadores; para os liberais, são verdadeiros heróis pós modernos, já que propõem à criança um universo sem fronteiras – sociais, sexuais e outras -, de respeito pelo outro e de acolhimento da diversidade. Para a criança Nova Yorquina que frequenta o jardim de infância com um colega de cor, um outro árabe e um terceiro que tem duas mães em vez de um pai e uma mãe, os Tubbies dão uma certa segurança. Eles são urbanos, globais, multiculturais. Não é por acaso que Tinky-Winky se transformou num poderoso ícone gay.
PÓS-APOCALÍPTICOS E PRÉ-MANIQUEÍSTAS
Um outro aspecto subliminar da série é a sua apologia da não-violência. O mal não existe, nem a guerra, nem as catástrofes naturais, nem a doença... Os Tubbies dão à criança a sugestão de um universo light, sem maus nem perigos. Eles são pré-maniqueístas, já que só existem bons sem maus. Em Favourite Things, um dos episódios da série, desaparecem os brinquedos dos Tubbies: primeiro a bola de Lala (personagem feminina e brinquedo masculino…), depois a mala de Tinky-Winky (again…), depois os dos outros, para reaparecerem, invariavelmente, em cima da mesma árvore. Há aqui um provável vilão oculto que perturba a ordem do mundo, mas os tubbies nunca se perguntam quem é que anda a esconder-lhes os brinquedos. Procuram-nos, simplesmente, e encontram-nos sempre na mesma árvore. Não que sejam estúpidos – eles são, sobretudo, inocentes. Não se preocupam em saber quem os lá pôs nem como. O que importa é repor a harmonia inicial e, uma vez conseguida, tudo está bem.
Compare-se com as séries em que só importa castigar os super-vilões… Compare-se com o universo Manga, Dc Comics (Super Man, Batman, etc) ou Marvel Comics (Hulk, Spider Man, X Man…), em que os vilões são poderosíssimos e ameaçam todo o planeta, quando não a galáxia ou mesmo o universo… Em Favourite Things, pelo contrário, foram simplesmente os brinquedos que desapareceram e, uma vez encontrados, volta o reino da felicidade. Este é um mundo sem maldade nem maus, sem vinganças nem guerras, que admite, quando muito, brincalhões ocultos que brincam às escondidas com as personagens da série. É o mundo maravilhoso da brincadeira. Às vezes eu também gostava de viver num mundo assim. Ou talvez não, que sei eu?
Compare-se com as séries em que só importa castigar os super-vilões… Compare-se com o universo Manga, Dc Comics (Super Man, Batman, etc) ou Marvel Comics (Hulk, Spider Man, X Man…), em que os vilões são poderosíssimos e ameaçam todo o planeta, quando não a galáxia ou mesmo o universo… Em Favourite Things, pelo contrário, foram simplesmente os brinquedos que desapareceram e, uma vez encontrados, volta o reino da felicidade. Este é um mundo sem maldade nem maus, sem vinganças nem guerras, que admite, quando muito, brincalhões ocultos que brincam às escondidas com as personagens da série. É o mundo maravilhoso da brincadeira. Às vezes eu também gostava de viver num mundo assim. Ou talvez não, que sei eu?
Texto retirado do Tapornumporco
2 comentários:
É um texto que merece a nossa atenção. Merecia ser publicado fora do Mundial, mas mais vale publicar agora do que esquecer-me de o fazer.
A análise está muito boa e acho que permite olhar para as coisas de outro modo.
Aconselho a todos que o leiam... caso queiram, claro ;)
Análise fantástica, sobre algo que para a maioria pouco há a dizer.
Até eu, pelo meio do meu zapping, ainda sou capaz de ficar mais de 30 segundos a ver o Baby Tv. Torna-se interessante comparar aquilo a que se tinha acesso em 1992/93 (com os meus 2/3 anos) e aquilo que está "à disposição" de uma criança dessa faixa etária. A questão que fica é: será que agora se está em vantagem relativamente ao "nosso tempo"? Até que ponto se poderia aproveitar melhor o fascínio das crianças por esse gadget que tem presença assídua ou mesmo diária na casa de cada um?
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