Ao olhar para o novo Governo, conhecido no dia de ontem, há algo que me salta à vista: a ausência, em termos gerais, dos políticos de profissão, dos tradicionais cola-cartazes que nos têm representado durante os últimos anos. São pessoas de mérito nas respectivas áreas e isso é algo bastante importante. Até pode vir a revelar-se um desastre, mas parece-me um ponto bastante positivo - e é, confesso, uma surpresa para mim.
Mas passo, agora, à análise do ministro de uma das pastas mais polémicas dos últimos anos: Nuno Crato, novo ministro da Educação. E faço-o porque o considero o retrato da passagem de testemunho. Senão reparem: nos últimos anos Portugal tem evoluído bastante em termos estatísticos na área da Educação. De súbito, os portugueses - que eram péssimos a Matemática - passaram a ter óptimas notas, a quantidade de alunos no Ensino Superior disparou, o número de pessoas com formação também. Criaram-se as Novas Oportunidades, baixou-se o nível de exigência e, milagre, Portugal cresceu bastante nos indicadores que à Educação dizem respeito.
Obviamente que tudo isso é pura fachada. Mas isso era a imagem de um Governo que tinha como Primeiro-Ministro alguém que concluiu uma licenciatura a um Domingo. O que interessava era a imagem, era melhorar nos indicadores externos, subir nos rankings. Era a época do facilitismo. Agora, pelo menos se Nuno Crato aplicar o que sugere no vídeo em baixo, a conversa é outra.
O ministro da Educação defende a exigência como factor central no ensino em Portugal. Defende que os exames não devem ser realizados por uma instituição ligada ao Ministério da Educação, caso contrário estarão a ser realizados pelo organismo que se pretende avaliar. Defende, portanto, o fim da governação das aparências, dos rankings, da fachada, do facilitismo.
Mas há um grave problema nisto tudo e é precisamente por isso que escrevo este texto: é que Portugal vai ser visto, novamente, como um país em recessão ao nível da educação. Não tenho dúvidas de que com mais exigência haverá menos licenciados, de que sem as Novas Oportunidades haverá menos gente com o 12º ano. Isso será reflectido nos indicadores, nas estatísticas e nos rankings. E, provavelmente, será usado daqui a uns anos contra este governo.
Por isso mesmo o escrevo aqui hoje: prefiro um país com menos licenciados mas com gente que tenha capacidade para o ser, do que o país da fachada e do facilitismo que tem sido nos últimos anos. Há que formar, sim, mas há que formar BEM.
PS: espero que Nuno Crato se lembre de que para exigir nos exames é necessário ter a mesma exigência para com o seu próprio ministério. Os programas actuais de algumas disciplinas são irreais. Mais vale aprender menos e aprender bem, do que criar um programa tão extenso que será impossível de cumprir. Os exames são importantes, sim, mas não creio que esse seja o primeiro passo.
Que se adeqúem os programas, que se revejam os métodos, que se avaliem os professores - não sei até que ponto será exequível a avaliação com base na evolução das notas dos alunos - e que, aí sim, se exija mais nos exames. Porque, sempre o defendi, o professor exigente não é o que dá más notas: é o que exige aquilo que ensina aos seus alunos. A grande tarefa deste ministro será, primeiro que tudo, conseguir reformular os programas para que possa ser exigido aquilo que de facto é possível ensinar no limitado tempo que se tem disponível.