Como devem saber, um dos nossos deveres quando fazemos 18 anos é o de ir à chamada "Defesa Nacional". O nosso serviço militar fica cumprido passado um exorbitante período. Não é um ano, não são vários anos, não é uma década é, isso sim, um... DIA! E o Dia da Defesa Nacional consiste no seguinte: às 7 da manhã metemo-nos num autocarro, passamos um dia no meio dos tropas e ás 7 da tarde já temos o serviço militar cumprido.
Na terça-feira lá acordei eu às 6 da matina e às 7 já estava dentro do autocarro, pronto para partir para a base militar de Santa Margarida. A viagem foi bastante divertida graças à companhia de alguns amigos. Um deles, o Maldini, era repetente no cumprimento do seu serviço militar. Se pensam que o Maldini estava a repetir a dose porque tinha gostado da tropa estão muito enganados! O Maldini acordou dois dias seguidos às 6 da manhã para cumprir o seu dever militar porque não tem respeito pela Pátria e pelos seus símbolos!
Este meu amigo, que serviu de guia durante a viagem por já saber de cor o caminho para a base, foi punido devido a uma contraordenação muito grave cuja sanção poderia ir desde a cassação da sua cédula militar até à acumulação da cassação com uma coima cujo valor poderia ir dos 250 ao 1250 euros. Ah, é verdade... foi-lhe, depois, comunicado que poderia ser PRESO!
Certamente que vocês se questionarão sobre qual o motivo para tanto castigo. O Maldini não matou, não violou, nem assaltou ninguém. Fez pior. Também não é nenhum corrupto. Muito pior que isso: o Maldini riu-se do hastear da bandeira da nossa querida e bem-amada pátria!
Todos os que iam naqueles autocarros já conheciam os poderes do hastear da bandeira. Há anos que ouvimos falar desse momento como o auge do dia. O momento em que ninguém consegue evitar umas gargalhadas. Mas eis-nos, agora, perante a ameaça: o caso do Maldini. Podíamos ser punidos por ceder aos nossos instintos. Todos nós estávamos aterrorizados com a ideia de ter de passar por este dia 2 vezes...
Mas já lá vamos. Mal chegámos ao nosso destino desembarcámos desordenadamente com alguns militares mal encarados a olhar para nós. Mal pusemos o pé no chão começámos a ouvir o alferes Nãoseiquê a ordenar que fizéssemos 4 filas à frente dum poste enorme onde toda a gente adivinhou que ia subir a bandeira nacional.
Colocados em sentido, todos os presentes olharam o poste despido. À nossa esquerda tínhamos quatro militares com umas fardas ridículas e umas espadas enormes que se mexiam em conjunto sempre que um grito forte de "Areeee- OOOOHHH!" soava pela zona. A cena era caricata. Começavam a surgir as primeira "bocas" e fungadelas. Por essa altura ecoava na nossa cabeça o caso-Maldini...
Mas o pior foi quando apareceram 2 soldados a marchar sem que ninguém percebesse muito bem de onde tinham eles surgido. Iam lado a lado, muito direitos e um deles levava uma espécie de tabuleiro na mão. Logo percebemos o que o tabuleiro continha a bandeira.
Assim, numa clara demonstraçao de economia de esforço, em dos soldados levava a bandeira e o outro atava-a e içava-a. Era a lógica do "seu um homem ata bem uma bandeira, dois homens atam-na muito melhor". Por esta altura já muitos dos meus colegas tinham lágrimas nos olhos e não conseguíam aguentar a vontade de rir. O sofrimento era evidente, mas o pior ainda estava para vir...
O soldado começou a içar a bandeira. Durante a subida esta chiava por todos os lados. Neste momento todos tentavam pensar nas piores coisas de que se lembrassem de forma a controlar a vontade de rir. Confesso-vos que só aguentei porque me pus a pensar nas palestras do grande Dad-gar ou nos treinos do Andrew Lagger...
Mas o pior foi quando o corneteiro começou a "tocar" desafinando o mais que podia, certamente com o objectivo de nos fazer rir para conseguir caçar umas multas! Por esta altura já alguns choravam, outros davam enormes gargalhadas e uns poucos quase rebolavam no chão... Só os mais fortes resistiam. Heróis, digo-vos eu! Os militares olhavam os resistentes com ar prazeroso. Era visível o esforço que eles faziam. A única maneira, digo eu, de evitar que o esforço que nos permitiu aguentar até ali fosse desperdiçado era fechar os olhos e espetar as unhas com força no nosso próprio corpo, para que a dor suplantasse a vontade de rir!
Vejam se não tenho razão:
Quando tudo isto acabou pensámos que estávamos safos e foi visível o alívio na cara dos presentes.
Portugal assegura-se, assim, de que só os heróis servirão a Pátria. Saí daquele sítio com a sensação de missão cumprida: tínhamos respeitado a Pátria e resistido à prova de fogo!
Pensávamos que o pior tinha passado... Mal sabíamos que também íamos ter de assistir ao arriar da bandeira... mas isso fica para outra altura ;)